DE BRASÍLIA
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello classificou nesta sexta-feira (4) como um “arroubo de retórica” a declaração do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), favorito para comandar a Câmara a partir de fevereiro, de que, se eleito, não cumprirá a decisão da corte sobre a perda automática do mandato dos condenados no julgamento do mensalão.
Marco Aurélio avalia que o tribunal deve dar um “desconto” ao candidato à presidência da Câmara. “Temos que dar um desconto, pois ele está numa caminhada política e diz isso para agradar a Casa. Uma coisa é a voz política de um candidato, a outra é a voz ponderada de um presidente da Câmara”, afirmou o ministro. “Só espero que prevaleça a voz ponderada. Mas neste momento, ele tem que atender sua clientela interna”.
Em entrevista à Folha, o deputado disse que o Congresso não abrirá mão da prerrogativa de dar a palavra final sobre o caso, o que inclui votação secreta no plenário da Casa, onde uma cassação só ocorre com o apoio de pelo menos 257 dos 513 deputados.
No final do ano passado, no entanto, o Supremo decidiu que após a condenação por crimes como corrupção, quadrilha, entre outros, o Congresso não tem outra alternativa a não ser declarar vagas as cadeiras dos parlamentares punidos.
Até o final da manhã desta sexta-feira, o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, não havia se pronunciado sobre o fato. Nos bastidores, no entanto, outros ministros dizem ter a mesma visão do colega Marco Aurélio.
Eles avaliam que trata-se de uma estratégia política para não contrariar os pares, mas que ao assumir a presidência deverá mudar o discurso e, quando tiver que tratar da questão, cumprirá o que foi decidido pelo STF.
POSIÇÃO DE HENRIQUE
Da Folha de S. Paulo de hoje:
Favorito para chefiar Câmara diz que desobedecerá ao STF
Favorito para comandar a Câmara dos Deputados a partir de fevereiro, o líder da bancada do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), disse ontem que, se eleito, não pretende cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal pela cassação automática do mandato dos condenados no julgamento do mensalão.
No mês passado, o STF determinou que os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT) percam o mandato imediatamente após o fim do julgamento –o que ocorrerá após a análise dos recursos.
A decisão também afeta agora José Genoino (PT-SP), que era suplente e tomou posse ontem na Câmara.
Em entrevista à Folha, Henrique Alves, candidato favorito à presidência da Câmara, afirma que o Congresso não abrirá mão da prerrogativa de dar a palavra final. Isso inclui votação secreta no plenário da Casa, onde uma cassação só ocorre com o apoio de pelo menos 257 dos 513 deputados.
Segundo Henrique Alves, a “Constituição é clara” e, portanto, cada Poder deve ficar “no seu pedaço”.
“Não [abro mão de decidir]. Nem o Judiciário vai querer que isso aconteça. Na hora em que um Poder se fragiliza ou se diminui, não é bom para a democracia.”
O deputado afirmou ainda que “algum mais desavisado pode ter esquecido”, mas a Constituição de 1988 foi elaborada pelos congressistas.
“Cada palavra, vírgula e ponto ali foram colocados por nós. Então, temos absoluta consciência de nossos direitos, deveres, limites e prerrogativas. A questão da declaração da perda do mandato é inequívoca que é do Parlamento”, afirma o peemedebista, em plena campanha pela presidência da Casa.

Para ele, o placar apertado da sessão do STF pela cassação –5 votos contra 4– só reforça seu argumento.
“O Supremo, que trouxe essa polêmica, metade dele concordou que fosse do Legislativo a última palavra. Cabe, realmente, ao poder Legislativo a declaração da perda do mandato”, afirmou, acrescentando que todo o rito de um processo de cassação tem de ser aplicado.
A decisão sobre a prerrogativa de cassar mandatos legislativos é motivo de tensão entre Congresso e STF desde o mês passado. Marco Maia (PT), atual presidente da Câmara, também disse que não cumpriria a decisão.
Ministros do STF reagiram à declaração do petista. “O equivocado espírito de solidariedade não pode justificar afirmações politicamente irresponsáveis, juridicamente inaceitáveis, de que não se cumprirá uma decisão do Supremo Tribunal Federal revestida da autoridade da coisa julgada”, disse Celso de Mello durante sessão do STF.
Para ele, eventual descumprimento pode configurar o crime de prevaricação.
Em resposta, o presidente da Câmara atribuiu a declaração do ministro ao seu estado de saúde. Na ocasião, Celso de Mello se recuperava de uma forte gripe
A tensão manteve-se até quatro dias antes do Natal, quando não estava descartada a hipótese de o presidente do Tribunal, ministro Joaquim Barbosa, acolher pedido de prisão imediata dos condenados. Marco Maia cogitou até a hipótese de oferecer abrigo aos deputados.
Afirmando que essa “não é para ser uma guerra de Poderes”, Henrique Eduardo Alves diz que, passado o “momento de emoção”, confia no senso de responsabilidade do Legislativo e do Judiciário.
“Queremos um Judiciário forte, também, respeitado. Não precisa ser popular. Mas forte, respeitado por todos nós. Então, cada um no seu pedaço. Na hora em que o STF chegar às suas decisões, vamos cumprir as nossas obrigações, formalidades legais que devem ser apreciadas.”
Favorito para chefiar Câmara diz que desobedecerá ao STF
Favorito para comandar a Câmara dos Deputados a partir de fevereiro, o líder da bancada do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), disse ontem que, se eleito, não pretende cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal pela cassação automática do mandato dos condenados no julgamento do mensalão.
No mês passado, o STF determinou que os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT) percam o mandato imediatamente após o fim do julgamento –o que ocorrerá após a análise dos recursos.
A decisão também afeta agora José Genoino (PT-SP), que era suplente e tomou posse ontem na Câmara.
Em entrevista à Folha, Henrique Alves, candidato favorito à presidência da Câmara, afirma que o Congresso não abrirá mão da prerrogativa de dar a palavra final. Isso inclui votação secreta no plenário da Casa, onde uma cassação só ocorre com o apoio de pelo menos 257 dos 513 deputados.
Segundo Henrique Alves, a “Constituição é clara” e, portanto, cada Poder deve ficar “no seu pedaço”.
“Não [abro mão de decidir]. Nem o Judiciário vai querer que isso aconteça. Na hora em que um Poder se fragiliza ou se diminui, não é bom para a democracia.”
O deputado afirmou ainda que “algum mais desavisado pode ter esquecido”, mas a Constituição de 1988 foi elaborada pelos congressistas.
“Cada palavra, vírgula e ponto ali foram colocados por nós. Então, temos absoluta consciência de nossos direitos, deveres, limites e prerrogativas. A questão da declaração da perda do mandato é inequívoca que é do Parlamento”, afirma o peemedebista, em plena campanha pela presidência da Casa.
Para ele, o placar apertado da sessão do STF pela cassação –5 votos contra 4– só reforça seu argumento.
“O Supremo, que trouxe essa polêmica, metade dele concordou que fosse do Legislativo a última palavra. Cabe, realmente, ao poder Legislativo a declaração da perda do mandato”, afirmou, acrescentando que todo o rito de um processo de cassação tem de ser aplicado.
A decisão sobre a prerrogativa de cassar mandatos legislativos é motivo de tensão entre Congresso e STF desde o mês passado. Marco Maia (PT), atual presidente da Câmara, também disse que não cumpriria a decisão.
Ministros do STF reagiram à declaração do petista. “O equivocado espírito de solidariedade não pode justificar afirmações politicamente irresponsáveis, juridicamente inaceitáveis, de que não se cumprirá uma decisão do Supremo Tribunal Federal revestida da autoridade da coisa julgada”, disse Celso de Mello durante sessão do STF.
Para ele, eventual descumprimento pode configurar o crime de prevaricação.
Em resposta, o presidente da Câmara atribuiu a declaração do ministro ao seu estado de saúde. Na ocasião, Celso de Mello se recuperava de uma forte gripe
A tensão manteve-se até quatro dias antes do Natal, quando não estava descartada a hipótese de o presidente do Tribunal, ministro Joaquim Barbosa, acolher pedido de prisão imediata dos condenados. Marco Maia cogitou até a hipótese de oferecer abrigo aos deputados.
Afirmando que essa “não é para ser uma guerra de Poderes”, Henrique Eduardo Alves diz que, passado o “momento de emoção”, confia no senso de responsabilidade do Legislativo e do Judiciário.
“Queremos um Judiciário forte, também, respeitado. Não precisa ser popular. Mas forte, respeitado por todos nós. Então, cada um no seu pedaço. Na hora em que o STF chegar às suas decisões, vamos cumprir as nossas obrigações, formalidades legais que devem ser apreciadas.”
Fonte: www.folha.com.br
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