Informações desta terça (4) estão em painel com dados da rede pública. São 143 solicitações ativas de UTI e 122 pedidos de enfermaria. Infectologistas do estado e Sindicato dos Médicos relatam drama.
A epidemia de gripe associada à pandemia de Covid-19 está provocando a saturação na rede pública de saúde de Pernambuco. De acordo com dados de segunda (3) divulgados nesta terça (4), havia 265 pessoas com doenças respiratórias graves aguardando vagas de UTI e de enfermaria.
As informações estão em um painel público que apresenta os dados de leitos da rede pública de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no estado.
Segundo dados do painel desta nesta terça, o número solicitações ativas de leitos de UTI em Pernambuco era de 143, sendo 138 de adultos e cinco de crianças. Também havia 122 pedidos por vagas em enfermarias, 115 para maiores de idade e sete para o público infantil.
“Combatemos hemorragia com band-aid”, disse o infectologista Felipe Prohaska, da equipe do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, na área central do Recife.
De acordo com o infectologista, a solicitação ativa de leitos significa que foi pedida a vaga, mas o paciente não tinha sido contemplado pelo leito até o registro.
A falta de vagas chegou a ser maior, no fim de dezembro de 2021. No dia 30, o número de solicitações ativas de leitos de UTI para doenças respiratórias graves ficou em 160.
O infectologista Felipe Prohaska, da equipe do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Recife, relatou que uma paciente que deu entrada no Hospital João Murilo, em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, recebeu da central de regulação de leitos, na segunda (3), a ficha número 162.
Felipe Prohaska é infectologista e recomenda tirar a barba para evitar contágio por coronavírus — Foto: Reprodução/TV Globo
O desafio para profissionais de saúde e autoridades se agrava a cada dia. Também no dia 30 de dezembro de 2021, o secretário estadual de Saúde, André Longo, afirmou que o estado vivia uma “epidemia de H3N2 dentro da pandemia de Covid-19”.
Na segunda, o governo mudou o protocolo de atendimento e disse que quem tiver exame negativo para Covid-19, é orientado a procurar um médico e passar sete dias em casa.
Até a segunda, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), tinham sido registrados 5.253 casos de influenza, com 30 mortes.
Pacientes enfrentam didficuldade para conseguir atendimento na rede pública de saúde por causa da alta de gripe associada aos casos d Covid-19 — Foto: Reprodução/TV Globo
O Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE) contabilizou 2.787 amostras laboratoriais positivas, sendo 19 novos óbitos.
Dos 5.253 casos, 5.226 são de influenza A (H3N2) e 27 influenza A não subtipada. Do total de registros, até a segunda, 371 (7,1%) apresentaram Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag).
Só no Recife, o boletim de segunda apontava o registro de 2.138 casos de influenza subtipo A (H3N2) e 14 mortes. No sábado (1º), eram 1.968 casos de influenza subtipo A (H3N2), e 11 óbitos.
Análise
Diante da situação, o g1 procurou infectologistas para analisar o problema provocado pela mistura de casos de gripe e Covid-19.
Além de Felipe Prohaska, a reportagem falou com Bruno Ishigami, também é da equipe do Hospital Universitário Oswaldo Cruz. Os dois foram enfáticos ao dizer que o problema está se agravando.
“A central de leitos teve que criar o escore de pacientes para fazer a triagem, para saber quem tem a prioridade de atendimento”, declarou Ishigami.
Além das filas de UTI, o estado tem, atualmente, uma espera média de dois dias para o paciente conseguir essa vaga, mas esse tempo pode chegar até mais de uma semana. Para quem precisa de atendimento em emergências, a demora é de cerca de seis horas.
O infectologista afirmou que o quadro vem se agravando nos últimos dias por causa do período de festas, em que as pessoas reduziram o uso de máscaras e o distanciamento social.
Há , ainda, o fato de serem dois vírus diferentes em circulação, mesmo com o avanço da vacinação contra a Covid-19.
“A Covid inflama o pulmão e as características surgem principalmente a partir do sexto dia após a infecção. A gripe traz os problemas no segundo dia. Ainda tem a possibilidade de associação dos dois vírus”, comentou.
Médico infectologista Bruno Ishigami acredita que situação complicada na rede pública de saúde vai se agravar ainda mais — Foto: Reprodução/TV Globo
Bruno Ishigami aponta também que a cepa da Influenza que entrou no Brasil este ano é mais agressiva do que em outras oportunidades. Esses casos de Influenza estão refletindo na ocupação dos leitos de UTI da rede pública, já que as pessoas apresentam os sintomas fortes.
“A maior parte das pessoas que estão chegando ao serviço público de saúde tiveram teste negativo para Covid e tem doença respiratória. O problema agora é que tem que dividir os leitos, já que não podemos misturar os pacientes. Tem que ter área para Covid e outra para quem está com doença respiratória e pode ser influenza”, comentou.
Ishigami disse, ainda, que o problema da espera por vagas de UTI está durando, em média, dois dias, mas pode chegar até mais de uma semana. “Teve relato de paciente da Maternidade Barros Lima, no Recife, que esperou UTI por oito dias”, afirmou. A previsão do especialista é de piora nesse quadro já complicado.
“Os casos tendem se agravar no sétimo dia. Tivemos as festas de fim de ano. Acredito que as próximas semanas serão bem pesadas”, declarou.
Perigo
O drama da espera por atendimento também é relatado pela presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Cláudia Beatriz Andrade.
“O tempo de espera nas emergências está enorme, a depender da classificação, porque quem chega grave entra logo. A espera está superior a cinco ou seis horas em algumas UPAs [Unidades de Pronto Atendimento]”.
A sindicalista disse que esse caos nas unidades tem provocado graves problemas diante do acirramento dos ânimos dos pacientes e acompanhantes.
“Temos casos de agressões a equipes médicas, como a violência física que houve na UPA dos Torrões, no Recife, violência verbal em Caruaru, no Agreste, e até registro de ameaça com arma de fogo”, declarou.
Cláudia Andrade afirmou que a entidade vem cobrando do estado e das prefeituras providência de mais segurança e policiamento ostensivo para organizar as filas, além de aumentar o número de profissionais para diminuir a espera.
“A gente não aguenta mais dar dez horas de plantão sem um descanso, sem conseguir ir ao banheiro”, desabafou.
A presidente do Simepe disse, ainda, que os profissionais estão exaustos. “Ficamos dois anos sem férias e, quando a gente pensava que ia ter um suspiro, porque as férias foram liberadas, vem uma nova infecção”, disse, se referindo à epidemia de gripe.
Segundo ela, há também um problema de defasagem de escalas de plantão na rede pública estadual. Andrade relatou que as UPAs e os grandes hospitais do estado, como o Getúlio Vargas e Restauração, estão lotados. Além disso, o grupo de médicos formado por mulheres gestantes e lactantes, bem como os maiores de 70 anos, está afastado por causa da pandemia e da gripe.
“Nosso grupo de risco mantém-se afastado e a linha de frente permanece a mesma. O exército é o mesmo, mas muito mais cansado”, afirmou.
Cláudia Andrade afirmou que, na última semana, houve “um congestionamento muito grande” na Central de Leitos. “Teve dia que a espera de um médico para regular um paciente, sem ser para UTI, foi de duas horas, somente escutando musiquinha no telefone”, declarou.
Por experiência própria, a médica vem sentindo na pele o drama da superlotação da maternidade onde trabalha.
“Na madrugada de hoje [terça], de todos os casos que atendi, mais de 80% tinham sintomas respiratórios. Fiquei mais de 45 minutos numa ligação aguardando ser regulada e não consegui, minha colega assumiu e não sei quanto tempo depois ela conseguiu a transferência. Estamos vivendo uma nova onda de casos de sintomas respiratórios”, acrescentou.
Estado
Por meio de nota, a secretaria afirmou que divulga diariamente dados relativos à ocupação de leitos para o acompanhamento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), nas redes pública e privada.
“É importante afirmar que a lista é muito dinâmica pois a quantidade de leitos vagos se renova a todo momento, devido às altas médicas, óbitos e a abertura de novas vagas. Nesse sentido, a Central Estadual de Regulação de Leitos tem atendido a todas as demandas que estão chegando, sempre levando em consideração as necessidades de cada paciente, dentro do giro diário de leitos”, disse o comunicado.
Ainda segundo a secretaria, a “priorização das transferências é realizada a partir da discussão técnica entre o médico solicitante e o médico regulador, levando em consideração, primeiramente, a gravidade do caso, a estrutura disponível e a qualidade do suporte clínico nas unidades de saúde onde cada paciente se encontra”.
Leitos
Nesta terça, o governo divulgou que abriu, entre os dias 24 de dezembro de 2021 e esta terça, 329 vagas na rede estadual de Saúde. Desse total, 119 são de Terapia Intensiva (UTI). Atualmente, Pernambuco conta com 1.646 leitos, sendo 845 de UTI.
Mortes
Entre as 30 mortes por A H3N2 confirmadas pelo estado, 13 são de homens e 17 de mulheres.
Os pacientes eram residentes do Recife (17), Palmares (3), Ipojuca (2), Jaboatão dos Guararapes (2), São Lourenço da Mata (2), Goiana (1), Olinda (1), Sirinhaém (1), Tracunhaém (1).
As idades dos pacientes variam entre 1 e 92 anos. As faixas etárias são: 1 a 9 (1), 10 a 19 (1), 20 a 29 (1), 30 a 39 (3), 40 a 49 (2), 50 a 59 (4) e 60 e mais (18).
Os pacientes apresentavam comorbidades e possuíam fatores de risco para complicação por influenza como diabetes, doença cardiovascular, doença renal crônica, cardiovasculopatias, hipertensão arterial e sobrepeso.
*G1
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