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Nas últimas semanas, o novo crescimento dos números de infecções por Covid-19 em países como Espanha, França e Inglaterra, acenderam o alerta na Europa: o continente enfrenta uma segunda onda do novo coronavírus?

Na França, os casos aumentaram cerca de 22,4% entre a última semana de agosto e a primeira de setembro, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O governo francês tornou obrigatório o uso de máscaras em algumas cidades, incluindo Paris. Elas já eram obrigatórias em lugares fechados, como restaurantes e lojas, mas agora precisam ser utilizadas em qualquer espaço comum.

O Reino Unido também passa por dificuldades e, diante da nova alta de infecções, o governo declarou que não hesitaria em decretar um segundo lockdown, caso a situação piore.

Teme-se uma segunda onda da pandemia da Covid-19, que parecia estabilizada nesses lugares. Entretanto, especialistas afirmam que, apesar de ter ocorrido um crescimento sensível no número de infectados, é muito improvável que um cenário como o da epidemia do início do ano ocorra novamente.

Impactos da reabertura

Após uma quarentena intensa e uma série de restrições, a Europa começou a reabrir o comércio e serviços. Lojas, restaurantes, museus e cinemas puderam voltar a receber o público, caso adotassem medidas sanitárias de segurança.

Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Itália foram alguns dos países que, além da parte comercial, também optaram pela retomada das aulas em escolas e universidades.

Segundo Ana Luíza Gibertoni Cruz, médica infectologista e pesquisadora na Universidade de Oxford, o retorno parcial da rotina contribuiu com o aumento da transmissão da Covid-19, além da circulação de turistas que viajaram dentro do próprio continente durante as férias do verão no Hemisfério Norte.

Ela lembrou também que o aumento do número de registros da doença pode ter relação com uma maior testagem da população nesses lugares. 

"A realização de mais testes, incluindo pessoas assintomáticas e com sintomas leves, aumenta as notificações, mas é inegável um aumento real do número de infectados por conta do relaxamento das medidas de distanciamento físico", explicou a pesquisadora.

Menos mortes

Apesar de o número de infecções ter aumentado, o número de mortes causadas por complicações da doença se mantém estável por enquanto, de acordo com dados publicados por governos europeus. Desde junho, o número de óbitos segue em queda.

Na França, por exemplo, enquanto em abril a Covid-19 fez cerca de 17 mil mortos – segundo a OMS–, em agosto foram 399 óbitos documentados.

Para a pesquisadora de Oxford, esse contexto pode estar ser reflexo dos novos casos estarem concentrados principalmente na população mais jovem. Pessoas mais novas começaram a se movimentar mais com o relaxamento das medidas de isolamento, e aumentaram a transmissão do vírus entre o grupo.

"A população mais jovem é o grupo que mais prontamente se expõe a situações de potencial transmissão. Sabemos que esse grupo lida bem com a doença e, mesmo quando sintomáticos, poucos requerem admissão hospitalar", explicou.

Outro fator relevante na contenção das mortes é a adaptação dos hospitais e profissionais da saúde para lidar com a Covid-19.

"Se a dinâmica atual se mantiver, em breve os grupos mais vulneráveis também serão infectados. Mas a expectativa é de que a mortalidade seja menor, em grande parte, devido ao aperfeiçoamento das estratégias de tratamento e às melhorias no controle das transmissões dentro do ambiente hospitalar", afirma e infectologista.

Em alguns lugares, a estabilidade se mantém

Apesar do crescimento das transmissões em certos países, outros apresentam uma continuidade nos baixos registros de coronavírus, como Alemanha e Itália.

Segundo a especialista, o momento de relativa estabilidade permite que os países possam refinar suas estratégias de testagem e infraestrutura hospitalar, além de lidar com parcelas da população que questionam a importância dos programas de controle.

Por esse motivo, algumas nações podem estar lidando melhor com as transmissões da doença.

Ela também explica que a "imunidade adquirida é uma possibilidade fraca", ou seja, é improvável que as transmissões estejam baixas por causa de uma 'imunidade de rebanho' atingida.

Os números dos exames sorológicos feitos em habitantes de grandes cidades dessas regiões indicam que poucas pessoas possuem os anticorpos que combatem a SARS-CoV-2.

Em casos como o da Alemanha, no entanto, é possível traçar a estabilidade da pandemia a decisões importantes tomadas desde o início dos casos.

O primeiro caso registrado no país não foi detectado em uma pessoa que apresentou sintomas do novo coronavírus, e sim através do rastreamento de uma pessoa assintomática, que vinha de um país onde a transmissão já estava ocorrendo.

A partir de então, a aplicação de testes foi robusta e as medidas de isolamento foram adotadas de forma rápida, poucos dias depois da detecção do primeiro caso.

"A estabilidade atual alemã resulta dessa sequêcia inicial de eventos, em especial o confinamento precoce", declarou Ana Luíza Gibertoni Cruz.

"Segunda onda"?

Existe uma apreensão no mundo todo em relação ao crescimento dos infectados pela Covid-19 na Europa. Depois da comoção que ocorreu principalmente entre os meses de março e maio no continente, teme-se que a situação se repita.

A pesquisadora lembrou que é importante considerar que "não existe uma definição formal de onda". "É um conceito abstrato, baseado somente no fato de que o número de casos confirmados aumentou de forma constante". 

Apesar de algumas pessoas acreditarem que essa pode ser uma nova ocorrência em massa de casos, a própria OMS desencoraja o uso do termo 'segunda onda'.

O ideal, de acordo com a imunologista, é usar esses dados de crescimento para reforçar os cuidados individuais e públicos, como forma de refrear as transmissões.

"É um momento delicado, e todos queremos que a doença seja controlada, minimizando as pertubações diárias em nossas vidas e na economia", pondera.

A pesquisadora explica que existem dois grupos principais de cuidados para combater o novo coronavírus: os individuais e os coletivos.

Os primeiro grupo representa a diminuição da movimentação, manter as distâncias corretas entre as pessoas, uso de máscara e higiene das mãos.

Já o segundo, se refere a "um plano governamental de controle bem estruturado", o que envolve testes em massa, rastreamento de viagens e de pessoas que passaram pelos aeroportos e investimento em hospitais.

"A identificação rápida de surtos, entendendo suas dinâmicas, permite o isolamento dos infectados, levando à ruptura das cadeias de transmissão", disse Ana Luíza Gibertoni Cruz, rerforçando a importância de uma ação rápida do ponto de vista institucional.

"Surtos ocorrerão, mas se forem ativamente monitorados, acabam sendo autolimitados, e assim não contribuirão para a massa de casos, que toma corpo e se torna uma onda".

CNN Brasil






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