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O Ministério da Saúde encomendou, em novembro de 2020, à Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) – braço da OMS (Organização Mundial da Saúde)– um manual com orientações para o suposto “tratamento precoce” contra a covid-19. O texto não chegou a ser publicado, mas o jornal O Globo teve acesso a documentos sobre a contratação.

O pedido para a contratação foi feito por Helio Angotti Neto, secretário de Ciência e Tecnologia, Inovações e Insumos Estratégicos em Saúde. Em 9 de novembro, ele enviou um ofício à representante da Opas no Brasil, Socorro Gross, para que a organização contratasse uma consultoria técnica. Essa consultoria ficaria responsável por desenvolver 3 produtos. Um deles é o manual para o chamado “tratamento precoce”.

O escolhido para fazer o manual, por indicação do ministério, foi o médico Ricardo Zimerman. Ele é a favor do uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 e foi um dos integrantes da equipe enviada a Manaus em janeiro pelo governo federal para defender a utilização da cloroquina.

A Opas divulgou, em outubro, uma revisão de estudos feitos em diversos países que apontava que o uso de cloroquina e hidroxicloroquina não apresentava benefícios na redução das taxas de mortalidade, tempo de internação ou necessidade de intubação.

Mesmo assim, Zimerman foi contratado e o manual foi feito. O valor do contrato com o médico é de R$ 30.000.

O material final foi entregue à Opas e ao Ministério da Saúde em janeiro. Nele, Zimerman recomenda abertamente o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no “tratamento precoce” da covid-19. Ainda defende o uso da ivermectina e azitromicina.

O médico propõe também combinações de drogas. Por exemplo, uma mistura contendo sulfato de hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, dutasterida e bromexina.

Ele ainda recomenda um sistema de avaliação de sintomas para determinar se um paciente está infectado com o coronavírus. É o mesmo método utilizado no aplicativo TrateCov, anunciado pelo Ministério da Saúde em janeiro e retirado do ar em poucos dias depois de críticas de associações médicas. O aplicativo criava um receituário médico que recomendava medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina.

Ao O Globo, o Ministério da Saúde afirmou que “procede constante levantamento de evidências científicas”. A pasta declarou que pode contar com o “aporte de consultores externos ad hoc para eventuais avaliações de expertise técnica”. O órgão não comentou a escolha de Zimerman para a elaboração do manual.

A Opas disse que se “resguarda o direito de manter a privacidade das pessoas contratadas para fazer parte de sua equipe e daquelas que prestam serviços pontuais”.

Zimerman foi procurado pela reportagem mas não respondeu aos contatos.

Poder 360



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