As manifestações contra o governo Dilma, marcadas para o dia 16 de
agosto deste ano de 2015, se transformaram na grande esperança dos
setores que incansavelmente desejam um terceiro turno, ou quiçá um
quarto, das eleições presidenciais de 2014, nem que para isso possam
incendiar irremediavelmente está nação. Para os que planejam ou torcem
ardorosamente pelo defenestração da presidente Dilma, o que faltava para
colimar esse objetivo estaria colocado nas ruas deste país, ou seja,
seria a vez do movimento popular fazer o que o senador Aécio Neves não
conseguiu através das urnas de 2014. No entanto, a coisa não funcionou
conforme o planejado: faltou gente nas ruas, como faltaram votos para
levar o tucano mineiro ao Palácio do Planalto, gerando neste caso irada
frustração de segmentos políticos mais conservadores encastelados no
mundo financeiro, no empresariado da indústria e do agro-negócio, além
dos poderosos baronatos da imprensa brasileira.
Antes de discutir a temática das manifestações programadas pelos
opositores políticos de Dilma, Luta, PT & Cia., é imprescindível
notar que a partir do final de junho deste ano de 2015, a ideia de apear
do poder a atual inquilina do Alvorada tem perdido substância a partir
de um reposicionamento dos principais apoiadores da aventura política
encetada por essa porção mais radicalizada do bloco oposicionista e que é
exibe a digital do próprio Aécio que, aliás, em momento algum inspirou
confiança. Fragilizou essa posição igualmente o não apoio ao impeachment
de figuras dos portes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o
senador José Serra, ambos tucanos de vistosas plumagens. Certamente eles
avaliaram o enorme risco que envolveria essa ação política, cujos
imprevisíveis resultados poderia apontar inclusive (por paradoxal que
pareça) para o fortalecimento de lideranças petistas. Melhor deixar
quieto, devem ter imaginado.
E por que o povo não apoia o impeachment de Dilma? Por que, afinal,
não foi par as ruas no dia 16 de agosto, a despeito da baixíssima
popularidade da presidenta captada pelas pesquisas de opinião? Ora, o
presidente da República não pode ser punido por impopularidade, mas, por
crime de responsabilidade, como reza a Constituição. Que fez Dilma para
receber a reprimenda extrema que é o impeachment? Contra ela sequer
houve, até o presente momento, a imputação de algum dos crimes de
responsabilidade previstos no art. 85 da Constituição. E não adianta
ficar a falar bobagens, como fazem alguns (grandes) veículos de
comunicação, desejosos em ver pelas costas a presidenta Dilma; a
apuração de crime de responsabilidade de presidente da República deve
observar o devido processo que está prefigurado no art. 86, da Lei
Maior.
O “jornalismo desejoso”, para usar a feliz assertiva do saudoso
jornalista Nilo Santos, é uma das pragas que grassam nas sociedade
atuais, em especial naquelas em que impera a frouxidão ética típica da
imaturidade de suas instituições jurídico-políticas. À imprensa não cabe
fazer fatos, mas, divulgá-los na exatidão de suas circunstâncias. Por
isto é que as colocações que têm aparecido nos grandes veículos de
imprensa deste país nada mais são que ações panfletárias de combate
político, algo descabido no figurino ético que norteiam a atividade
jornalística dos povos civilizados.
O quê, afinal, tem isto com o impeachment de Dilma? Muita coisa.
Sobretudo, a absurda constatação de que este é muito mais um desejo de
que aconteça, trombeteado como verdade por certos veículo de
comunicação, do que uma realidade palpável, politicamente razoável e
conforme o direito. Veja-se o exemplo recente da Rede Globo: o tom
tendencioso contra o governo Dilma, Lula e o PT, prefigurado nas
reportagens de seus comunicadores, atingiram patamares inimagináveis de
agressão à ética. No entanto, quando parcela significativa do
empresariado brasileiro, através de suas entidades representativas
(FIESP e FIJAN), resolveu recentemente puxar o freio e se solidarizar
com o governo, por constatar que a arenga política que resultou da
derrota de Aécio Neves está destruindo a economia brasileira, a Globo
arrefeceu seus ânimos e voltou à razão. Voltou a fazer algum jornalismo.
Menos mal.
Allan Erick - Interino
Economista e publicitário com mais de 30 anos de atuação. Política, economia, esportes, marketing, publicidade etc

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