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Um projeto ambicioso, que nasceu há mais de duas décadas com vistas a agregar valor ao sal marinho e a outros recursos naturais abundantes no Rio Grande do Norte, começou a ganhar contornos concretos e poderá atrair US$ 5 bilhões em investimento total para o Estado nos próximos anos.

O plano de construção de um Polo Cloroquímico, na região potiguar que compreende Mossoró e outros três municípios, finalmente assegurou os primeiros investidores e parte, agora, para as fases de normatização, licenciamento e estudos de viabilidade técnica e econômica.

Até pouco tempo atrás desconhecido da indústria química brasileira, um consórcio formado pelas empresas Koyo Intership Trading, do Panamá, e TFB & Energy, constituída no país para investir em energia renovável, assinou protocolos de intenção com as prefeituras de Mossoró e Guamaré, referentes à primeira fase de implantação do polo. Essa etapa englobará complexo de produção de cloro-soda e derivados, incluindo PVC, usina solar com 350 megawatts (MW) de potência e um terminal portuário, com investimentos da ordem de US$ 2,5 bilhões.

Na solenidade de assinatura do compromisso com a Prefeitura de Mossoró, há cerca de dez dias, estiveram presentes autoridades do município, representantes do consórcio e de instituições financeiras, entre as quais XP Investimentos e Banco Safra, que atuam como assessores financeiros do consórcio. Haveria ainda outros investidores estrangeiros interessados, apurou o Valor.

Os municípios — além de Mossoró e Guamaré, Porto do Mangue e Macau serão abrangidos pelo projeto — têm 150 dias, a partir da assinatura dos protocolos, para garantir aos investidores as condições de execução do projeto, incluindo base legal, e então serão iniciados os desembolsos efetivamente. Embora estudos preliminares de impacto ambiental já tenham sido executados, será preciso produzir um novo EIA-Rima.

Pelo projeto original, a primeira etapa do polo entrar em operação no segundo semestre de 2024. Os desembolsos iniciais somam US$ 800 milhões, direcionados à infraestrutura para geração de energia, estudos e aquisição de tecnologia.

O projeto industrial, propriamente, virá na sequência e receberá US$ 1,3 bilhão — há ainda necessidade de outros investimentos para garantir as condições de operação, que resultam nos US$ 2,5 bilhões previstos na primeira fase. Na segunda etapa, que será executada futuramente e quando a produção de cloro-soda já estiver estabelecida, o plano é produzir também barrilha—beneficiando-se também da reserva de calcário no Estado —, fertilizantes e outros produtos químicos. Nessa etapa, os investimentos estão estimados em mais US$ 2,5 bilhões.

Eteno e a Clara Camarão

Em grandes números, o polo cloroquímico poderá produzir até 500 mil toneladas anuais de PVC, até 600 mil toneladas anuais de barrilha e 600 mil toneladas anuais de cloro-soda e seus derivados. Em geração de emprego, serão 7 mil postos de trabalho direto e indireto quando todas as fases estiverem em operação — a expectativa é atrair transformadores de PVC para a região do polo, cujos custos devem ser favorecidos pela proximidade das principais matérias-primas (sal e calcário, no segundo momento).

Mossoró produz cerca de 95% do sal marinho consumido no país e pretende usar o insumo também na cadeia vinílica. Na indústria petroquímica, o insumo concorre com o sal-gema, que era extraído pela Braskem em Alagoas para a produção de cloro-soda e EDC, matéria-prima do PVC. Hoje, a companhia importa do Chile todo o sal que utiliza na produção de cloro-soda em Maceió.

Além de valorizar o sal marinho, o projeto pode revitalizar a Refinaria Clara Camarão (RPCC), diz o economista Carlos Duarte, idealizador do projeto do polo. A refinaria, colocada à venda pela estatal, tem capacidade instalada para 50 mil barris de óleo por dia, mas o refino tem girado em torno de 18 mil e 20 mil barris diários.

O eteno ali produzido, hoje queimado ou consumido pela própria Petrobras, é essencial na produção do PVC e garantir sua oferta é um dos grandes desafios do projeto potiguar, na avaliação de fontes da indústria petroquímica.

Conforme Duarte, o projeto que começou a ser desenhado há cerca de 25 anos ganhou maior visibilidade a partir do ano passado, após chegar ao ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional. Os prefeitos que iniciaram mandato no ano passado também abraçaram a proposta e, mais recentemente, o Estado demonstrou interesse. “Esse projeto pode reconfigurar a economia do Rio Grande do Norte. Ainda está em estágio inicial, mas está caminhando, com interesse firme de investidores e do poder público”, diz o economista. Hoje, o Brasil importa 100% da barrilha (usada na fabricação do vidro) e cerca de 40% do PVC que consome.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Mossoró, Franklin Filgueira, somente no município, a expectativa é a de que sejam gerados 2,5 mil empregos diretos. Entre outras iniciativas para viabilizar o projeto, que ganhou o apoio do prefeito Alysson Bezerra, a prefeitura vai oferecer cursos de qualificação de mão de obra. Até novembro, afirma Filgueira, o consórcio deve apresentar o cronograma físico e financeiro do projeto e a previsão é a de que obras sejam iniciadas no terceiro trimestre de 2022.

Por Stella Fontes (Do Valor Econômico)


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