Dos dez produtos mais exportados do Rio Grande do Norte para os Estados Unidos no ano passado, só dois escaparam do tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump. São eles: óleos de petróleo e pedras de construção, como o granito. Os demais produtos passarão a ser submetidos a uma taxa de 50%, o que praticamente inviabilizará a entrada desses itens potiguares no mercado americano.
Os dois produtos que escaparam do tarifaço estão em uma lista de 694 exceções que o governo americano definiu para a sobretaxa sobre as mercadorias brasileiras. Fora esses itens, o restante vai receber uma tarifa adicional de 40%, elevando o valor total da sobretaxa para 50% —considerando os 10% anunciados em abril. As taxas devem entrar em vigor em 6 de agosto, segundo anúncio da Casa Branca.
Entre os principais produtos exportados do RN para os EUA que serão taxados, estão pescados, sal marinho, frutas e confeitos (como caramelos, pirulitos e pastilhas). A Casa Branca informou que a castanha-do-pará está entre as exceções – há uma dúvida se isso inclui castanha de caju, que está também entre os itens mais exportados do RN para os EUA.
Em 2024, no total, o RN exportou US$ 67,1 milhões em produtos para os Estados Unidos. Neste ano, antes do anúncio do tarifaço, as vendas estavam em alta. De janeiro a junho de 2025, segundo a Federação das Indústrias (Fiern), foram exportados US$ exatamente 67,1 milhões – ou seja, em apenas seis meses, o volume de exportação foi equivalente ao ano passado inteiro.
Drama dos setores de sal e pesca
Segundo a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), sal, pescados e confeitos representam cerca de 80% de tudo o que é exportado do Estado para o mercado americano. “O desafio agora é buscar uma reversão nesse pequeno período (até 6 de agosto). A gente tem essa esperança, acredita que isso possa ser resolvido com uma relação diplomática inteligente”, afirmou o presidente da Fiern, Roberto Serquiz, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira 31.
No caso específico do sal, quase metade do que é exportado do RN para fora do Brasil vai para os Estados Unidos. São cerca de 550 mil toneladas por ano, segundo o Sindicato da Indústria do Sal do RN (Siesal).
O presidente do Siesal, Airton Torres, afirma que o setor emprega 4 mil pessoas diretamente e que essas vagas estão ameaçadas. Ele conta que há poucas opções de novos mercados para o sal potiguar. Por se tratar de produto de baixo valor, a mercadoria não é competitiva para exportar para longas distâncias. Além disso, a Europa, que poderia ser uma opção, já é autossuficiente em sal e importa pouco.
A pesca também passa por uma situação delicada. Segundo Arimar França Filho, presidente do Sindicato da Indústria da Pesca do RN (Sindipesca), o segmento contrata cerca de 1.500 trabalhadores – que também estão com os empregos ameaçados. Ele afirma que um potencial mercado para os pescados brasileiros seria a Europa, mas o continente aplica um embargo aos produtos brasileiros desde 2018. “Precisa de um trabalho do Governo Federal para que isso seja mudado”, declarou Arimar, em coletiva de imprensa também nesta quinta-feira.
Enquanto uma solução não é apresentada, embarcações já não vão para o mar nos próximos dias. Ele diz também que o próprio abastecimento interno poderá ser afetado, pois todo o setor fica prejudicado com a saída do mercado principal (os EUA).
“A exportação para os Estados Unidos é responsável por 80% da exportação de pescados do Rio Grande do Norte. No caso da pesca industrial (oceânica, de atum) é 100% Estados Unidos. Além disso, os EUA representam entre 70% e 80% do faturamento das empresas. O tarifaço vai inviabilizar a saída dos barcos. Nessa próxima rodada, a maioria das embarcações já estão em terra. E vai inviabilizar, porque os outros 30% do faturamento eram agregados à exportação. Se não tem mercado principal, não tem como as embarcações saírem”, declarou Arimar.
Sobre possíveis demissões, ele afirma que o momento é de cautela. “A gente não quer demitir. A gente está conversando com a Delegacia Regional do Trabalho, discutindo uma forma de fazer afastamento, treinamento para o pessoal por um período. A gente acredita que, nos próximos meses, isso será revertido. Ou ao menos um pouco aliviado”, concluiu.
Entenda a taxação
A sobretaxa de 50%, que havia sido anunciada por Donald Trump no dia 9 de julho, foi confirmada nesta quarta-feira 30 através de um decreto presidencial. Está entre as maiores implementadas para países que exportam aos EUA e possui motivação mais política que econômica.
O decreto que implementa as tarifas cita o nome de Jair Bolsonaro (PL) e diz que o ex-presidente —réu no STF (Supremo Tribunal Federal) em processo que apura trama golpista em 2022— sofre perseguição da Justiça brasileira.
Em comunicado, a Casa Branca disse que a medida oficializada nesta quarta visa “lidar com as políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.
“Membros do governo do Brasil têm tomado medidas que interferem na economia dos EUA, infringem os direitos de liberdade de expressão dos cidadãos norte-americanos, violam os direitos humanos e minam o interesse dos Estados Unidos em proteger seus cidadãos e empresas.”
O texto diz ainda que políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro ameaçam a segurança nacional, a política externa e a economia dos EUA. Também acusa o Brasil de violar direitos humanos.
Agora RN
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