Governo RN

 


“Acordado pelo meu irmão Everardo Rebouças, às 05 horas da manhã, do dia 15 de março, em minha residência, na Rua Quintino Bocaiúva, para dizer que Tancredo estava hospitalizado e não tomaria posse, eu que fora dormir sem saber” 

Por Elviro Rebouças 
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Elviro Rebouças é economista e empresário
No último dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, o Brasil atual, desfocando-se dos nossos múltiplos problemas e percalços, escândalos da Petrobrás, dos seus males de crescimento negativo na economia, dos políticos atabalhoados que povoam a atual cena pública (com raríssimas exceções) e da inflação galopante que volta, parou um pouco para, 30 anos depois, reverenciar a figura sempre presente do mineiro, de São João Del Rey, Tancredo de Almeida Neves, nascido em 04.03.1910 e que, após longo calvário acompanhado por uma nação inteira, por quase quarenta dias, faleceu no Hospital do Coração, em São Paulo, em 21.04.1985. Foi um advogado, empresário e político brasileiro, Deputado Estadual, Federal, Senador da República, tendo sido Primeiro-Ministro de 1961 a 1962, ministro da Justiça e Negócios Interiores de 1953 a 1954, Ministro da Fazenda em 1962, governador do estado de Minas Gerais de 1983 a 1984 e Presidente eleito do Brasil em 1985. Três quadros eu guardei modestamente do Presidente Tancredo Neves: 01) Sua eleição maiúscula pelo Colégio Eleitoral, assistí no meu escritório no Banco Mossoró, voto após voto, 02) Acordado pelo meu irmão Everardo Rebouças, às 05 horas da manhã, do dia 15 de março, em minha residência, na Rua Quintino Bocaiúva, para dizer que Tancredo estava hospitalizado e não tomaria posse, eu que fora dormir sem saber, 03) Também em casa, pela TV Globo, às 22;30 horas do dia 21.04.1985, Antonio Brito, jornalista, amigo, companheiro de sofrimento nas sempre péssimas notícias e Secretário de Imprensa, anunciando oficialmente e ao “vivo” o seu falecimento. Doutor Tancredo Neves foi o brasileiro mais presente à cena política nacional, desde que galgou o seu primeiro mandato de Deputado Estadual em Minas Gerais, em 1947, até hoje, final de abril de 2015. Ministro da Justiça de Getúlio Vargas, na fatídica manhã de 24 de agosto de 1954, ao lado da filha do presidente, Alzira Vargas, adentrou à suíte presidencial incontinenti ao tiro no coração disparado por Vargas, e descreveu o horror do quadro com lucidez fulgurante, Getúlio nos estertores da morte, com o olhar perdido entre a filha e o fiel amigo, sangrando abundantemente, sem que nada pudesse ser feito. Sete anos depois, com a surpreendente renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, João Goulart, Vice-Presidente em viagem à China comunista, foi forçado, entre a Legalidade e os quartéis militares aceitar a criação do regime parlamentarista de governo, para Tancredo ser ungido como nosso Chefe de Governo, para permitir à posse de Jango, única condição aceita pelos militares que já não viam o gaúcho dos pampas com bons olhos. Em 1962 Jango, através do plebiscito retorna ao sistema presidencialista, Tancredo vai, por pouco tempo para o Ministério da Fazenda, mas logo sai , retornando à Câmara dos Deputados onde manteve o apoio ao governo João Goulart até que o mesmo fosse deposto pelo Golpe Militar de 1964. Tancredo foi um dos poucos políticos que foram se despedir de João Goulart no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, quando este partiu para o exílio no Uruguai. Foi o único membro do PSD que não votou, em 11 de abril de 1964, no general Humberto de Alencar Castelo Branco, na eleição à Presidência da República pelo Congresso Nacional. Extinto o pluripartidarismo foi convidado a ingressar na ARENA, oferta polidamente recusada em razão da presença de adversários seus da UDN, especialmente José de Magalhães Pinto, na nova agremiação situacionista. Apesar de ter sido amigo e primeiro-ministro de João Goulart, Tancredo não teve seus direitos políticos cassados durante o Regime Militar, devido ao seu prestígio junto aos militares. Opositor moderado do Regime Militar de 1964 logo procurou abrigo no MDB sendo reeleito deputado federal em 1966, 1970 e 1974. Em sua atuação parlamentar evitou sobremaneira criar atritos com o governo militar e fez parte da ala moderada do MDB não se negando, inclusive, ao diálogo com, postura contrária àquela adotada pelo grupo “autêntico” do MDB. Em 1978 foi eleito senador por Minas Gerais.Em 1982 é eleito Governador de Minas, derrotando Elizeu Resende. Renuncia dois anos depois, para poder ser Presidente da República. Com a derrota da emenda Dante de Oliveira, das Diretas Já em 1984, restou a disposição de ir ao Colégio Eleitoral em 15.01.1985, para derrotando o candidato do governo, Paulo Maluf, ser sagrado o primeiro Presidente depois da ditadura militar. Ganhou folgado, mas não assumiu. Uma diverticulite (inflamação na membrana intestinal), 12 horas antes da sessão solene de posse, no Congresso Nacional, fez com que o nosso intrépido senhor democracia fosse quedado ao Hospital de Base, em Brasília, para sucessivas cirurgias que não lhe pouparam à vida, fazendo com que o seu Vice-Presidente José Sarney, da Aliança Democrática, assumisse o posto e cumprisse todo o mandato. A tese de que Tancredo Neves, assim como Getulio Vargas, fez política com seu próprio corpo, defendida pelo ex-porta-voz Antonio Brito utilizando-se dos dotes de jornalista e político, dá bem a dimensão do sacrifício desse homem, que sempre pautou sua atuação política pela defesa dos princípios democráticos. Getulio saiu da vida para entrar na História com a reação radical e dramática do tiro no peito contra os adversários. Tancredo, temendo que sua ausência, mesmo temporária, prejudicasse a transição do regime militar para o que chamou de Nova República, forçou o corpo até seu limite máximo, não conseguiu assumir a presidência da República, mas garantiu a transição para um governo civil utilizando- se do colégio eleitoral, um instrumento da ditadura para eleger o presidente da República de maneira indireta e controlada. Sua morte produziu uma das mais belas páginas de nossa história recente, com o povo, em milhares de pessoas reunidas, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília, Belo Horizonte, em Mossoró, em Natal, em todos os quadrantes do País, nas ruas lamentando o governo que poderia ter sido e não foi. Difícil dizer se Tancredo seria o grande presidente de que o país necessitava, ou se seu projeto de governo daria certo. O certo é que ele reunia todas as condições para ser bem sucedido. Foi um brasileiro por excelência. O Seu nome jamais será esquecido.

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