A Justiça Federal do Rio Grande do Norte começou a ouvir nesta quarta-feira (4) os réus no processo da Operação Manus, que apura suposto pagamento de propina na construção da Arena das Dunas, em Natal. Os depoimentos deste primeiro dia foram do empresário Carlos Frederico Queiroz Batista da Silva, o Fred Queiroz, e do ex-executivo da Odebrechet Ambiental, Fernando Luiz Ayres, este, através de vídeo-conferência.
Em depoimento ao juiz federal Francisco Eduardo Guimarães, titular da 14ª Vara da Justiça Federal, Fred Queiroz confirmou que foi a São Paulo em 2014 buscar R$ 1 milhão para a campanha a governador do ex-ministro Herique Eduardo Alves. O dinheiro, que seria pagamento de propina, foi depositado na conta da empresa dele, a Prátika, e de outras pessoas no Rio Grande do Norte.
Segundo Queiroz, ele sabia que o dinheiro era ilegal, mas como a campanha estava na reta final, tinha compromissos e fornecedores a pagar. Por isso, explicou, recebeu e sequer questionou a origem dos recursos. Disse que não sabe de onde vinham, mas tinha certeza que era dinheiro não declarado, ou seja, caixa 2. Ao todo, a empresa dele recebeu R$ 9 milhões durante a campanha. Grande parte desse valor em espécie.
*G1 RN
Ainda de acordo com o empresário, que prestou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, outros políticos (prefeitos, vices, ex-prefeitos, vereadores e deputados) receberam recursos para mobilizar a campanha no interior. "A ideia era transformar esse apoio em votos, o que não houve porque fomos derrotados na campanha", disse.
Fred ainda declarou que a esposa e o filho, que são socios-minoritários na empresa, nao tinham influencia nas decisões, nem cometeram qualquer irregularidade. Questionado pelo procurador do MPF, Queiroz ainda afirmou que só decidiu fazer a colaboração pra comprovar que a família dele não teve participação no caso.
De acordo com Fred, a Prátika foi contratada para fazer ações de mobilizações na campanha a governador de Henrique Alves. Ele também explicou a participação de outros réus e pessoas citadas nas investigações na campanha.
Outros réus
Segundo a prestar depoimento, Fernando Ayres afirmou que decidiu apoiar a campanha de Henrique Alves por ele ter "perfil de gestor que apoia a iniciativa privada". Um dos motivos, deixou claro que não o único, porque constava no plano de governo do peemedebista a venda da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern). Ele comentou ainda sobre o valor de R$ 2 milhões repassado pela Odebrecht Ambiental, que seria um compromisso de Henrique Alves com o ex-deputado Eduardo Cunha.
O advogado do ex-ministro Henrique Alves, Marcelo Leal afirmou que Jamais se negou o repasse de dinheiro em espécie para a campanha. "O ato de corrupção pressupõe contrapartida. Nenhuma testemunhas ouvidas até agora afirma ato de contrapartida do ministro, de maneira, que pode-se até estar diante de um caso de caixa 2, mas não há ato de corrupção", considerou.
A Operação
A denúncia envolve os réus Eduardo Cosentino da Cunha, Henrique Eduardo Lyra Alves, José Adelmário Pinheiro Filho, Carlos Frederico Batista da Silva, Fernando Luís Ayres da Cunha Santos Reis e Arturo Silveira Dias de Arruda Câmara.
Deflagrada em junho de 2017, a Operação Manus investiga corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro na construção da Arena das Dunas, em Natal. Segundo a PF, a Manus foi um desdobramento da operação Lava Jato.
Na ocasião em que foi deflagrada a ação, foi preso o ex-ministro Henrique Alves e um novo mandado de prisão foi cumprido contra o ex-deputado Eduardo Cunha. Ambos são do PMDB e foram presidentes da Câmara dos Deputados. Alves foi ministro do Turismo nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer e candidato a governador do RN em 2014.
Durante a análise do material apreendido da Manus foram identificadas "fortes evidências" quanto à atuação de outras pessoas pertencentes à organização criminosa, que continuou praticando lavagem de dinheiro e ocultação de valores. Conforme o MPF, também foi identificado um esquema criminoso que fraudava licitações em diversos municípios do estado visando obter contratos públicos que, somados, alcançam cerca de R$ 5,5 milhões, para alimentar a campanha ao governo.
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