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Por: Paulo César de Oliveira (Blog do PC)








Como em um filme sendo revisto, cenas nos vêm à retina...

Nesta mesma data (20 de abril), em 2005, assim como hoje uma véspera de feriado, o Baraúnas de Mossoró conseguia um feito inédito: desbancar o Vasco da Gama em pleno São Januário, Rio de Janeiro, com o placar de 3 a zero, em jogo válido pelas oitavas de finais da Copa do Brasil daquele ano.

O feito por sí só, a nos encher de orgulho, seria suficiente para os registros devidamente feitos pela grande imprensa à época e para a história não só do nosso futebol...

Também o que cercou  em termos de detalhes pitorescos e tudo o que relacionou-se a esta partida de placar um tanto quanto inesperado, dada a condição de disparidade entre a tradição, estrutura e histórico das duas equipes envolvidas. Uma espécie de reedição do duelo milenar de "Davi x Golías".

Falo dos momentos "pré" e "pós" jogo, os quais particularmente tivemos a oportunidade de vivê-los em todas as suas nuances por termos acompanhado de perto o jogo como comentarista da TCM - Tv Cabo Mossoró (Canal 10), ao lado do narrador Carlos Cavalcante. Como também por compor à diretoria do clube à época.

A começar pelo desdém com que todos fomos tratados  pela imprensa carioca, assim como já havia acontecido com os baianos ao deixarmos para trás o Vitória.

E foi de tal monta que o Baraúnas foi apresentado por uma equipe de esportes de uma emissora de lá que nos ladeou nas cabines de rádio e TV do estádio, como sendo originária do Ceará. Só para exemplificar.

Uma rápida passada de vista nos jornais do dia e logo os redigidos nos fariam crer que o time leonino estava na cidade maravilhosa a passeio e uma vitória cruzmaltina era a previsão de dez entre dez "especialistas".,,

Bola Rolando

Com a bola rolando, entretanto, a coisa se mostrou diferente, E bote diferente nisso!

Mesmo podendo contar com Romário - que não havia jogado na primeira partida em Mossoró no empate de 2 a 2 - o Vasco foi um time apático, fisicamente limitado e sem entrosamento nenhum. Era uma equipe pouco afeita à busca pela vitória.

O Baraúnas, que não tinha nada a ver com isso, logo dominou as ações do meio de campo, com os muitos espaços deixados pelo time cruzmaltino,

E mesmo com o propósito de jogar "fechadinho" pelas orientações iniciais do técnico Miluir Macêdo, com oito homens da intermediária para trás, formando um bloco de defesa na sua grande área, o até então "azarão" Baraúnas via as oportunidades ofensivas surgirem, principalmente através dos contra-ataques, puxados pelo meia-atacante Val.

A bola chegar para o centro-avante quarentão Cícero Ramalho abrir o placar era só uma questão de tempo.

Do outro lado, o baixinho Romário mais parecia ter vindo de uma peladinha de futvôley para tirar a ressaca de uma noite de balada e nada fez no jogo.

O craque foi facilmente dominado pelos zagueiros Nildo e Pedrosa, a quem Romário fez rasgados elogios ao final do confronto.

E como ficaria mais provável o time mossoroense fazer o segundo do que o Vasco, o seu primeiro gol, quão amplo era o domínio do visitante, veio o segundo tempo e por via de consequência o segundo gol marcado por Álvaro, com um chute rasteiro de canhota de fora da grande área.

Aquela altura, o Vasco sequer reagia. Apenas umas poucas investidas contra a meta do goleiro Izaías.

Eis que o terceiro viria ainda na metade do segundo tempo da partida em mais um contra ataque mortal que culminou com o terceiro gol. Este marcado por Henrique.

Resultado que não só fechara o "caixão", mas, também, faria com que o técnico Joel Santana fosse demitido sumariamente pelo presidente Eurico Miranda, que não aguentou os apupos vindo da sua torcida, ouvidos do alto do seu garboso camarote: "burro! burro!"

Faria também com que o Baraúnas viesse a ser manchete dos principais jornais e telejornais do país nos dias seguintes e o Vasco ser alvo de muita chacota, principalmente por parte dos torcedores de seus tradicionais adversários (Flamengo, Botafogo e Fluminense).

Ressalte-se, no entanto, que o baraúnas fez por merecer - a despeito da apatia do time cruzmaltino naquele dia - tendo em vista possuir um grupo que vinha jogando desde meados do ano anterior, quando veio a conquistar a Copa RN, o que deu acesso á sua primeira participação na Copa do Brasil.

Era o chamado time "bom e barato", onde os salários pagos a cada um - em sua ampla maioria - não passava de dois mil reais mensais. Embora a cada etapa vencida na competição nacional fosse repartido metade do valor pago pelo avanço entre os jogadores.

Mais do que a vitória expressiva, ficou acima de tudo a lição de que é possível, sim, uma boa base mantida jogando um certo tempo junto, com um mínimo de organização dentro e fora de campo se chegar a outros patamares em nosso futebol.

E, assim como na vida, haverá sempre o tempo em que os humilhados serão exaltados.

FICHA TÉCNICA

VASCO
Fabiano Borges; Coutinho, Adriano, Marcos e Jorginho Paulista; Osmar (Diego), Ygor, Allann Delon (Rubens) e Róbson Luiz (Gustavo); Romário e Alex Dias
Técnico: Joel Santana

BARAÚNAS
Isaías; Da Silva, Pedrosa, Nildo e Agnaldo; Célio, Amarildo (Edinho), Val, Toni e Álvaro (Hermano); Cícero Ramalho (Henrique)
Técnico: Miluir Macedo

Local: estádio de São Januário, no Rio de Janeiro
Renda: R$11.260,00 
Público: 2254 pagantes

Árbitro: Édson Esperidião (ES)
Auxiliares: Marcos Antônio Collodetti (ES) e Eurivaldo Lima (RJ)
Cartões amarelos: Osmar (V), Amarildo (B) e Pedrosa (B)
Gols: Cícero Ramalho, aos 26min do primeiro tempo; Toni, aos 10min, e Henrique, aos 22min do segundo tempo

Day After  - Dia Seguinte

Baraúnas foi  destaque na imprensa carioca...


Edição do Jornal carioca LANCE do dia 21/04/2005 destacou a vitória do Baraúnas sobre o Vasco por 3 a Zero

...E na imprensa nacional:

                            O Globo do dia 21/04/2005: Vasco é Humilhado


Jornal O DIA deu destaque à demissão do técnico Joel Santana e
o descontrole do presidente Eurico Miranda


     Eurico fumou numa quenga com o Leão rugindo na sua arena e Juka Kfouri não perduou.
                     A imprensa de Natal se rendeu ao futebol mossoroense na Copa do Brasil em 2005

                                      O Extra focalizou demissão de Joel após derrota


                            Jornal do brasil também deu destaque à façanha do Baraúnas

Outras imagens:

    O Baixinho Romário não conseguiu superar a zaga leonina
   Artilheiro Cícero Ramalho foi autor de um dos gols da façanha 
               baraunense em pleno São Januário, aos 42 anos

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