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O Rio Grande do Norte vai manter o intervalo de 12 semanas entre a aplicação da primeira e da segunda dose da vacina AstraZeneca. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN (Sesap) na sexta-feira (9).

Nesta semana, alguns estados brasileiros decidiram encurtar o período na tentativa de ampliar a proteção da população contra a variante delta do coronavírus, que foi descoberta na Índia.

Isso porque estudo nesta semana apontou que apenas as duas doses do imunizante protegem contra a variante delta. Na quarta, São Paulo confirmou que a variante já circula no estado.

Em nota, a Sesap disse que "manterá a recomendação do Ministério da Saúde e não diminuirá o intervalo de 12 semanas entre a aplicação da primeira e da segunda dose das vacinas de Oxford e Pfizer".

Em resumo, o que está em jogo:

Ministério da Saúde escolheu o maior prazo previsto em bula para aumentar o total de pessoas vacinadas com ao menos 1 dose, já que a AstraZeneca oferece proteção parcial de 76% já 21 dias após a primeira aplicação;

Estados encurtam o prazo para aumentar a proteção contra a variante delta mesmo sem orientação do governo federal: estudos apontam que somente a vacinação completa protege contra a variante delta;

O ministério chegou a estudar a redução do prazo, mas a reunião da Câmara Técnica manteve as 12 semanas;

Já divulgaram a redução do intervalo cidades dos seguintes estados: Pernambuco, Acre, Santa Catarina, Tocantins, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Piauí.

Houve ainda mudanças pontuais para grupos ou faixas etárias: Ceará, Alagoas e Sergipe. O estado de São Paulo também manifestou a intenção de encurtar o prazo, mas disse ainda depender de aval da Anvisa.

A bula da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção e importação da tecnologia da AstraZeneca, diz que "a segunda injeção pode ser administrada entre 4 e 12 semanas após a primeira".

A AstraZeneca reafirmou em nota ao G1 que "os estudos realizados até o momento demonstram que a vacina é eficaz na prevenção da Covid-19 sintomática quando aplicada neste intervalo de tempo", de 4 a 12 semanas. A farmacêutica disse, ainda, que a vacinação com a segunda dose após 60 dias "foi avaliada em estudos clínicos – e, por isso, está aprovada".

Já o Ministério da Saúde informou que "acompanha a evolução das diferentes variantes do Sars CoV-2 no território nacional e está atento à possibilidade de alterações no intervalo recomendado". A pasta também disse que "o tema foi, inclusive, discutido amplamente na Câmara Técnica Assessora em Imunizações, em reunião realizada no dia 2 de julho deste ano, sendo que o parecer (...) foi a de manutenção deste intervalo".

Apenas redução não é suficiente, diz especialista

A professora da UFRN, Janeusa Trindade de Souto, que é doutora em imunologia básica e aplicada e faz parte do comitê científico do Rio Grande do Norte, alerta que apenas reduzir o intervalo entre as aplicações da vacina pode não ser suficiente para conter a variante delta do coronavírus.

Ela diz que a discussão é pertinente, já que o Reino Unido percebeu um nível de contaminação de pessoas exatamente no período entre as duas doses, mas que esse debate tem que estar aliado ao debate sobre a flexibilização pelo qual o país passa atualmente, após alguns índices caírem.

"Eu acho que é pertinente que aqui no Brasil se tenha essa discussão. Mas com uma ressalva: de que não adianta fazer redução de dose fazendo liberação de atividades sociais, como isso já está sendo programado", disse.

"Com uma variante nova entrando, as medidas de restrição tem que ser revistas, no meu ponto de vista. As medidas tem que ser concatenadas".

Janeusa indica que é fundamental que a reabertura não seja de maneira precoce. Atualmente o Rio Grande do Norte tem aproximadamente cerca de 13% de pessoas vacinadas com as duas doses, um número considerado abaixo do ideal.

"Isso é muito pouco no universo que a gente precisa. Uma dose não protege, já está muito claro e principalmente pra variante nova. A gente não sabe como é que essa delta vai se comportar. Mas a gente está vendo que em muitos países ela está avançando".

Ela aponta que a variante delta já é predominante nos novos casos em alguns países, como o Reino Unido, Estados Unidos e França, em que a vacinação está em um nível mais avançado do que no Brasil. "Países com vacinação bastante avançada e começaram essa liberação (das atividades) com a delta entrando. Ela entrou e isso aí é um exemplo bastante importante para o Brasil".

"Esse momento é muito importante para o Brasil como um todo, não só o Rio Grande do Norte. É uma variante nova chegando, com um potencial de transmissibilidade muito alto. Não é só vacina que segura a disseminação de um vírus como esse. A gente está vendo um modelo aí no mundo. Então, que Brasil olhe para isso e tome os devidos cuidados. A vacinação associada às medidas de restrição".

Avanço da variante delta

Até o momento, a variante gama é a dominante no país, mas, no último mês, foram confirmados casos da delta inclusive na cidade de São Paulo. Enquanto isso, menos de 14% da população brasileira recebeu as duas doses contra a Covid-19.

A baixa taxa de adesão à segunda aplicação é um risco para o combate a todas as versões do vírus, já que garante um índice maior de proteção contra a versão grave da doença. A necessidade do ciclo completo da vacinação se torna ainda maior quando a delta chega ao Brasil: estudos indicam que apenas com a aplicação do reforço é possível barrar a nova variante.

Proteção só com duas doses

Na quinta-feira (8), a revista científica "Nature" apresentou um estudo assinado por cientistas do Instituto Pasteur e do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS, na sigla em francês). Os resultados mostram que a delta é parcialmente resistente a alguns tipos de anticorpos, mas que duas doses da vacina da Pfizer ou da AstraZeneca/Oxford são capazes de neutralizá-la.

Ao G1, a AstraZeneca apontou outra pesquisa feita pelo governo do Reino Unido que demonstra a eficácia da vacina. O documento sobre o artigo publicado pela farmacêutica diz que "duas doses da vacina COVID-19 AstraZeneca são 92% eficazes contra a hospitalização devido à variante delta e não mostraram mortes entre os vacinados", dados divulgados com base no estudo.

G1/RN


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