Uma orca foi flagrada ao lado de um barco de pescadores no mar de Caiçara do Norte, no litoral do Rio Grande do Norte. Um vídeo gravado por eles registrou a presença do animal.
O fato aconteceu no dia 20 de maio, mas ganhou notoridade apenas nesta sexta-feira (30). Isso porque os pescadores Francisco Borges da Silva, de 26 anos, e Lenivaldo de Lima, de 45, ficaram embarcados por oito dias seguidos e só divulgaram o registro ao voltarem para terra firme.
"Estávamos a umas 50 milhas da costa. Eu vinha guiando o barco e ele sentado no banco. Eu vi só a cabeça do peixe [da orca], ao lado da borda do bote, subindo. Aí ele veio e disse que tinha uma baleia seguindo a gente", contou o pescador Francisco Borges.
Segundo o Projeto Cetáceos da Costa Branca, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), que monitora e resgata animais no litoral potiguar, as orcas são cosmopolitas, ou seja, "ocorrem em todos os oceanos do mundo, inclusive em águas tropicais", sendo mais comum no Brasil no Sul e Sudeste.
O projeto informou ainda que as orcas, apesar do tamanho, fazem parte da família dos golfinhos oceânicos e que a aparição delas é incomum, mas não é inédita no estado.
Segundo o pescador Francisco Borges, a baleia acompanhou o barco por mais de 1 hora, mas ele e o colega gravaram apenas um dos momentos, porque os celulares iriam descarregar em breve.
"Ela veio seguindo a gente. Boiou, ficou bem pertinho. Dava até para botar a mão, se quisesse. A qualquer momento que ela quisesse afundar o barco era só dar uma pancada no barco ali que ela afundaria", falou.
O pescador contou ainda que temeu pelo fato de achar que a baleia poderia causar danos à embarcação.
"Graças a Deus estamos vivos para contar história. Na hora a gente fica aperreado, porque o barco é só de tábua, a qualquer momento com uma pancada ali a gente poderia afundar", disse.
'Animais extremamente inteligentes'
O comportamento da orca ao lado do barco tem semelhança ao que tem sido registrado no Mar Mediterrâneo, explicou Renata Sousa-Lima, professora do Departamento de Fisiologia e Comportamento e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRN, que possui PhD em Comportamento Animal pela Cornell University (EUA).
"São comportamentos que podem passar por aprendizado social entre os indivíduos. As orcas aprendem e adotam comportamentos de outras", explicou.
Segundo a especialista, as explicações para esse tipo de comportamento são especulativas. Ela também disse que não é possível afirmar, pelo vídeo, se havia mais de uma orca naquele momento.
"Orcas são animais extremamente inteligentes e tem estrutura social complexa, com famílias, clãs, e populações com tradições culturais específicas de cada grupo", falou.
Acompanhar o barco é 'comportamento de proteção'
Segundo o coordenador do projeto Cetáceos da Costa Branca, o biólogo Flávio Lima, a orca acompanha a embarcação como forma de proteger outras orcas que possam estar próximas.
"Esse comportamento de acompanhar o barco simplesmente é um comportamento de proteção, de defesa em que aquele animal acompanha a embarcação no sentido de proteger o grupo de orcas que pode estar ali ao redor", explicou.
O recomendado, segundo o especialista, é que os pescadores deixem a o motor neutro nessas situações com baleias e golfinhos.
"Caso alguma embarcação encontre esses animais, a legislação adequada é reduzir a velocidade e colocar o motor em neutro para que o animal naturalmente se afaste da embarcação", explicou.
"Após cerca de 100 metros de distância do animal, aí novamente a embarcação pode engrenar a marcha e sair em direção contrária ao animal", completou.
O especialista reforçou que encontrar essa espécie de golfinho ocorre em todos os oceanos - embora restrita a áreas de água mais profundas e que encontrar esse animal é "uma grande oportunidade científica de nós termos esse registro dessa espécie aqui para o litoral do Rio Grande do Norte".
G1/RN
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