Henrique Alves acha que reforma ministerial deve ser formatada no início de agosto, quando deputados e senadores voltam ao trabalho. A nomeação de fato dos novos nomes ficaria para setembro. Quantas deveriam ser as pastas? "Acho que com a vontade enxugar a máquina, de fazê-la mais objetiva, em torno de 25 ministérios seria do tamanho do Brasil". Ou seja, um corte de 14 nos 39 existentes na Esplanada.
Há duas lógicas por trás da formulação proposta por Henrique Alves. Uma
delas é política. Dilma Rousseff até agora apenas repassou ao Congresso
demandas que ela diz ter interpretado a partir dos protestos de rua
ocorridos no país em junho.
Agora, ao recomendar o corte de ministros e uma nova equipe para o
governo, o PMDB repassa a bola para o Palácio do Planalto. "Há um
consenso hoje na questão do número exagerado de ministérios", diz
Henrique Alves. Ele afirma que "os partidos da base deveriam dar essa
colaboração, delegando à presidente Dilma ampla liberdade de recompor o
seu ministério" e para "reduzir esse ministério sem nenhuma nova
imposição partidária, não indicar esse ou aquele".
E o PMDB? "Nós estamos dispostos a oferecer porque nós queremos
encontrar uma saída. Não pode ficar esse impasse, adiando, achando que
as coisas estão caminhando como não estão. Nós queremos um Brasil mais
ágil. Que a presidente dê respostas novas. As movimentações [de rua]
cessaram um pouco, mas está latente ainda a insatisfação".
Se Dilma cortar parte de seus 39 ministérios, "daria uma resposta ao
que o país quer: redução de quadros, mudança, portanto, de ordenamento
político-administrativo". Henrique Alves faz essas observações com
cuidado, sempre de maneira a não dar a entender que esteja se
intrometendo nas atribuições presidenciais. Mas ao falar em público
sobre esse tema, coloca o Palácio do Planalto numa sinuca política, pois
Dilma Rousseff terá de dar alguma satisfação ao partido que é o
principal aliado de seu governo no Congresso.
Há também uma lógica menos política e mais operacional na proposta do
PMDB para Dilma Rousseff. "Vem aí a desincompatibilização dos
ministérios no próximo ano. Aqueles que são candidatos -me parecem que
de 12 a 15 ministros- poderão sair", diz Henrique Alves. Ele se refere
aos ministros que pretendem concorrer a algum cargo na eleição de
outubro de 2014 e precisam deixar suas funções, como manda a lei, com
pelo menos seis meses de antecedência.
Eis o raciocínio de Henrique Alves: "Eu acho que poderia ser antecipada
essa desincompatibilização. Ministros deixariam o cargo em fevereiro ou
março. O que acontece? Quando os novos assumem já chegam e encontram o
orçamento e as prioridades definidas pelo ex-ministro. Vai apenas
cumprir tabela, fazer aquilo que o outro deixou arrumado para ele fazer.
Não consegue inovar, oxigenar, trazer ideia nova".
O presidente da Câmara diz expressar essas opiniões porque são
majoritárias no PMDB e têm a concordância também do vice-presidente da
República, Michel Temer. Para Henrique Alves, "está faltando boa
política" no governo. E faz uma advertência: "Não há uma boa gestão sem
uma boa política. A boa política antecede uma boa gestão".
Henrique Alves afirma que o PMDB vai ficar com o PT na campanha de
reeleição de Dilma, em 2014. E diz confiar na recuperação da
popularidade da presidente até o final deste ano. Mas condiciona essa
previsão a um rearranjo no ministério e mudança na articulação política.
"É lógico, é isso", diz ele. E se Dilma não seguir essas recomendações?
"Aí corre um risco grande o sucesso do seu governo". E acrescenta uma
ressalva: "Mas quem conviveu, como ela, com o presidente Lula, sabe
exatamente o que é necessário fazer na hora da bonança e na hora das
crises. Agora, na hora da crise, ela saberá conduzir. Queremos que ela
ouça mais a classe política. Tenha uma maior interação.
O presidente da Câmara diz ser necessário "ajudar o Brasil a
reencontrar esse caminho que as ruas estão reclamando". Eximir-se desse
processo pode ter consequências nas eleições de 2014. "Nós temos que
estar muito abertos a esse reclamo para que a gente mude também e não
sejamos mudados".
A seguir, trechos da entrevista:
Folha/UOL - Em junho, milhares de brasileiros foram às ruas demandar
mudanças na forma como o país é governado. O Congresso conseguiu
entender essas demandas e dar uma resposta?
Henrique Eduardo Alves - Acredito que sim. O Congresso está acostumado
com essas demandas. Para que as pessoas tenham uma ideia, num ano normal
legislativo da casa, quase 200 mil pessoas frequentam o Congresso
Nacional. Quem frequenta a casa sabe. Só que agora foi reforçada por
essa demanda maior. É mais explícita, mais apaixonante, mais consciente
das ruas a cobrar, sobretudo, a melhoria dos serviços públicos da saúde,
educação, da mobilidade urbana, da segurança. Com forte apelo para que o
Congresso, o Parlamento, o Executivo, o Judiciário, todos façam um
Brasil mais ágil, mais rápido, mais eficiente, de melhores resultados.
Mas o Congresso entra em recesso branco sem ter conseguido votar muitas das propostas da chamada agenda positiva. Por quê?
Nessa hora, açodamento é uma irresponsabilidade. Por exemplo, a pauta
dos 10% [do orçamento] para a saúde. Isso envolve recursos na ordem de
R$ 40 [bilhões] a R$ 50 bilhões. É muito fácil ter um tema, aprovar. Mas
quem paga essa conta? E a origem do recurso?
Há muita responsabilidade na hora de aprovar uma proposta que venha
gerar aquilo que as ruas querem. Entendemos ser necessário, como é o
caso da saúde. Mas tem que ter a fonte de recurso. Senão, você apenas
cria uma ilusão e, logo depois, uma imensa frustração.
Dou só esse exemplo para mostrar que nós temos que ter uma pauta muito
consequente que atenda o que querem as ruas. Sobretudo a questão da
melhoria dos serviços públicos. A classe média cresceu. Pessoas que
saíram da pobreza absoluta tiveram uma melhor condição de vida. Só que,
quando chegaram a esse patamar, encontraram lá um trânsito que não
funciona, um hospital privado que não atende, uma segurança pública que
virou insegurança pública, os assaltos se diluíram de maneira brutal de
dia, de tarde, de noite.
Há todo um problema da prestação do serviço público que está agoniando a classe média brasileira.
Os protestos de junho atingiram a muitos políticos e também a
presidente Dilma Rousseff. Ela reagiu propondo cinco pactos em várias
áreas e um plebiscito para fazer a reforma política. Foi a melhor forma
de reagir?
O plebiscito não estava no âmago desses protestos. Não me lembro de ter
visto - pode ser que tenha acontecido- cartazes pedindo plebiscito,
reforma política.
As pessoas querem saúde de qualidade, educação de qualidade, segurança
que dê segurança, mobilidade urbana que faça que as pessoas possam ir e
vir. Essa que é a questão central.
Agora, nós temos o dever, como Parlamento e como partidos políticos, de
fazer uma reforma política. Isso me frustra muito porque todos dizem
isso, mas na hora de fazer, não conseguem.
Do ponto de vista político, a presidente acertou ao fazer aquele
pronunciamento no final de junho chamando governadores e prefeitos para
ficarem posando para uma foto enquanto ela anunciava os pactos?
Ela tomou um caminho, talvez o único naquele momento, que era compartilhar com os governadores.
No caso da reforma política, o ministro Aloizio Mercadante disse que a
população vai "cobrar caro" do Congresso se não aprovar o plebiscito
para fazer a reforma política. O sr. concorda?
Ele apenas esqueceu, o ministro Mercadante, que o povo vai cobrar caro
do Executivo também. Vai cobrar caro do Legislativo, do Executivo
federal, estadual... A cobrança é generalizada e cada um tem que fazer a
sua parte.
Há no Poder Executivo uma tentativa de dizer que fez a sua parte e o que falta é culpa dos deputados e senadores?
É verdade. Mas se fosse cada um jogar para o outro a responsabilidade,
seria uma irresponsabilidade. Que era só o Parlamento estar aprovando
isso e aquilo outro. Tem que ter muita responsabilidade, parceria e
entender que a decisão tem que ser conjunta, de todos.
Mas o Poder Executivo quer jogar para o Congresso a responsabilidade?
Acho que, num primeiro momento, a questão do plebiscito se deu como se
fosse a questão maior. E não era. Talvez fosse a última das questões. É
importante ouvir...
O que nós queremos fazer é uma reforma política abrangente e dar uma
nova cara à legislação eleitoral brasileira. Vamos tentar. Assumo essa
culpa -com todos os parlamentares- de não ter conseguido ainda. Mas não é
a questão central.
A questão central, volto a dizer, é a melhoria dos serviços públicos.
As pessoas estão reclamando da qualidade de vida. Isso passa por ações
do Executivo e do Legislativo, lógico.
E do Judiciário também, é bom não esquecer. Há lentidão dos processos
na Justiça para resolver questões que ficam se alastrando anos e anos. É
como se fosse "repaginar o Brasil". É um Brasil novo que quer
instrumentos novos de ação e de resultados.
A população demandou um gesto dos governos? No caso do governo federal,
o que seria? Uma reforma ministerial? Diminuição de cargos?
Eu acho que há um consenso hoje na questão do número exagerado de
ministérios: 39. Demandaria um enxugamento dessa máquina. Reduzir essa
máquina administrativa. Ficaria mais enxuta e com melhor resultado,
maior objetividade.
Essa é uma questão que seria simbólica se o governo fizesse neste
momento. Acho que os partidos da base deveriam dar essa colaboração,
delegando à presidente Dilma ampla liberdade de recompor o seu
ministério. Se necessário, reduzir esse ministério sem nenhuma nova
imposição partidária, não indicar esse ou aquele.
O sr. é do PMDB, que tem 5 ministérios. O PMDB aceita ficar com um ou dois, sem problemas?
Na hora de uma reorganização nesse nível, com essa profundidade, com
essa responsabilidade, eu acho que todos os partidos da base deveriam
ter esse gesto de delegar à presidente, que é uma decisão somente dela
-ela que vai arcar com o ônus ou o bônus dessa decisão, com acerto ou
erro dessa medida.
E eu diria: Vem aí a desincompatibilização dos ministérios no próximo
ano. Aqueles que são candidatos --me parecem que de 12 a 15 ministros--
poderão sair.
Mas isso ocorre em março...
Em fevereiro ou março.
Poderia ser feita quando?
Poderia ser antecipada essa desincompatibilização... Ministros que são
que são candidatos à eleição, deixariam o cargo em fevereiro ou março. O
que acontece? Quando os novos venham assumir esses ministérios, já
encontram o orçamento aprovado e as prioridades definidas pelo
ex-ministro. Vai apenas cumprir tabela, fazer aquilo que o outro deixou
arrumado para ele fazer. Não consegue inovar. Não consegue oxigenar. Não
consegue trazer ideia nova, programação nova.
Quem sabe neste momento, conjugando todos esses fatores, não poderia haver uma real antecipação desta reforma?
A presidente faria uma reprogramação de todo o quadro ministerial com
liberdade da escolha dos novos ministros, que já participariam da
execução orçamentária nova do próximo ano e da definição das novas
prioridades do próximo ano. Dando, portanto, a esse ministro que vai
assumir uma participação muito maior na definição do governo do Brasil
no ano eleitoral.
Essa posição hoje é majoritária no PMDB?
Acredito. Até a Executiva se reuniu, já há alguns dias, e deixou com
muita clareza que o PMDB toparia, nesta hora, dar essa contribuição.
O vice-presidente Michel Temer também comunga dessa opinião?
Acredito. Acredito que, se essa for a necessária colaboração do PMDB,
nós estamos dispostos a oferecer porque nós queremos encontrar uma
saída. Não pode ficar esse impasse se adiando, se achando que as coisas
estão caminhando como não estão. Nós queremos que caminhe, que se
resolva essa questão que é a discussão hoje em todos os cantos e
recantos desse país. Um Brasil mais ágil. Um Brasil que a presidente dê
respostas novas. Uma demanda que está aí. As movimentações cessaram um
pouco, mas está latente ainda a insatisfação.
Não é com a presidente Dilma apenas. É com o Parlamento, é com o
Judiciário, com os governadores estaduais, com os prefeitos que estão
dizimados orçamentariamente nos seus municípios. É hora de fazer uma
repaginada. Poderia começar assim, já que aqueles ministros vão sair no
próximo ano, antecipando essa mexida.
Objetivamente, quando? Julho, agosto, setembro?
Aí é com a presidenta da República. Ela pode fazer essa avaliação. Mas
acho que o mês de setembro, na volta do Poder Legislativo, a volta do
recesso, a retomada do segundo semestre, essa antecipação da parte do
PMDB não teria nenhum problema. Pelo contrário. Daria uma resposta ao
que o país quer: redução de quadros, mudança de ordenamento
político-administrativo. Seria um bom caminho.
O Brasil tem hoje 39 ministérios. Que número, do ponto de vista gerencial seria desejável?
Esse número dependeria muito da prioridade, do foco que o governo tem
para as questões administrativas. Por exemplo, ministérios como a
Secretaria de Aviação Civil e a Secretaria dos Portos. Por que não somar
esses dois a um Ministério da Infraestrutura?
Há casos em que se poderia juntar um ou dois --até três-- e dar uma
configuração só. Tem um simbolismo de mostrar um enxugamento da máquina.
Esta é sim uma reclamação das ruas.
Mas o sr. diria que dá para reduzir de 39 para quantos?
Difícil fazer uma avaliação quantitativa. Acho que com a vontade de
enxugar a máquina, de fazê-la mais objetiva, de fazer uma reforma, em
torno de 25 ministérios seria do tamanho do Brasil. Eu acho que em torno
disso seria um bom tamanho e haveria uma redução significativa.
Mas volto a dizer, é uma interpretação e decisão da presidenta da República.
O sr. acha que é necessário também fazer algum ajuste na política e na equipe econômica?
Esse é um dos itens mais falados, mais abordados. Até porque se criou
uma expectativa equivocada de um crescimento do PIB já no próximo ano.
Agora se repete além do que nós esperávamos. Isso gera uma frustração
muito grande.
Tem que se tratar esse assunto cirurgicamente. Ainda não conseguimos
encontrar --o governo, estou falando do governo-- uma resposta que
tranquilize em relação ao combate da inflação.
E olha que tem sido uma meta objetiva e clara da presidente Dilma. Acho
que a questão principal hoje que move os seus passos é o combate à
inflação. É uma luta de todos nós.
Para recuperar da credibilidade diante dos agentes econômicos é
desejável mudança no Ministério da Fazenda com a troca do ministro?
É difícil uma opinião nessa área porque a economia é muito sensível.
Aquilo que se diz sempre tem uma repercussão. Às vezes, mudar ministro
nem resolveria. O problema é foco político, prioridades, propostas
abrangentes estruturais que deviam ser feitas e não apenas pontuais.
Essa é uma avaliação que a presidente tem que fazer todo dia nessa área
econômica e a resposta é muito sensível às ruas e ao mercado.
O sr. propõe antecipar ao máximo a reforma ministerial e reduzir o
número de ministérios já no final de agosto, no início de setembro. Isso
já foi dito pelo PMDB, com essas palavras, para a presidente da
República?
Essas preocupações o partido tem colocado para o vice-presidente Michel Temer.
Ele tem dito isso a ela?
Ele tem tido conversas com a presidente Dilma. Ela tem conversado mais
com o vice-presidente Michel Temer. A nosso ver, poderia ter conversado
mais ainda há mais tempo porque o Michel é o homem que presidiu a Câmara
três vezes. Um homem que foi líder da bancada do PMDB por dois períodos
com uma experiência extraordinária, de formação constitucionalista.
Ele tem uma grande contribuição a dar. É uma pessoa muito educada,
muito correta nas suas postulações. Hoje é a referência maior do PMDB.
Mas ele não foi nem consultado pela presidente em junho, quando ela
chegou a sugerir um processo constituinte exclusivo, depois plebiscito,
para a reforma política. Deveria ter sido consultado naquele momento?
É verdade. Eu acho que isso é um dos equívocos da condução do processo.
Por que ela não o chamou naquele momento?
Não sei. Mas tenho informação que, já de uns dias para cá ou semanas, o
Michel tem sido mais solicitado para dar essa contribuição à presidenta
Dilma e ao seu governo na análise que ele faz muito competentemente a
respeito das modificações que devem ser feitas no bojo da reforma
eleitoral, de uma reforma política, de uma reforma administrativa, de
uma reforma ministerial.
O sr. fala em fazer uma reforma ministerial e reduzir o número de
cargos de ministros. Mas a base de apoio ao governo é muito ampla, com
muitas legendas. Como reduzir ministérios e impedir que algumas das
legendas tenham os seus ministros?
Mas não adianta você ter ministros que não têm a visibilidade que os
partidos que o indicaram possam ter. Não é apenas ter ministros, dizer
que está ministério para fotografia, para receber no gabinete.
Mas alguns dirão que é melhor ter uma fotografia do que não ter nada...
Não sei. Chega uma hora que você começa a avaliar isso. Será que é o melhor, realmente?
Sempre se ouve críticas à articulação política do governo Dilma. Por quê?
Não sei se é uma verdade nua e crua que pode chegar à presidente. Mas
eu vou dizer aqui uma coisa: Não há uma boa gestão sem uma boa política.
Você não pense que com uma boa gestão você terá uma boa política. Você
vai ter uma boa gestão se tiver antes uma boa política. A boa política
antecede uma boa gestão.
Mas a presidente tem uma boa política?
Está faltando essa boa política no sentido de conversar, de interagir.
Quando você conversa com ela, é uma conversa muito fácil. Ela conduz
muito bem a conversa. Ouve bem. Mas deveria conversar mais. Ter mais a
oportunidade de ouvir a classe política.
Dou um exemplo aqui. Quando o presidente Lula era presidente da
República, nos seus oitos anos e logo no início da Dilma, tinham
reuniões quase que mensais do conselho político. Era uma presença de
líderes e de presidentes partidários que ficavam duas ou três horas
analisando se tal medida seria anunciada e enviada ao Congresso. Aí, a
coisa saía redonda. É muito mais fácil a condução, discussão e
aprovação.
Há quanto tempo não se reúne o conselho político? Eu não me lembro a
última vez. Nunca mais se reuniu o conselho político. Foi um erro do
governo em não fazer porque ajudaria a presidente. Quando remeter a
proposta ou medida provisória ou projeto, já viria discutida, pelo
menos, com a sua base parlamentar.
Sua recomendação é que a articulação política entre o governo e o Poder Legislativo seja melhorada com mais reuniões?
Muito mais melhorada, com maior interação, maior diálogo. Sei porque
tenho tido conversas com a presidente. Sei como ela conversa bem quando é
provocada a conversar, como ela entende bem quando é instada a ouvir.
Agora, tem que conversar e ouvir mais. As pessoas que estão querendo
ajudar.
Mas essa redução do número de ministérios não reduzirá o poder de
influência do governo dentro do Congresso para aprovar medidas?
Se bem explicado, se bem conduzido, como nós queremos...
É bom deixar claro: quando se fala do governo da Dilma, não é uma coisa
distante do PMDB. O PMDB está presente no governo Dilma. Tem o
vice-presidente da República, ocupa cinco ministérios. Bem ou mal, estão
lá os seus ministros como disse você, com fotografia.
Nós estamos dentro desse governo. É diferente de outros partidos que
podem avaliar se vão apoiar ou não porque não são o governo. Nós somos o
governo. O PMDB não está no governo, é governo.
Para que este governo avance nos seus resultados, tem que tecer uma
participação mais interativa, que não só é do PMDB, mas, na sua base
partidária. Só tem um caminho: o diálogo, a verdade, a transparência.
Não diminui ninguém reconhecer equívocos, não ter reunido, não ter
conversado, não ter realizado a reunião do conselho político. Pelo
contrário. Até ajuda, com um gesto de humildade, a recuperar e a
resgatar esse espaço de diálogo.
O sr. defende o chamado orçamento impositivo. O Palácio do Planalto é contra. Como resolver?
É contra. Mas isso não impedirá o Congresso de aprovar. Vai se votado
no dia 6 de agosto na comissão especial. Assumi o compromisso de votar
no dia 7 no plenário da Câmara.
Dia 7 de agosto?
Sete. O que a gente quer com isso? Acabar esse toma-lá-dá-cá. Não é
possível mais pedir respeito. Primeiro, sei da importância da emenda
individual. São pleitos lá de um município, lá de um recanto, de uma
comunidade, de um assentamento que jamais, pelo seu tamanho, por ser
pequeno e simples, vai chegar às mesas ministeriais dos grandes
projetos. Então, vem pela demanda de associações, de comunidades, de
vereador, de prefeitos, por meio do interlocutor que é o parlamentar.
Sei da importância dessas emendas. São simples, pequenas nos seus
pontos quantitativos, mas muito importantes para resolver uma questão lá
no seu município, na sua cidade. Quando chega aqui, passa por um
processo desgastante. E é para os dois lados. Desgasta o governo
democrático e profundamente o Parlamento, que fica submetido.
Liderei o PMDB com uma bancada de 80 deputados por seis anos. As vezes
que eu tinha que ir ao Palácio para discutir emenda de R$ 100 mil, R$
150 mil de um deputado... Não é de agora. Vem desde Fernando Henrique
Cardoso, de todos os presidentes da República. Acabar com esse
toma-lá-dá-cá é fazer emenda impositiva clara, direito do Parlamento.
Sem nenhuma negociação, sem nenhum favorecimento de quem é de oposição,
de quem é de governo, quem vota a favor, quem vota contra. Essa é uma
imposição que vamos aprovar sim no Parlamento brasileiro.
Não importando se a presidente Dilma Rousseff se declarar contra?
Ela respeita tanto o nosso posicionamento que em momento algum ela
tratou. Porque ela sabe das minhas posições claras, expostas, e o
respeito que eu tenho pelo Parlamento. Sabe da importância de acabar
esse toma-lá-dá-cá. Quantas vezes eu li, até na "Folha de S.Paulo",
manchete de primeira página: "Governo libera tantos milhões para emendas
para aprovar projeto tal ou qual".
Não quero mais ler essa manchete de jornal. Muitas vezes coincide a
liberação de emendas com votação de tal ou qual. Isso se vincula
automaticamente.
Fica um favorecimento que constrange o governo democrático, a figura
democrática da presidenta Dilma e o brilho do Parlamento. Isso acaba na
Câmara dos Deputados no dia 7 de agosto.
A aliança nacional entre o PT e o PMDB deve ser mantida no ano que vem, em 2014?
Deve ser mantida. Não tenho a menor dúvida, até porque nós estamos
participando do governo, com todas as reclamações, que são verdadeiras,
da base. Tem uma participação mais qualitativa, mais representativa,
mais transparente, de maior interação, maior diálogo, mas acredito que
sim, que a presidenta Dilma faz um bom governo. Nossa avaliação é que
ela vem sendo uma presidenta com as qualidades fundamentais para o
administrador, que é honestidade, que é transparência. Ela tem um perfil
de administradora importante, que o povo brasileiro reconhece e
aplaude.
Teve essa turbulência. Acho que vai ser recuperável. Até o final do ano
ela volta aos patamares iniciais pela sua administração, pela sua
seriedade, pela sua competência, pela sua história.
Acho que sim, será esse o caminho do PMDB. Agora, tem que ser cada vez
mais conquistado por convencimento. Acho que esse trâmite do melhor
relacionamento terá inevitavelmente que acontecer.
O sr. fala que a presidente vai recuperar até o final do ano a
popularidade e a intenção de votos que tinha lá atrás. Mas tudo
condicionado a essas mudanças que o senhor falou ao longo da entrevista:
um rearranjo no ministério, uma mudança na articulação política, uma
oxigenação do governo. É isso?
É lógico, é isso.
E se ela não fizer nada disso?
Aí corre um risco grande do sucesso do seu governo. O que ela não quer,
nós não queremos. Isso está fora de cogitação porque ela sabe como
ninguém. Ela não tem a prática da política, porque nunca foi deputada,
nunca passou pelo Parlamento. Mas quem conviveu, como ela conviveu, com o
presidente Lula, ela sabe exatamente o que é necessário fazer na hora
da bonança e na hora das crises. Agora, na hora da crise, ela saberá
conduzir.
Queremos apenas que ela ouça mais. Converse mais com a classe política.
Tenha uma maior interação. Seja mais aberta ao que os partidos, os
líderes, até a oposição, querem contribuir conjuntamente. Está na hora
de ajudar o Brasil a reencontrar esse caminho que as ruas estão
reclamando. O Brasil novo que está surgindo. É natural essa
transformação, essa mutação. E nós temos que estar muito abertos a esse
reclamo para que a gente mude também e não sejamos mudados.
O ministro Aloizio Mercadante acha que a presidente tem como se recuperar e ganhar no 1º turno no ano que vem. O sr. concorda?
Acho que ela tem condições. Antes desse movimento da rua, nós íamos
conversar sobre os níveis de popularidade dela, da aprovação recorde de
seu governo, maior do que o do Lula.
Se não houver uma ocorrência grave, se ela for bem entendida e
sinalizar com mudanças concretas, com um ato de humildade... O fato de
você reconhecer, de você querer mudar rumos não lhe diminui. Pelo
contrário, engrandece. Mostra sensibilidade, mostra humildade. Todo o
patrimônio do governo Lula e Dilma estão aí.
Mas reconhecer erro não parece ser o forte do governo. Veja o que se
passou com a trapalhada do Bolsa Família. Houve uma trapalhada e o
governo não reconhece nem ninguém foi punido...
Você deu um exemplo claro de um equívoco, de um erro do governo.
O governo está dizendo que não errou...
Errou e errou mais na hora em que acusou a oposição. São coisas pontuais que, por não ter o reconhecimento, se tornam maiores.
Na política, quem que garante que a partir de agora vai ser diferente?
Tenho sentido nas últimas conversas, de um mês para cá, com a
presidenta Dilma, essa preocupação. De ouvir mais, de conversar mais, de
interagir mais.
Acho que há tempo de recuperar as coisas, que ela tem uma postura de
uma transparência, de uma dignidade, de uma coragem que permite a ela,
nesta hora, reconhecer o que não pode ser feito, reconhecer o que as
ruas querem que nós façamos e fazer essa mudança.
O sr. usou aviões da FAB 48 vezes neste ano. Uma das vezes, foi ao Rio
de Janeiro e deu carona para sua noiva, parentes... O caso foi noticiado
e o sr. devolveu R$ 9.700. O que aconteceu
Fui ao Rio de Janeiro porque tinha uma agenda com o prefeito Eduardo
Paes. Ele marcou essa agenda no sábado. Disseram que foi num
restaurante. Não foi. Foi na sua residência [de Eduardo Paes] oficial,
na Gávea Pequena. Por que essa agenda? Porque na outra semana, que se
seguiria, o senador Renan Calheiros [presidente do Senado] queria votar o
passe livre. E estava crescendo na Câmara a questão da CPI da Copa do
Mundo.
Então, marcamos sábado às 13h. Fui com esse objetivo.
O avião não foi para me levar para o jogo do Brasil [contra a seleção
da Espanha, jogo da final da Copa das Confederações, em 30.jun.2013].
Essa que é a distorção. O avião me levou para esse compromisso. Aí qual
foi, talvez, o equívoco? Como havia disponibilidade de lugares, levei
pessoas que me acompanharam. Identifiquei que isso talvez possa ser um
equívoco -a ser discutido, ainda. Preventivamente, resolvi pagar o valor
das passagens comerciais das pessoas que foram e que voltaram comigo.
Ponto final. Recolhi o recurso.
Numa boa hora o Ministério Público Federal levantou a questão para
apreciar. Vamos antecipar logo. Não vou esperar os 90 dias. Vou informar
exatamente o que aconteceu e aguardar serenamente a conclusão de todo o
processo.
O sr. acha que os nomes das pessoas que viajam junto com autoridades em jatos da FAB devem ser divulgados?
Eu acho. Muitas vezes vou embarcar aqui [em Brasília] para Natal numa
quinta-feira. A sessão termina 4h da tarde, 5h da tarde. Às vezes, de
madrugada... Aí vem um deputado federal: "Eu poderia ir com você?". Tem
um lugar? Levo.
Muitas vezes acontece isso. Você dá carona a autoridades, prefeitos que às vezes estavam aqui...
Nesse caso, são autoridades. O sr. acha que a carona pode ser estendida também a amigos ou pessoas da família?
Esse é um critério que eu acho que tem que ser estabelecido de maneira
clara numa revisão desse decreto, ver se pode ou se não pode. Acho que
tem que ser estudado. O governo está tomando alguma medida em relação a
isso. Há um projeto na Câmara que discute isso. Há outro no Senado.
Mas qual que é a sua opinião?
Eu acho que você viajar, de repente, para um compromisso que você tenha
e levar a sua mulher, eu acho que não haveria nenhum impedimento.
Se tem um lugar vago, vazio... Não vai alterar um tostão.
Se mudar o decreto, quero que tenha transparência. Diga-se o que pode e
o que não pode. O que é correto e o que é incorreto para que nós não
tenhamos dúvidas nem questionamento a esse respeito daqui por diante.
Um caso rumoroso recente indiretamente citou o sr.. Um assessor seu,
Wellington Ferreira da Costa, foi assaltado em Brasília com uma mala com
R$ 100 mil em espécie. Do que se trata?
Ele prestou queixa. Se fosse algo que não fosse explicável, era só não
prestar queixa. Mas ele prestou queixa. Foi à delegacia, abriu-se um
inquérito policial e eu quero a conclusão desse inquérito para apurar
responsabilidades.
A esta altura, o pior já se passou. Acho que esse dinheiro é difícil
reaver. Mas eu quero apurar a responsabilidade. Quem foi, por que foi,
como foi...
É um assunto privado, particular. O dinheiro era meu. Tenho até como
provar. Peguei um empréstimo no Banco do Brasil dois dias antes. Mas eu
quero a conclusão do inquérito que está aberto.
O dinheiro pertenceu ao sr.?
Lógico, é meu.
Do que se tratava? Era um empréstimo?
Fiz um empréstimo no Banco do Brasil. E eram R$ 100 mil reais. Dinheiro
meu que era conduzido. E o que é estranho é como se sabia que naquele
carro, naquela hora, tinha esse dinheiro. Então, quero apuração rigorosa
dos fatos.
Mas por que o dinheiro estava em espécie nesse caso? Não podia ter feito uma transferência bancária?
Poderia. É direito meu, não é? De realizar um pagamento que eu ia fazer.
Claro. Mas o sr. já divulgou o que seria?
Não. Nem preciso divulgar. É um assunto privado, particular. Se vou
precisar explicar o que eu vou fazer com o dinheiro que é meu, eu acho
que é um pouco de invasão de privacidade. Mas quero que o inquérito
policial se encerre. Quero descobrir como é que isso aconteceu. As
causas que levaram, portanto, a essa ocorrência.
O sr. tomou um empréstimo no Banco do Brasil, o dinheiro foi sacado,
estava com o Wellington, que é seu assessor, e, aí, ele foi assaltado. É
isso?
Exato, ponto. É assessor meu há mais de 20 anos. Portanto, não há
nenhuma desconfiança com uma atitude dele. Mas, como não é um fato
normal, foi aberto o inquérito... Estou aguardando a apuração da
polícia.
* De Fato.Com

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