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A nova ofensiva tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mergulhou os mercados globais em um cenário de forte instabilidade. De acordo com a BBC News, os principais índices de Wall Street — Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq — encerraram a semana com quedas superiores a 5%, registrando o pior desempenho desde 2020, no auge da pandemia de Covid-19.

As tarifas, que já começaram a valer, incluem uma alíquota “básica” de 10% sobre produtos importados do Reino Unido e de diversos outros países. A China, principal alvo da medida, foi atingida com tarifas de até 34%, o que agravou ainda mais as tensões entre as duas maiores potências econômicas do planeta.

 "O grande empresariado não está preocupado com as tarifas, porque sabe que elas vieram para ficar", afirmou Trump em sua plataforma Truth Social. Segundo o presidente, as novas taxas vão "supercarregar" a economia dos EUA.

A fala contrasta com o sentimento de apreensão de vários setores da economia norte-americana. John Boyd Jr., presidente da Associação Nacional dos Agricultores Negros, foi direto: “Isso é uma desgraça nacional”. Ele alertou que os agricultores estão sendo duramente atingidos “em plena temporada de plantio” e acusou as tarifas de agravarem a incerteza em “um momento crítico”.

Efeitos no bolso e nas prateleiras

Entre os consumidores, o impacto já começa a ser sentido. Surya Ayalasomayajula, morador de Nova Jersey e eleitor republicano, contou à BBC que sua família cancelou as férias e passou a consumir apenas o essencial. “Essas tarifas não geram crescimento sustentável. Vão destruir as economias de muitos países, incluindo a dos EUA”, avaliou.

No setor empresarial, gigantes como Apple e Nike registraram perdas expressivas na bolsa e já analisam ajustes em suas cadeias produtivas. A Nike, cuja produção está concentrada na Ásia, viu suas ações despencarem 14% após o anúncio das tarifas. A Apple, por sua vez, tenta acelerar sua transição para a produção na Índia, mas ainda depende fortemente da China.

China reage e reforça confronto comercial

A China respondeu às tarifas com medidas retaliatórias e um gesto simbólico. Enquanto a nova rodada de taxações era anunciada nos EUA, o presidente Xi Jinping e outros membros do alto escalão do Partido Comunista estavam envolvidos em uma ação ambiental de plantio de árvores — sinalizando tranquilidade diante da ofensiva americana.

“O mercado já falou”, declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, ao compartilhar nas redes sociais os gráficos das quedas nos índices de Wall Street. Segundo ele, “é hora de os EUA pararem com os erros e resolverem as diferenças com base na igualdade”.

O correspondente Stephen McDonell observou que Pequim parece ter abandonado a expectativa de um acordo de última hora antes da entrada em vigor de tarifas de 54% contra produtos chineses. Com isso, o confronto pode se prolongar e afetar ainda mais o comércio internacional.

Repercussão global e temores de recessão

As tarifas não atingem apenas grandes potências. As Ilhas Malvinas, por exemplo, foram surpreendidas com uma alíquota de 42% sobre exportações para os EUA. Janet Robertson, dirigente de uma empresa pesqueira local, afirmou que a medida ameaça seriamente o setor de pesca, o mais importante da economia local.

Na Europa, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer intensificou os contatos diplomáticos e alertou, junto a outros líderes, que “uma guerra comercial total seria extremamente danosa”. O governo britânico, no entanto, indicou que não pretende retaliar de forma precipitada.

Prejuízo nos portos e nas lavouras

O impacto direto no comércio foi reconhecido por Gene Seroka, diretor do Porto de Los Angeles, o mais movimentado dos EUA. Ele estima queda de ao menos 10% nas importações até julho e alerta para perdas ainda maiores nas exportações, especialmente de produtos agrícolas como soja, milho e feijão.

Mesmo com esse cenário, Seroka afirma que o porto vai resistir. “É preciso ter mão firme no leme”, declarou à rádio BBC Radio 4.

O ambiente também é de incerteza entre analistas. Para Thomas Sampson, economista da London School of Economics, os critérios usados por Trump para calcular as tarifas são falhos: “Déficits bilaterais não dizem nada sobre justiça nas relações comerciais”, afirmou.

Protestos e novas rotas comerciais

A instabilidade gerada pelas medidas motivou protestos em todos os 50 estados americanos, além de manifestações em Londres e outras cidades europeias. Organizações estimam que estas serão as maiores mobilizações contra Trump desde o início de seu segundo mandato.

Ao mesmo tempo, empresas como a Nissan avaliam transferir parte da produção para os EUA, uma das metas de Trump com sua política tarifária. Outras, como a fabricante britânica de pipocas Joe & Seph's, já planejam abandonar o mercado norte-americano e focar em exportações para o Oriente Médio e a Ásia.

Com a retórica agressiva de Trump e a escalada de retaliações internacionais, o mundo volta a mergulhar em um cenário de incertezas econômicas e comerciais. Os próximos meses serão cruciais para avaliar até onde irá esse embate e quais serão seus verdadeiros custos.


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