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Por Oberi Penha*

Com tantas boas notícias com relação a atividade do turismo, cabe uma reflexão sobre como uma atividade tão forte e dinâmica que movimenta mais de 50 cadeias produtivas em seu entorno, vem se estabelecendo e se consolidando em nossa cidade e região.

Com a desmobilização do setor petrolífero, outrora grande fator de empregabilidade e gerador de renda em Mossoró, onde praticamente todos os hotéis, restaurantes e demais prestadores de serviços sobreviviam em razão da exploração dos campos de petróleo, a cidade ficou desfalcada em seu famoso tripé, base de sua economia: petróleo e gás, sal marinho e fruticultura tropical irrigada.

A exploração do sal vive momentos de reafirmação no cenário nacional. A busca do reconhecimento de sua importância para a economia brasileira, cujos aspectos econômicos e jurídicos, não condiz com os fatos, vez que aqui se produz mais de 90% de toda produção brasileira, as salinas ainda são responsáveis pela manutenção de milhares de postos de trabalho.

Já a produção de frutas tropicais, esta sim, cada vez mais forte e dinâmica, avança a passos largos, sendo um dos itens responsáveis pelo superávit da balança comercial do Estado do RN, levando o nome de Mossoró além das fronteiras brasileiras, alcançando a Ásia, os Estados Unidos, a África, a União Europeia e o Reino Unido. Sem falar que cerca de 100 mil pessoas estão empregadas no setor.

O Turismo por ser uma atividade nova e que já merecia há muito tempo ter seu lugar de destaque na economia regional, andou de lado, assim como anda o caranguejo, pela falta de uma política clara de desenvolvimento dos inúmeros governos que administraram o RN, ao longo das últimas três décadas, todos só tinham olhos para a Capital Natal. Já houve registro de que, há muitos anos atrás um secretário de Estado do Turismo soltou uma frase infeliz de que fazer turismo em Mossoró era programa de índio. Enquanto o mesmo soltava essa pérola, os vizinhos Estados e coirmãos PB e CE, avançavam com o processo de interiorização do Turismo.

Na Paraíba, além da capital João Pessoa, entendeu-se que vender também o São João de Campina Grande e Patos, as pegadas dos dinossauros em Souza e os aspectos culturais de Areia, por exemplo, como sementes para o futuro, talvez fosse um bom negócio. No Ceará, em três dias era tempo suficiente para que o turista usufruísse dos atrativos da capital alencarina, manter os turistas no Estado por mais tempo parecia ser um bom negócio também, daí passou a entrar no roteiro a Serra de Guaramiranga, Aracati com sua bela Canoa Quebrada, as festividades religiosas do Padre Cícero e a Rota das Falésias. Ambos os Estados acertaram em cheio em suas decisões. O turista passa mais tempo em seus domínios e ambos evitam a chamada evasão de renda.

E no Rio Grande do Norte¿ a ideia equivocada de só vender Natal, trouxeram ao longo dos anos prejuízos incalculáveis ao Estado, além de não permitir que os turistas visitassem outros atrativos além do binômio sol e mar, possibilitou que o mesmo através de Natal, estendesse seus pacotes para Estados como PB e PE, dada proximidade desta com cidades como Recife, João Pessoa, Caruaru e Campina Grande. Ou seja, estava caracterizado a evasão de renda.

Lembro, sem muitas alegrias, que viajar para uma ABAV, no Rio ou em São Paulo, ou mesmo participar de um workshop da CVC em São Paulo ou em Aracaju, onde o RN estava representado (ou deveria estar representado) como um Estado, invariavelmente o que se via era o estande do RN estar adesivado como Natal. As dunas de Genipabu e a praia de Pipa tomavam de conta do estande, destoando dos demais estados do NE que naturalmente se apresentavam de forma diferente. Acanhado, com folders do Mossoró Cidade Junina, o Guia Turístico e as garrafinhas de areia coloridas de Tibau em mãos, mendigava um pequeno espaço no estande, sob o olhar torto do staff governamental. Não era fácil engolir tudo isso, mas estávamos sempre lá, mesmo que como intrusos.

O tempo, como se diz: “senhor da razão”, provaria, quase 20 anos depois que tudo aquilo era um equívoco. Perdendo espaços para os vizinhos PB, CE e PE, o RN se viu correndo atrás do prejuízo.

Enquanto Mossoró, cidade polo e líder da região, mesmo que aos poucos consolidava seu calendário espetacular de eventos e Pipa cortava seu cordão umbilical com Natal, claro, depois de usufruir de todos os benefícios, o RN viu que programa de índio mesmo foi vender apenas e tão somente Natal, em detrimento de todo um processo de interiorização.

Isto se arrastou até pouco tempo atrás, quando o Ceará ao final de 2016 “anexou” Mossoró, Tibau, Areia Branca, Grossos e Porto do Mangue à sua Rota das Falésias, cinco dos atuais quinze municípios do polo de desenvolvimento do Turismo Costa Branca no RN passou a agregar valor à rota cearense, que também só explora sol e mar, ficou evidente que o Estado deveria agir com rapidez a tapa de luva do CE, que convenhamos está um passo à frente quando o assunto é exploração do Turismo.

A reação, antes tardia que nunca foi imediata, corroborado, temos que dar o crédito, a uma atuação diferente de tudo que se viu anteriormente na pasta estadual de Turismo, talvez por estar à frente da mesma um empresário do setor que teve o discernimento de sair da nova Roma e dar um pulinho na região para conhecer onde realmente estavam os principais atrativos do RN.

Hoje, depois de tantas lutas, de tantas idas e vindas, de tanto sentimento de desistir, de tanto sentimento de desistir de desistir, vejo que é chegada a hora de o RN viver um novo momento em sua economia com o Turismo.

A Campanha de promoção do Turismo do Estado, contemplando os cinco polos de desenvolvimento; Costa das Dunas, Costa Branca, Serrano, Agreste-Trairi e Seridó, trazem uma nova perspectiva para a atividade. Sim, claro que o sol e mar se constituem como o que motiva turistas de todo o Brasil e do exterior se deslocar para o Nordeste brasileiro, nada temos contra isso, também possuímos praias em nossa região e gostaríamos que estas também fossem visitadas, mas pergunto: onde mais pode ser encontrado em uma mesma área, em um raio de 100 km, cavernas, serras, dunas de areias coloridas, salinas, águas termais, sítios arqueológicos, ambientes para a prática do kite surf, parapente, voos de asa delta, eventos e muita cultura¿ não preciso dizer, né mesmo¿. Tudo começa aqui.

Agora com o advento de certificação do nosso Aeroporto Dix-sept Rosado, com a possibilidade real da companhia aérea Azul se instalar e operar com voos para Recife/PE, com a profissionalização do Mossoró Cidade Junina, um dos maiores eventos do gênero realizado no Brasil, com a perspectiva de se colocar para visitação o parque nacional de Furna Feia, o maior conjunto de cavernas do Brasil, como não estar otimista, como não imaginar que em breve o Turismo será a principal atividade econômica de Mossoró e Região e não acreditar que isso tudo é irreversível?

Quando olhamos para trás e vemos tudo que passamos para chegar neste estágio, só nos resta acreditar que tudo valeu a pena, que todo o sacrifício foi válido, lamentamos apenas que pessoas que lutaram tanto por isso, como o saudoso fotografo José Rodrigues, que se foi, sem ver seus devaneios (muitos assim achavam) caminhando para se tornar realidade. Foi através de suas intempestivas reações e da crítica ácida, que pude enxergar no meio de tantas agruras que nos cercavam, uma luz no fim do túnel para tudo quilo que ele pregava como uma espécie de religião. Saudades daquele ser de cabelos avoaçados, como Einstein, e de suas convicções inabaláveis.

Não chegamos ainda aonde queremos e merecemos está, caro Zé Rodrigues, onde quer que esteja. Longe disso, mas quem duvida que lá chegaremos? Alguém aí, que está lendo estas mal traçadas linhas, acha isso impossível, ou ainda acha que fazer turismo por estas plagas é fazer programa de índio? Turismo é desenvolvimento.

*Oberi Penha é Consultor de Turismo, qualificado pela Organização Mundial do Turismo. Integra o Grupo Gestor do Turismo e exerce as funções de Secretário Executivo da Câmara Setorial do Turismo, do Conselho Municipal de Turismo de Mossoró e do Mossoró Convention & Visitors Bureau.

Artigo extraído da coluna "TURISMO É DESENVOLVIMENTO" no Portal Rede News 360.

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