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Por Carlos Santos

Início deste mês, uma menina de 5 anos morreu em decorrência de espancamento provocado pelos próprios país, segundo atestou um inquérito policial no interior de São  Paulo. Na segunda-feira (12), mais um policial, pai de família, foi morto na Linha Amarela – Rio de Janeiro.

Os dois casos ocorreram em estados distantes do lugar em que vivo; nenhuma das pessoas envolvidas era figura pública, midiática etc.

Como não se comover com essas barbaridades?

Seus nomes? Não sei, francamente nem procurei saber. Evito o detalhismo sádico de casos dessa natureza.
Acho que isso é compaixão: sentir a dor por outro, absorver o sofrimento alheio.

Agora me aparece Marielle, Marielle Franco, uma vereadora carioca, descendente de negros, nascida e criada no complexo de favelas da Maré. Mãe, ativista social, lésbica, esquerdista.

Pelo que vi em relatos jornalísticos e num vídeo, houve execução sumária. Com ela, o jovem motorista Anderson Gomes, casado, pai de uma criancinha que exige cuidados especiais.

Nunca tinha ouvido falar sobre Marielle. Quanto a Anderson, menos ainda. Dois desconhecidos para mim, até agora há pouco.

Mas suas históricas me comovem. Sinto uma dor, absorvo o sofrimento de seus familiares, amigos também.

Não parei para pensar o que eram, faziam, pensavam. Nem sei por que foram executados daquela forma.

Claro que eles morreram como tantos outros tombam diariamente em qualquer parte do Brasil, com crueldade e frieza. Serão estatísticas, talvez virem símbolo de uma luta contra a violência, sei lá.

Poderão ser esquecidos adiante, quando surgir outro caso capaz de gerar comoção nacional e planetária.

Paralelamente a essa catarse, o que me choca é a reação de tantas pessoas de bem, esclarecidas e por enquanto salvas de barbárie semelhante, julgando a vereadora assassinada. Punindo-a novamente.

Quase nenhuma dessas pessoas advoga a elucidação dos homicídios, a prisão dos criminosos, como se fosse justificável matar a sangue frio, sem nenhuma chance de defesa.

Aflora em mim a ditadura do “lead” (cabeça da matéria, jargão do jornalismo para definir a informação básica no inicio do texto). Como diria o folclórico “Cosme Dantas da Rocha, o “Vovô”, nos tempos primários de minha vida em “O Mossoroense”, a matéria tem que ter “quem matou, quem morreu e a arma do crime”.

Perdemos a capacidade de ter compaixão e passamos a ser seletivos na indignação. Antes de pedirmos investigação ágil, séria e eficiente, com julgamento e punição de culpados, sentenciamos uma das vítimas por ela ter ideias contrárias às nossas convicções. Não ser um dos nossos.

A revolta é contra o cadáver.

Empírico, sem estudo de doutor para compreender o ser humano sob uma ótica cientificista, da psicologia à sociologia, tenho mais perguntas a fazer do que respostas a dar nesse episódio. Quero aprender mais, quero repassar conhecimento.

Contudo tenho o direito de achar estranho que muitos vejam como uma insanidade o Talibã decapitar ou queimar vivo seus inimigos ou o Boko Haram na Nigéria sequestrar, estuprar e matar centenas de mulheres, mas não aceitem que a morte de uma carioca ‘desconhecida’ cause pesar em todo o mundo.

Não choro por ti, Marielle. Minha dor é por nós mesmos, seres humanos ‘civilizados’.

Vá em paz!


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