Uma estagiária do gabinete do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski agiu como informante do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, de acordo com mensagens coletadas pela Polícia Federal e obtidas pela Folha de S.Paulo. Allan é investigado em 2 inquéritos do STF.
As mensagens foram obtidas pela PF por meio da quebra de sigilo telefônico e estão presentes no relatório da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado. O documento reúne conversas entre Allan dos Santos e Tatiana Garcia Bressan que datam de 23 de outubro de 2018 a 31 de março de 2020. Tatiana estagiou no gabinete de Lewandowski de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019.
Allan dos Santos é investigado nos inquéritos das Fake News e dos atos antidemocráticos.
O contato inicial é realizado por Tatiana, que fala com o blogueiro demonstrando interesse em trabalhar na equipe da deputada Bia Kicis (PSL-DF). Na 1ª conversa, ela diz que é estagiária de Lewandowski. “Fique como nossa informante lá”, escreveu Allan dos Santos. A estagiária então respondeu: “Será uma honra. Estou lá kkk”.
No mesmo diálogo, o blogueiro questionou a Tatiana o que ela via de mais “espantoso” no gabinete. A estagiária disse que os ministros do STF “decidem o que querem e como querem”. “Algumas decisões são modificadas porque alguém importante liga para o ministro”, disse Tatiana no complemento à resposta.
Tatiana Garcia Bressan disse à Folha de S. Paulo que nunca atuou como informante de Allan dos Santos. Segundo ela, a ligação com o blogueiro se deu porque ambos foram alunos do escritor Olavo de Carvalho. Ela disse que entrou em contato com Allan porque queria um emprego.
‘MOVIMENTO DE 64’
A ex-estagiária de Lewandowski disse também que o general Eduardo Villas Bôas “têm trânsito com quase todos os ministros”. Segundo ela, no diálogo com Allan dos Santos, quando o ex-comandante do Exército liga para Lewandowski, o ministro atende “prontamente”. “Vc sabe que o Villas Boas botou um general pra trabalhar junto com o Toffoli [ministro Dias Toffoli] na presidência, né?”, escreveu Tatiana.
Ainda de acordo com Tatiana, “Toffoli nem fala mais em ditadura de 64. Fala em ‘movimento de 64’”.
Nas mensagens, a ex-estagiária afirma que Lewandowski iria ser o responsável por soltar o ex-presidente Lula. O petista saiu da cadeia em novembro de 2019 depois de uma decisão do STF proibir a prisão imediata depois de condenação em 2ª instância.
“Tenho pra mim q quem soltará o Lula será o Lewandowski porque com a última decisão nos autos da reclamação q a defesa ajuizou em nome do próprio lula, pedindo q ele pudesse conceder entrevista p/ quem quisesse)….. como esse decisão foi a primeira envolvendo a execução da pena do lula, tornou o Lewa prevento para futuras decisões envolvendo a execução da pena dele”, disse Tatiana.
Nas mensagens, Tatiana também diz a Allan que criou um outro perfil em rede social, com o usuário @visittabb, porque estava proibida de realizar postagens de cunho político na internet.
LEWANDOWSKI
O gabinete do ministro Lewandowski afirmou, em nota, à Folha de S. Paulo que todas as decisões proferidas por ele “têm fundamentação constitucional e a eventual modificação delas ocorre por meio de recursos cabíveis, apresentados nos autos e julgados individual ou coletivamente”.
Ainda de acordo com a nota, “Lewandowski atende os telefonemas institucionais, principalmente vindos de autoridades da República. Na época mencionada, o general Villas Bôas era comandante do Exército Brasileiro”. O gabinete informou que a seleção de estagiários ocorre sob supervisão da Secretaria de Recursos Humanos do Tribunal.
Poder 360
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