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General da ativa do Exército, ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello participa de ato com Bolsonaro e apoiadores no Rio de Janeiro — Foto: Jorge Hely/Framephoto/Estadão Conteúdo

O Exército decidiu nesta segunda-feira (24) abrir uma apuração disciplinar em razão da participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em um ato em favor do presidente Jair Bolsonaro, neste domingo (23), no Rio de Janeiro.

Bolsonaro e motociclistas que apoiam percorreram vários bairros da cidade. Pazuello participou de tudo, subiu com Bolsonaro no carro de som, usado como palanque. O general estava sem máscara quatro dias depois de ter se desculpado, na CPI da Covid, por ter feito a mesma coisa em um shopping em Manaus.

Segundo o vice-presidente, Hamilton Mourão, general da reserva, com a abertura do procedimento, Pazuello terá 72 horas para apresentar a defesa. Diante do que for declarado, o comandante do Exército decidirá o que fazer.

Pazuello não só desrespeitou as medidas sanitárias impostas para conter a pandemia. Como general três estrelas, da ativa, ele infringiu o Regulamento Disciplinar do Exército, que considera transgressão:

"Manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária."

O estatuto dos militares diz: "São proibidas quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político." 


Repercussão

Internamente, no meio militar, a repercussão foi imediata. Nesta segunda, o próprio vice-presidente Hamilton Mourão, general da reserva, reforçou que o estatuto proíbe esse tipo de manifestação.

"É provável que seja [punido], é uma questão interna do Exército. Ele também pode pedir transferência para reserva e aí atenuar o problema", afirmou Mourão.

"Acho que o episódio será conduzido à luz do regulamento, isso tem sido muito claro em todos os pronunciamentos dos comandantes militares e do próprio ministro da Defesa. Eu já sei que o Pazuello já entrou em contato com o comandante informando ali, colocando a cabeça dele no cutelo, entendendo que ele cometeu um erro", acrescentou.

O general da reserva Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, criticou Bolsonaro e Pazuello em uma rede social: "De soldado a general tem que ser as mesmas normas e valores. O presidente e um militar da ativa mergulharem o Exército na política é irresponsável e perigoso. Desrespeitam a instituição. Um mau exemplo, que não pode ser seguido. Péssimo para o Brasil."

Na última quarta-feira, quatro dias antes da manifestação do presidente com motociclistas, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, um dos mais próximos de Bolsonaro, já havia falado na Câmara sobre a proibição de militares da ativa participarem de atos políticos.

"É preciso entender qual é essa participação. Os militares da reserva eles podem participar de manifestações políticas. Militares da ativa não podem. E serão devidamente punidos se aparecerem em manifestações políticas. Não tenha dúvida disso. Então isso aí é muito claro. Participar de manifestação sendo militar da reserva, pode participar de qualquer lado. É uma democracia. Pode participar de qualquer lado. Não tem restrição nenhuma a isso. Então isso aí não deve ser considerado", afirmou.

Desde o domingo, o ministro da Defesa, Braga Netto, tem conversado com o comandante do Exército, Paulo Sergio Nogueira de Oliveira.

Militares de alta patente ouvidos pela TV Globo consideram intolerável a atitude de Pazuello e querem punição. Se valem do regimento militar para dizer que o comandante não tem saída, sob pena de prevaricar, e de perder a credibilidade perante os subordinados e a sociedade.

Nesta segunda, Pazuello foi chamado ao comando para dar explicações.



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