A Polícia Federal encontrou indícios de que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha conhecimento de um plano para assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva como parte de um golpe de Estado após a eleição de 2022, disseram nesta quinta-feira duas fontes com conhecimento direto das investigações.
A conclusão constará do relatório final das apurações da PF para investigar a suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota eleitoral de Bolsonaro, que será entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) mais tarde nesta quinta, de acordo com as fontes.
Uma das fontes da PF detalhou à Reuters os indícios que envolvem Bolsonaro, mencionando que o então presidente estava no Palácio do Planalto no mesmo momento em que o plano para matar Lula e o então vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, foi impresso em um gabinete do palácio presidencial.
Há ainda, acrescentou a fonte, conversas de terceiros que levam a essa compreensão, entre outros elementos de prova.
O relatório final da PF após quase dois anos de investigações, segundo uma das fontes, terá mais de 800 páginas e vai propor que o ex-presidente -- tido como peça-chave na trama golpista -- seja responsabilizado criminalmente pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa.
Essa fonte destacou ainda que, além de Bolsonaro, importantes pessoas do primeiro escalão do governo dele serão responsabilizadas, como o companheiro de chapa na disputa presidencial de 2022 e ex-ministro da Casa Civil, general da reserva Braga Netto, e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general da reserva Augusto Heleno, além de mais 40 pessoas.
Procurada, o advogado Paulo Cunha Amador Bueno, principal representante da equipe de defesa de Bolsonaro, disse que vai aguardar o relatório para se manifestar. O advogado de Heleno disse que não vai se manifestar, enquanto a defesa de Braga Netto não respondeu de imediato a pedido de comentário.
A finalização das investigações sobre Bolsonaro e demais envolvidos na suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Lula seguirá para o ministro do STF Alexandre de Moraes, que repassará ao procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Caberá a Gonet, como chefe do Ministério Público Federal (MPF), decidir se denuncia criminalmente, se arquiva a apuração por falta de provas ou se pede diligências complementares. De acordo com uma fonte do MPF, o procurador-geral vai esperar o relatório sobre a suposta tentativa de golpe para analisar em conjunto com outras investigações em andamento contra o ex-presidente, mas não há um prazo para isso.
As acusações formais da PF seriam um novo golpe nos planos de Bolsonaro de concorrer à Presidência em 2026. Aliados dele querem anular decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de torná-lo inelegível devido aos seus ataques à legitimidade do sistema de votação do país em 2022, mas o avanço das investigações deve complicar a situação do ex-presidente.
PLANO DE ASSASSINATO
A iniciativa da PF de apresentar o pedido de indicamento de Bolsonaro ocorre dois dias depois de a corporação ter deflagrado uma operação em que prendeu um policial e quatro militares do Exército -- um deles um general que foi ministro interino de uma pasta no Palácio do Planalto sob Bolsonaro -- por terem supostamente arquitetado um plano para assassinar Lula e seu então candidato a vice Alckmin, além do ministro Moraes, do STF.
De acordo com as investigações da PF, em ao menos duas circunstâncias, nos dias 9 de novembro e 6 de dezembro de 2022, o documento com planos para assassinar Lula, Alckmin e Moraes foram impressos no Palácio do Planalto em momentos em que o então presidente Bolsonaro se encontrava no local.
Essa constatação foi detectada com o cruzamento da localização do celular do general da reserva Mario Fernandes, preso na operação de terça-feira, e o histórico de impressão da impressora do Planalto utilizada na ocasião.
Bolsonaro se tornou investigado pelo STF no caso da suposta tentativa de golpe, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), cinco dias após os ataques de 8 de janeiro de 2023 por bolsonaristas radicais às sedes dos Três Poderes, em Brasília, com o objetivo, segundo a PF, de derrubar o governo Lula.
Além da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro já foi indiciado pela PF em outros dois casos: a suspeita de fraude no cartão de vacinação contra a Covid-19 e na investigação sobre apropriação indevida de joias recebidas como presente de Estado do governo saudita.
Por Ricardo Brito/Reuters
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