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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) experimentou, nos últimos dias, uma melhora em seus níveis de aprovação junto ao eleitorado, a despeito do quadro ainda grave da pandemia do novo coronavírus e de seus impactos econômicos observados. É o que mostra a mais recente edição da pesquisa XP/Ipespe, feita entre os dias 13 e 15 de julho.

Segundo o levantamento, após atingir a mínima de 25% de avaliações positivas em maio, o mandatário viu o indicador crescer gradativamente até atuais 30%. É a melhor marca desde 24 de abril, quando 31% dos eleitores classificavam o governo como ótimo ou bom, e o mesmo patamar visto em março deste ano ou setembro de 2019. A margem de erro da pesquisa é de 3,2 pontos percentuais.

As avaliações negativas, por sua vez, atingiram 45%, em uma queda de 5 pontos percentuais em relação à máxima de meados de maio. Apesar da melhora, o saldo das avaliações positivas e negativas do presidente – hoje de -15 p.p. – ainda é significativamente pior do que o registrado antes da covid-19 ser declarada pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 11 de março.

Em fevereiro, o grupo de eleitores que classificavam o governo como ruim ou péssimo superava em 2 p.p. o grupo dos que avaliavam a gestão como ótima ou boa. No segundo mês de gestão, Bolsonaro contava com vantagem de 23 p.p. das avaliações positivas sobre as negativas. O saldo foi diminuindo a cada nova pesquisa até se tornar negativo em maio de 2019.

Os dados abertos mostram que cresceu a participação da população com renda de até dois salários mínimos sobre o grupo que avalia positivamente a atual gestão. Antes da pandemia, o eleitorado mais pobre respondia por cerca de 46% de toda a base que avalia o governo como ótimo ou bom. Esse número passou para em média 48% e agora atingiu praticamente 50%.

A melhora no desempenho do presidente junto aos mais pobres coincide com a concessão do auxílio emergencial de R$ 600, pago a trabalhadores informais, desempregados e beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família durante a crise da covid-19. Inicialmente, foram aprovadas três parcelas, mas o governo prorrogou o benefício por mais dois meses.

A ideia agora é criar um programa permanente de renda mínima a partir da unificação de programas sociais já existentes. Com isso, o governo pretende ampliar a base de contemplados pelo Bolsa Família e os valores repassados, sem que isso implique em impacto fiscal adicional. Analistas observam potenciais dividendos políticos com o movimento.

Segundo a pesquisa XP/Ipespe, também houve melhora relevante na avaliação do presidente junto ao eleitorado do Nordeste, que responde por 27% da amostra da pesquisa. Deste grupo, 27% classificam a gestão como ótimo ou boa – melhor marca desde fevereiro, antes da crise sanitária. O presidente também melhorou seu desempenho, mesmo que dentro da margem de erro, em todas as demais regiões.

No recorte por gênero, a recuperação de Bolsonaro se deu entre os homens, ampliando o abismo observado desde a corrida presidencial. Hoje, o governo é avaliado positivamente por 36% dos homens e 24% das mulheres. Em maio, essa diferença chegou a ser de 15 pontos percentuais.

Recuperação

O levantamento também mostra uma melhora na percepção da população sobre os rumos da economia. Em dois meses, o percentual de eleitores que acreditam que o país está no caminho certo nesta área saltou de 27% para 33%. De igual modo, as avaliações de que Bolsonaro é o maior responsável pela situação atual foram de 24%, em junho, para atuais 19%.

O movimento coincide com uma avaliação mais otimista do eleitorado sobre a manutenção do emprego e das perspectivas com relação às próprias dívidas – embora, no segundo caso, o grupo dos que esperam um aumento do próprio endividamento continue sendo maioria.

Segundo a pesquisa, em dois meses, caiu de 54% para 46% o grupo de respondentes que acredita ser pequena ou muito pequena a chance de manter o emprego atual nos próximos seis meses. No mesmo período, cresceu de 39% para 46% o grupo dos que acreditam que essa possibilidade é alta.

De acordo com o levantamento, o medo da população com o coronavírus tem diminuído, a despeito da persistência do Brasil em registros de mais de 1.000 mortes diárias. Ainda assim, a preocupação com a doença continua sendo a tônica da maioria. Questionados sobre o momento em que o país se encontra na crise, 53% acreditam que o pior ainda está por vir, ao passo que 39% entendem que o pior já passou. Em maio, esses grupos correspondiam a 68% e 22% da população, respectivamente.

Ainda sobre a pandemia, saltou de 52% para 58% o percentual de entrevistados que concordam com as medidas de flexibilização do isolamento social adotadas por diversos governadores e prefeitos, a despeito de algumas localidades do país estarem enfrentando um crescimento na curva de contágios e óbitos.

Tal percepção também se refletiu em uma leve melhora na avaliação sobre a atuação de Bolsonaro no enfrentamento ao novo coronavírus. Em maio, 58% adotavam postura crítica e 21% avaliavam positivamente. Hoje, 52% classificam a posição do presidente como ruim ou péssima e 25%, como boa ou ótima.

Por outro lado, a percepção sobre a atuação dos governadores, antagonistas do presidente nesta crise sanitária, piorou e atingiu a pior marca desde o início da pandemia ao registrar 39% de avaliações positivas e 28% negativas.

O movimento se refletiu em uma perda de apoio dos governadores em quase todas as regiões do país. No Sudeste, as avaliações negativas voltaram a superar numericamente as positivas – o que não acontecia desde março. Apenas a região Sul apresentou comportamento estável.

Modelo “paz e amor” aprovado

A melhora na popularidade de Bolsonaro coloca o presidente, em termos de aprovação, próximo aos patamares de antes da saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública. À época, o ex-juiz da Lava Jato acusou o mandatário de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. O caso deu origem a um inquérito ainda em fase de apuração na Procuradoria Geral da República.

A pesquisa XP/Ipespe deste mês mostra uma recuperação do governo federal quanto à percepção dos eleitores sobre a política de combate à corrupção, mas os números seguem distantes do que se observou no início da gestão ou mesmo no último mês com Sérgio Moro no comando da pasta.

Segundo o levantamento, de junho pra cá, caiu de 47% para 43% o grupo de eleitores que acreditam que a corrupção terá aumentado nos próximos seis meses. No mesmo período, se manteve em 21% o percentual daqueles que entendem que os crimes de colarinho terão diminuído. Em março, os grupos correspondiam, respectivamente, a 30% e 27%. Já no primeiro mês de governo, eram 16% e 54%.

De acordo com o levantamento, 77% dos entrevistados tomaram conhecimento da investigação envolvendo o ex-policial militar Fabrício Queiroz, amigo da família presidencial e ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e 76% souberam que ele e a esposa, Márcia Aguiar, tiveram suas prisões transformadas em domiciliares.

Queiroz é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como operador financeiro de um suposto esquema de “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro à época em que o atual senador era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

A pesquisa mostra que 68% dos entrevistados discordam da prisão domiciliar concedida ao casal amigo do clã-Bolsonaro. Questionados sobre quem está mais envolvido com Queiroz, 61% dos eleitores acreditam ser o próprio senador Flávio Bolsonaro. Outros 8% apontam o presidente Jair Bolsonaro e 4% dizem que o caso é restrito ao ex-assessor.

Para 35%, a continuidade das investigações sobre Queiroz e o esquema de “rachadinhas” no gabinete do filho do presidente pode afetar muito o governo Jair Bolsonaro. Outros 54% acreditam que o caso afetará um pouco ou não terá efeito sobre a atual gestão.

Questionados sobre como Bolsonaro deve agir em relação ao Congresso Nacional, apenas 22% defendem o endurecimento de posições e o discurso contra a política tradicional, ainda que isso signifique dificuldades na relação. Outros 40% apoiam uma flexibilização para aprovar sua agenda, ainda que isso signifique um afastamento do discurso inicial. E 25% entendem que o mandatário deve manter a relação com o parlamento como está.

Desde o agravamento da crise do coronavírus, Bolsonaro aprofundou uma investida em direção a lideranças do chamado “centrão”. O movimento coincidia com uma perda de popularidade e com o aumento de pedidos de impeachment contra o presidente protocolados junto à Câmara dos Deputados, além do próprio avanço de investigações contra o mandatário e seu entorno.

O flerte de Bolsonaro com o bloco contou com uma bateria de reuniões com lideranças partidárias e com a oferta de cargos cobiçados na administração pública, tendo a recriação do Ministério das Comunicações e sua oferta ao deputado Fábio Faria (PSD-RN) seu exemplo mais eloquente.

Antes deste movimento, porém, indicados do “centrão” já haviam ocupado posições como a diretoria de ações educacionais do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), a direção do Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra Secas) e a secretaria de Mobilidade do Ministério de Desenvolvimento Regional.

O movimento, no entanto, parece não ter abalado a reputação de Bolsonaro junto ao eleitorado. Segundo a pesquisa XP/Ipespe, 49% dos entrevistados acreditam que o presidente está com o mesmo comportamento de sempre em relação aos demais Poderes. O que pode aumentar o nível de segurança para que novos acenos sejam feitos ao “centrão” quando necessário.

Infomoney


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