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Mais de 90% dos pacientes internados nas UTIs com Covid-19 no Rio Grande do Norte tomaram remédios sem eficácia comprovada contra a Covid-19, segundo afirmou a médica infectologista Marise Reis, que é membro do comitê científico do estado e critica o uso de medicamentos como a ivermectina como medida de prevenção à doença.

Em entrevista concedida ao Bom dia RN desta terça-feira (23), a professora da UFRN falou sobre o aumento da ocupação de leitos de UTI Covid nos hospitais públicos e privados do estado e cobrou responsabilidade da população para tentar frear a transmissão da doença.

Ela também criticou o incentivo ao uso da ivermectina para proteger contra o novo coronavírus. O prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), que é médico, defende publicamente o uso do medicamento.

“Essa defesa nesse momento é um acinte. É um acinte ao conhecimento médico, ao conhecimento científico. É inaceitável", declarou Marise.

O remédio não tem eficácia comprovada cientificamente contra a Covid-19, como informou a própria farmacêutica Merck, responsável pela fabricação do vermífugo. Segundo a empresa, não há dados disponíveis que sustentem a eficácia do medicamento contra a Covid-19.

“Não adianta a população, as pessoas, se esconderem por trás de um comprimido de ivermectina, achando que ele vai te proteger. Não vai. A literatura já é clara em relação a isso. Não há evidências de que esse medicamento protege contra a Covid. Então, o apelo que nós fazemos é: não tome remédio e saia por aí achando que você não vai adoecer".

"Mais de 90% dos doentes que estão internados nas nossas UTIs fizeram uso de ivermectina. Então significa que ela não é capaz de fazer o que se promete" — Marise Freitas, médica infectologista

O estado enfrenta uma alta no número de internações por Covid-19, com praticamente 90% dos leitos críticos ocupados tanto nos hospitais da rede pública como nos da rede privada em Natal e região metropolitana. Na segunda-feira (22), o governo precisou enviar pacientes por avião para Mossoró, na região Oeste do estado.

Para a médica, o decreto publicado pelo Governo no Diário Oficial do Estado (DOE) no último sábado (20), que recomenda aos municípios o fechamento de bares e restaurantes após às 22h, não é suficiente para conter o avanço da doença. Os decretos, segundo ela, são estratégias mínimas que devem servir de alerta à população.

“As pessoas precisam entender que se nós tivermos paciência, nós conseguiremos vencer a Covid. Para isso, nós precisamos evitar aglomerações. Não sair. Não tem jeito. Não dá pra fazer reuniões de amigo, jantares, pequenos eventos. Não importa o tamanho do evento. As pessoas estão se contaminando aí”, explicou a infectologista.

Marise também considerou que a taxa de transmissibilidade da doença deve estar subdimensionada no estado, porque muitas pessoas não estariam sendo testadas. Na semana passada, o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) da UFRN divulgou que a taxa estava em 1.22, o que significa que cada 100 pessoas podem transmitir a doença para outras 122. Os dados são monitorados semanalmente pelos pesquisadores do LAIS.

“Essa transmissão é variável. Ela é medida baseada em dados, em casos. Na hora que assumimos que tem conjunto de pacientes que não estão no sistema, que não foram testados, que não foram notificados, isso interfere no calculo das taxas”, explica.

A infectologista explicou que é preciso frear a transmissão do vírus, caso contrário não haverá leitos suficientes para atender a população. Segundo ela, a vacina seria a única forma de proteção, mas ainda está longe de alcançar o efeito esperado, porque o número de pessoas vacinadas ainda é pequeno.

“A situação é grave e nós precisamos assumir esse compromisso juntos. Nós, sociedade. É importante a população entender que algo errado está acontecendo. E ela precisa tomar um lugar nisso. O lugar que a população precisa tomar é: eu quero continuar vivo até o final dessa pandemia. Isso é um gesto de amor à vida”.

Novas variantes

Segundo a médica, a mutação que o vírus sofre é um fenômeno esperado. As variações acontecem à medida que o vírus circula e infecta pessoas, sofrendo mudanças no seu padrão genético. No fim de semana, a UFRN confirmou a presença de duas novas variantes no Rio Grande do Norte.

Marise explicou que ao longo do tempo isso pode trazer mudanças na capacidade de transmissão do vírus. Marise disse que ainda não é possível afirmar exatamente se essas variantes terão a capacidade de trazer sintomas diferentes.

“O que é importante a população entender é que: nós temos essas novas variantes também circulando, que podem estar relacionadas a um risco maior de transmissão, então o que é que a gente tem que fazer? Nos protegermos. Essa é a orientação”, pontuou.


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