A enorme estrutura de cor branca e com a inscrição pintada Porcellanati na fachada, chama a atenção daqueles que passam por Mossoró pela BR-304. O que poucos devem saber é que a indústria de origem catarinense e que sonhava em ter larga produção em uma espécie de polo cerâmico no interior do Rio Grande do Norte, vive em crise e que seus empregados vivenciam o medo do desemprego a todo momento. São dívidas milionárias que já foram responsáveis inclusive pelo fechamento da fábrica em 2014. Desde então, as coisas nunca engrenaram.
Segundo um ex-funcionário que preferiu ter a identidade preservada, muitos trabalhadores comentam que a fábrica só não fechou suas portas com cadeado ainda, porque luta para manter uma suposta atividade fabril e assim, não correr o risco de perder o terreno de 120 mil metros quadrados situado no Distrito Industrial de Mossoró ". A empresa estaria em processo para se transformar em Azimult, sob um contrato de arrendamento.
"Me convidaram para ir trabalhar nessa Azimult, mas eu disse que eu não queria, porque uma empresa dessa vem só para eles [a Porcellanati] não perderem o terreno. Porque esse terreno já era para terem entregado ao prefeito, todo mundo sabe, aí eu entro e passo mais dois anos e ela fecha de novo. Isso aí é só para segurar o prédio, tudo fachada", disse, lembrando que sua saída da empresa foi em 2014, ano em que a empresa fechou as portas.
"Eu dei entrada no seguro desemprego depois que saí de lá, mas sem receber nada de multa rescisória, sem FGTS, sem nada, aí falaram para mim que no sul eles sempre fazem daquele jeito e dá certo então eu disse que aqui era diferente e que eles podiam até ganhar numa primeira instância mas numa segunda instância ser barrado aí ele disse que meu advogado não sabia de nada", afirmou o homem que vamos chamar pelo nome fictício de Lourenço. Ele recebeu na época R$ 14.800,00.
O Mossoró Hoje teve acesso com exclusividade a um áudio no qual o advogado da empresa Porcellanati, Marcos Nicodemos diz: "Pode acontecer, mas não aconteceu ainda né cara. Daí parece que vocês ficam procurando coisas para dar errado também sabe! ah, porque pode acontecer que vai dar errado, ah cara! a gente faz esse procedimento aqui no sul já faz mais de dois anos tá, entrada de seguro desemprego sem pagar FGTS e depois eu pagando parcelado. A gente faz aqui embaixo [sul], o que a gente vai fazer aí em cima [Nordeste] e dá certo.
Em julho de 2019, vários ex trabalhadores protestaram interditando a BR-304 em frente à indústria fechada desde 2014, cobrando o pagamento de seus direitos trabalhistas. Na época, eram mais de R$ 3,5 milhões de reais devidos pela Porcellanati referente a rescisões de contratos.
Em 2021, a Prefeitura de Mossoró chegou a pressionar à empresa tentando a reversão do terreno, sendo mais direto, queria o retorno do bem imóvel ao patrimônio público. No entanto, a pressão não alcançou o objetivo desejado, salvo o anúncio de que a produção seria mantida, mesmo que distante das metas planejadas anos atrás. A Porcellanati, sem dinheiro para honrar compromisso com ex empregados, fornecedores , entre outros credores, deve fechar mais um capítulo de sua história em Mossoró, ao anunciar um acordo de arrendamento com a Azimult. Esta assumirá a unidade mossoroenese.
Funcionários passaram a ser convocados para assinar a rescisão do contrato de trabalho. Acordos passaram a ser feitos com os operários. Mas, o futuro é incerto, pois muitos temem não receber seus valores financeiros da forma como prevê a lei trabalhista.
Anonimamente trabalhadores, testemunham o desmonte e a retirada de equipamentos valiosos da fábrica. Isso dificulta a vida de quem tem dívidas a receber do grupo catarinense e luta na justiça para vê-las quitadas, pois, bens que poderiam ser leiloados judicialmente para o pagamento das dívidas, já estariam desaparecidos.
De Mossoró a Porcellanati recebeu o terreno, água, luz, gás natural e acesso, além de isenção fiscal por 10 anos (uma renúncia de R$ 35 milhões) e empréstimo na casa dos 70 milhões de dólares para a compra de equipamentos, prometendo gerar pelo menos 99 empregos diretos no município de Mossoró, aquecendo assim a economia.
O Portal Mossoró Hoje entrou em contato com o advogado Marcos Nicodemos, mas até o fechamento da reportagem não obteve retorno. O espaço permanece aberto para que o mesmo possa se expressar sobre o assunto.
Decisão da Justiça impediu reversão do terreno em favor da Prefeitura de Mossoró
Em novembro de 2021, a juíza Maria Neíze de Andrade Fernandes, que substituía o desembargador Vivaldo Pinheiro, deferiu o pedido da Porcellanati, representada pelo advogado Daniel Maia, e suspendeu o decreto assinado pelo prefeito de Mossoró Allyson Bezerra, para que o terreno da empresa voltasse para o Município.
Em Mossoró, a Porcellanati iria gerar mais de 150 empregos entre diretos e indiretos.
Mossoró Hoje


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