Independência

 




Cafeziho com César Santos* 
Se o Partido dos Trabalhadores (PT) pretende ter candidatura própria à sucessão municipal de Mossoró, deve deixar o governo e seguir o seu rumo.
A opinião, em forma de aviso, é do presidente da Câmara Municipal de Mossoró e aliado de primeira hora do Palácio da Resistência, Jório Nogueira (PSD).
Ele entende que se o PT está no governo e prepara a candidatura do vice-prefeito Luiz Carlos Martins, é uma traição. E para deixar claro que não está para brincadeira, Jório Nogueira faz duras críticas à gestão do PT à frente da Secretaria de Cultura do Município.
“Não tem projeto”, afirma.
“Até o nosso Corredor Cultural está esquecido”, reforça, para em seguida defender mudanças.
“Sem não tem projeto, não fica.”
Jório, que também é presidente da Federação das Câmaras Municipais do Rio Grande do Norte (FECAM), tomou o “Cafezinho com César Santos” na sede do JORNAL DE FATO e ao defato.com falou de política e de gestão pública.
Ele prestou conta de sua gestão, disse que tem procurado melhorar o acesso da população à Casa do Povo e que esse trabalho tem recebido o reconhecimento. Jório Nogueira disse que o seu candidato em 2016 é o prefeito Silveira Júnior, mas não descartou a sua própria candidatura, caso seja a vontade do seu líder, governador Robinson Faria (PSD).
JORNAL DE FATO – O Tribunal de Contas do Estado (TCE-RN) recomendou que Prefeituras, Câmaras e o próprio Governo do Estado investigassem a folha de servidores públicos, diante de graves distorções encontradas pela própria Corte. O senhor, como presidente da Fecam, como vê essa situação?
JÓRIO NOGUEIRA – Em primeiro lugar, quando eu assumi a presidência da Fecam, no início deste ano, senti a dificuldade de relacionamento dos Legislativos municipais com o Tribunal de Contas. Os presidentes de Câmaras reclamavam que as consultas que eram feitas ao TCE demoravam a ter uma resposta. Muitas vezes, as medidas tinham de ser tomadas em determinado tempo, e as respostas só chegavam depois. O presidente achava que tinha agido de forma certa, mas o TCE entendia que era errado, só que já havia sido feita. Então, quero dizer que acho muito importante o trabalho preventivo que o Tribunal de Contas está fazendo agora, inclusive, quero parabenizar ao presidente da Corte, conselheiro Carlos Thompson, por essa iniciativa.
DE QUE forma a Afecam vai colaborar com o trabalho preventivo do TCE?
FIRMAMOS um convênio com o Tribunal de Contas e com a Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (FEMURN), para a realização de uma série de encontros educativos. Esses encontros servem para que o corpo técnico do TCE oriente os gestores no trato correto dos recursos públicos, principalmente sob o ponto de vista técnico. O Tribunal mostra exatamente o que o gestor pode fazer e aquilo que não pode ser feito. Vamos realizar os encontros em todas as regiões do Estado. O primeiro aconteceu em Mossoró, com gestores do Médio Oeste; o segundo em Pau dos Ferros, abrangendo todo o Alto Oeste. Os próximos serão em Natal e Caicó e depois seguiremos para outras regiões.  Entendemos que isso é um avanço e quando o Tribunal de Contas nos oferece esse tipo de assessoria, nós só podemos agradecer, porque a partir daí os presidentes de Câmaras terão a exata noção do que é certo ou errado.
A RECOMENDAÇÃO do TCE-RN revelando irregularidades graves não passa a ideia de denúncia antes da orientação?
NÃO vejo assim. Acho importante essa iniciativa do presidente do Tribunal de Contas, Carlos Thompson, de tornar público a existência de várias irregularidades, inclusive algumas bastante graves, porque a partir daí será possível fazer um trabalho de depuração nas Câmaras e Prefeituras. Quero dizer aos meus colegas presidentes que tomem as providências urgentes e necessárias, porque o Tribunal está oferecendo a oportunidade de consertar os erros antes da punição. A partir daí, será possível todos exercerem os seus mandatos com mais transparência, mais segurança e, acima de tudo, zelando pelo bem público.
A CÂMARA Municipal de Mossoró está listada na série de irregularidades reveladas pelo Tribunal de Contas?
OLHE, eu ainda não tive acesso à relação elaborada pelo TCE, no entanto, pelas recomendações que chegaram ao meu conhecimento, é provável que existam alguns casos de irregularidades. Inclusive, a minha assessoria jurídica detectou alguns pontos que precisam ser resolvidos, como cargos que existiam na Câmara de forma errada. Na auditoria realizada pelo Tribunal de Contas, algumas irregularidades foram constatadas e nós tomamos as providências. Quero dizer que nós estamos atendendo o mais rápido possível todas as recomendações do TCE, não apenas para mostrar a nossa determinação de fazer a coisa certa, mas de cumprir com o nosso dever de homem público, que é zelar pelo patrimônio do povo.
A SUA gestão tem se destacado com medidas pontuais e que recebe, de certa forma, a aprovação popular. O senhor definiu uma pauta positiva pensando em projetos futuros?
MEU projeto é fazer uma boa gestão. Isso é uma questão de espírito público. Eu já estou cumprindo o meu quarto mandato, tenho experiência suficiente para realizar uma gestão que seja compatível com a ansiedade da população. Por exemplo, as pessoas quando visitavam a Câmara reclamavam das dificuldades de acessibilidade, principalmente de portadores de deficiência física. Decidimos melhorar essa condição. É uma obra de pequeno investimento, mas de grande importância. Estamos colocando um novo elevador para atender a essas pessoas que precisam de atenção especial. É bom ressaltar que fizemos um apelo aos proprietários do imóvel de nossa sede para que eles assumissem essa conta e fomos atendidos. A obra de melhorias não tem recursos públicos, o que é muito importante neste momento de crise.
ESSE tipo de obra torna o gestor popular, o que sugere projeto político-eleitoral mais audacioso, o senhor não concorda?
VEJA, não estou pensando sobre eleições, mas sim fazer uma boa gestão. Veja a criação da TV Câmara, que é o marco na comunicação do Legislativo mossoroense. É um novo veículo de comunicação social, com uma programação diversificada, programas ao vivo, com o canal 24 horas no ar. Na grade, já temos programas produzidos por profissionais da cidade, como o Jornal da Câmara e Esporte Legal, que estreará nesta segunda-feira (24). Muito em breve, teremos outros programas valorizando a cultura, saúde, comportamento etc.. Esse é um ponto positivo da minha gestão, que creio que é recebido pela população.
A SUA gestão também acaba de criar a Fundação Vereador Aldenor Nogueira, que será responsável pela coordenação da TV Câmara. Essa entidade, no entanto, vem criando polêmica, com queixas de vereadores da oposição. Isso não pode trazer prejuízo à imagem do Legislativo?
NÃO. O debate é natural, inclusive, deve existir sempre. Agora, o mais importante é o papel que a fundação vai cumprir. É preciso ser dito que o nome do meu pai (Aldenor Nogueira) na fundação não foi iniciativa minha, mas sim dos meus colegas vereadores. Eu não legislo em causa própria. A iniciativa dos colegas, quero dizer, é felicidade muito grande para mim, porque o nome do meu pai é colocado numa entidade que vai exercer um papel muito importante na comunicação social no Legislativo e na cidade de Mossoró. Além da fundação e da obra de acessibilidade, realizamos muitas outras ações importantes, como o projeto Câmara Cultural, que estamos levando a outros pontos da cidade, inclusive, servindo para resgatar o Corredor Cultural da cidade, que está esquecido pela Secretaria de Cultura; implantação do ponto eletrônico; antecipação de 40% do décimo terceiro salário dos servidores públicos; criamos as cabines da imprensa, entre tantas outras. Então, acho que estamos no caminho certo.
HOUVE reação em relação ao controle da Fundação Vereador Aldenor Nogueira, inclusive, de vereadores da bancada governista. A sessão que criaria a fundação foi suspensa, com discursos inflamados de lado a lado. Esse impasse dividiu a base de apoio de sua gestão?
HOUVE o desentendimento, é verdade. Faltou diálogo de nosso grupo para conduzir melhor essa questão. O problema não foi Jório Nogueira, é bom que se deixe claro. Cinco vereadores da nossa bancada entenderam de se juntar à oposição, que até hoje não sei por qual motivo. Vou até citar os nomes: Celso Lanche (PV), Alex do Frango (PV), Tassyo Mardonyy (PSDB), Lucélio (PTB) e Genilson Alves (PTN). Esse grupo tentou uma manobra para ficar com a direção da fundação. Eu apenas chamei todos da bancada para dialogar e disse que não queria ser visto como o político que ganhou as presidências da Câmara, da Afecam e da fundação, inclusive, coloquei de forma bem clara que eles ficassem à vontade para tomar o rumo que quisessem.
MAS, o que aconteceu, presidente?
OLHE, só eles podem responder. Agora, depois do episódio, onze vereadores da bancada governista estiveram comigo, repudiando o comportamento desses cinco companheiros que, ao invés de dialogar com a nossa bancada, foram procurar a oposição. Isso provocou o desentendimento dentro da nossa bancada e eu me coloquei à disposição de abrir o diálogo com todos, para apaziguar a situação. De minha parte, não tenho problema com nenhum dos vereadores. Acredito que o diálogo será restabelecido e a situação será resolvida (nota do blog: a Fundação Vereador Aldenor Nogueira foi criada em sessão extraordinária nesta sexta-feira, 21, sem a presença dos vereadores de oposição e dos cinco governistas rebelados).
O SENHOR citou agora pouco, ao falar sobre o projeto Câmara Cultural, que o Corredor Cultural de Mossoró estava esquecido. Essa é uma crítica à gestão do prefeito Silveira Júnior (PSD)?
OLHE, César, a gente vê que o Município passa por algumas dificuldades, por crise, para ser mais justo. A Secretaria de Cultura mostra que tem algumas dificuldades para realizar a sua missão, principalmente na organização de alguns eventos do nosso calendário. Não acho que a culpa é do prefeito. Quando o gestor nomeia um secretário, ele tem de ser preparado para realizar a sua função com competência. É preciso ter ideias, projetos. Acho que a Secretaria de Cultura não tem apresentado projetos e o prefeito é quem fica com essa dificuldade, mas a culpa não é dele, e sim de quem está conduzindo a pasta da cultura. Todos nós sabemos que o Corredor Cultural era bastante movimentado, com muitos projetos, atividades, e agora praticamente não acontece nada. Mas, para não deixar morrer, vamos fazer a nossa parte, preenchendo essa lacuna com o projeto Câmara Cultural.
O SENHOR faz duras críticas à Secretaria de Cultura. Essa pasta é conduzida pelo PT, que indicou Izolda Dantas. Quer dizer que o PT não sabe administrar?
O PT tem dificuldade de administrar a partir do Governo Federal, ou seja, essa questão do PT não é só local, mas sim nacional. Acho que falta habilidade de o PT gerir alguma pasta, e olhe que o PT tem a cara da cultura. Então, a cultura está nas mãos do PT e ele não está fazendo uma boa gestão, não está fazendo acontecer da forma que deveria acontecer.
COMO presidente da Câmara e parceiro da gestão Silveira Júnior, não caberia uma cobrança mais efetiva?
EU TENHO cobrado muito. Inclusive, tenho dito que quem tem projeto, fica; quem não tem, sai. O prefeito deu oportunidade a alguns secretários e os que não estão correspondendo devem sair. O prefeito não pode pagar por erros de auxiliares. Defendo que o prefeito tenha atitude, que faça as mudanças que precisam ser feitas.
PEGANDO o gancho do que o senhor disse: quem tem projeto, fica; quem não tem, sai. Uma parte do PT tem projeto de candidatura própria com o nome do vice-prefeito Luiz Carlos Martins. É o caso de sair ou ficar?
SE O PT tem essa pretensão de candidatura própria, a primeira coisa que deveria fazer é romper com o prefeito. Não acho certo o partido ficar dentro do governo preparando uma arapuca para o prefeito. O prefeito precisa de aliados que ele possa confiar e que possa contar nas eleições de 2016. Então, se o PT tem a pretensão de candidatura própria, está no momento de deixar o governo e seguir o seu rumo. E se eles, realmente, estão planejando uma candidatura, eu considero isso uma traição.
A SITUAÇÃO do PMDB não é parecida com a do PT. O presidente estadual, ministro Henrique Alves, veio a Mossoró para dizer que o PMDB terá candidatura própria à Prefeitura em 2016. Mesmo assim, o partido, com três vereadores, faz parte da base governista. Não é uma incoerência?
A QUESTÃO do PMDB é diferente. Os três vereadores do partido, Alex Moacir, Izabel Montenegro e Claudionor dos Santos, têm sido muito corretos com o governo municipal. Eles, inclusive, vêm sinalizando que querem apoiar a reeleição do prefeito. Hoje, existe um apoio administrativo, e no próximo ano poderá ter o apoio político-eleitoral. Essa posição dos vereadores não é a mesma do PT, que, ao que sabe, quer ter candidato próprio à sucessão municipal.
O NOME do senhor surge como alternativa dentro do PSD para disputar a Prefeitura, caso o prefeito Silveira Júnior continue com alto índice de desaprovação popular. O senhor tem essa pretensão?
O MEU nome está à disposição para uma candidatura à reeleição de vereador. Esse é o meu projeto político para 2016. Agora, o PSD tem vários nomes, todos bons, e vamos ter novos filiados, igualmente, com condições de serem candidatos. Não posso negar que o meu nome esteja à disposição do partido, mas quero deixar bem claro que a minha convivência com o prefeito Francisco José Júnior é muito boa. Eu desejo que ele supere as dificuldades que vem enfrentando e que possa ter condições de renovar o mandato no próximo ano. Meu candidato a prefeito será ele. Eu sou liderado pelo governador Robinson Faria, presidente estadual do nosso partido, e se Robinson tem o projeto de apoiar o prefeito, nós também vamos apoiar.
QUAL a avaliação que o senhor faz da gestão Silveira Júnior?
AQUELA avaliação negativa de 70% de reprovação faz parte do quadro daquele momento. Acredito que a situação hoje é outra, e que ele possa ter melhorado. Acho que o prefeito precisa modificar alguns secretários, tomar de conta de sua gestão, cobrar mais dos auxiliares, para que ele possa recuperar a sua popularidade. Ele precisa fazer um trabalho que chegue à população. Precisa fazer que a sua assessoria de comunicação possa trabalhar com capacidade de melhorar a sua imagem. É verdade que tem muitas coisas que precisam melhorar, mas creio que o prefeito já tem algum avanço.
O SENHOR acha possível que o prefeito ainda tem condições de se viabilizar como candidato à reeleição, mediante o quadro negativo que vive hoje?
É POSSÍVEL, até porque acho que ele é um rapaz inteligente. Não foi à toa que ele ganhou uma campanha (eleições suplementares com a candidatura sub judice de Larissa Rosado, em 2014) com maioria esmagadora. É jovem e determinado. Então, tem condições de se recuperar. Se o prefeito fizer as mudanças que precisam ser feitas, acho possível uma recuperação para disputar a Prefeitura em 2016.
* FOTOS DE MARCOS GARCIA

*Fonte: Jornal De Fato

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