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| Elviro Rebouças |
Homem simples, de hábitos comuns aos sábios, e que sai da Itália, pela primeira vez após o conclave que o escolheu, para visitar o país mais católico do planeta Terra, o Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, a partir do dia 22 de julho.
Melhor ocasião não haveria para recebermos a sua benção. O povo brasileiro está nas ruas clamando por reformas sociais, por melhor padrão ético e moral dos políticos, reclamando, e com elevada razão, por melhores condições de vida, no que diz respeito principalmente à saúde, educação e segurança públicas, que, constitucionalmente, são deveres do Estado, mas que infelizmente estão sendo, há décadas, negadas ao cidadão, notadamente aos mais necessitados.
Tendo o Brasil dimensões geográficas continentais, as mazelas dessa incúria são uma chaga aberta permanentemente, de Mossoró e Natal, até o Rio de Janeiro, Brasília ou São Paulo, as três maiores cidades do País, para não falar dos pequenos rincões aonde, como na música de Chico Buarque, o tempo vai passando, e os governos postergando o seu papel.
O povo cansou, e depois das Diretas Já, em 1984, e no impeachment de Fernando Collor, em 1992, voltou às ruas de novo, com o seu brado retumbante e dever cívico de dizer BASTA. Milhões estão em casa, intrinsecamente solidários aos que explicitam nas praças o clamor nacional.
Obviamente há baderneiros de ocasião que infiltrados num momento grave da cidadania, merecem o repúdio de todos nós pelo dano causado aos patrimônios público e privado.
Mas os movimentos de legítima revolta explodem, de forma diversa, da Amazônia ao Chui, com o governo federal até agora atônito, procura de forma atabalhoada uma resposta aos anseios da sociedade brasileira.
A Jornada Mundial da Juventude é um evento religioso criado pelo notável e santo Papa João Paulo II em 1984, que consiste na reunião de milhões de pessoas católicas, sobretudo jovens. O evento é celebrado a cada dois ou três anos, numa cidade escolhida para celebrar a grande jornada em que participam pessoas do mundo inteiro. Nos anos intermédios, as Jornadas são vividas localmente, no Domingo de Ramos, pelas dioceses ao redor do mundo.
Para cada Jornada, o Papa sugere um tema. Francisco, é o primeiro papa nascido no continente americano, o primeiro pontífice não europeu em mais de 1200 anos e também o primeiro jesuíta da história. Tornou-se Arcebispo de Buenos Aires em 28 de fevereiro de 1998 e cardeal-presbítero em 21 de fevereiro de 2001, foi eleito papa em 13 de março de 2013.
O Papa Francisco é conhecido por um estilo pessoal despojado e frugal de viver. Durante seus anos como cardeal em Buenos Aires, vivia num pequeno e austero quarto atrás da Catedral Metropolitana e usava normalmente apenas transporte público, como metrô e ônibus, para se locomover, além de cozinhar a própria comida, sendo um desportista atuante, destacado, torcedor do San Lorenzo de Almagro e adepto do peronismo, quando em sua juventude.
Eleito Papa, seu crucifixo sobre a batina branca quando apareceu ao povo na sacada do Vaticano era de aço e não de ouro, como de costume com Papas anteriores. Francisco recusou o manto vermelho decorado com peles usado por Bento XVI com a alegação de que “o carnaval acabou”.
Também recusou usar os múleos, continuando a fazer uso de sapatos totalmente pretos. Mostrando desde o início do papado um novo estilo, Francisco recusou a limusine blindada papal para comparecer a um primeiro encontro, na residência de Santa Marta, no dia seguinte de sua eleição, preferindo um veículo comum, e espantou a todos ao pagar pessoalmente a conta do hotel onde se hospedou para o Conclave, hotel este pertencente à própria Igreja Católica.
Dias depois de eleito, surpreendeu o telefonista de uma ordem jesuíta em Roma, ao ligar pessoalmente querendo falar com um padre amigo e anunciando-se ao atendente – nunca outro Papa fez ligações telefônicas diretamente, sempre feitas por assessores ou por seu secretário – ouvindo de volta: “Você é o novo Papa? Ah sim, e eu sou Napoleão!.”
Na semana seguinte em que foi eleito, ele ligou direto do Vaticano para a banca da Praça de Maio, em Buenos Aires, onde comprava os seus jornais e revistas quando vivia na cidade, para cumprimentar o jornaleiro, seu amigo de muitos anos, e avisar que dificilmente voltariam a se ver. Nesta ocasião, ao ter sua chamada novamente confundida com um trote, foi chamado de “idiota”.
É o visitante ilustre que, circunflexos, recebemos, implorando: “ABENÇOE-NOS PAPA FRANCISCO”.
(*) Elviro Rebouças é economista


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