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Um grupo de estudantes do curso de Publicidade e Propaganda da UFRN sofreu ataques racistas durante um debate virtual que discutia justamente o racismo em uma plataforma digital. Após o ocorrido, a chefia do Departamento de Comunicação adiou uma entrevista online que haveria no dia seguinte sobre transsexualidade, temendo novas agressões. O Decom afirma que levará o caso ao Ministério Público.

Em nota, a UFRN afirmou que tem tem compromisso com o combate a práticas discriminatórias, de injúria racial e racismo, e disse que o canal para denúncias na instituição é a ouvidoria.

A situação aconteceu com os alunos que integram a 59mil, empresa júnior da graduação de Publicidade de Propagando. Os estudantes promovem uma vez por semana, através da plataforma Meets do Google, rodas de conversas virtuais voltadas para a discussão de diversas pautas.

Nesta semana, segundo a organização, o encontro tinha como objetivo levar esclarecimentos sobre “racismo estrutural”. “Considerando tal importância da temática abordada e o intuito de alcançarmos o máximo de pessoas possível, o evento veio a ser amplamente divulgado em diversas mídias (como Instagram, Twitter e grupos do WhatsApp), e, por tal razão, não tivemos controle sobre quem o convite alcançaria”, diz a nota divulgada pela 59 mil.

De acordo com os alunos, após cerca de 30min do início, um grupo de pessoas desconhecidas começou a silenciar a palestrante repetidas vezes através de uma função da plataforma, desligando o áudio de seu microfone. Esse grupo era formado majoritariamente por homens.

“A palestrante convidada tentou lidar com a situação, mas o grupo continuou com atitudes que visavam claramente desmoralizar o conteúdo que estava sendo passado, através de caos sonoro, palavras de ódio e de baixo calão, exibição de conteúdo pornográfico e áudio de conteúdo racista”, relatam os estudantes em nota divulgada pela 59mil.

Os ataques levaram ao cancelamento do evento, porque os alunos temiam novas agressões. No dia seguinte, o Departamento de Comunicação realizaria uma entrevista online com um repórter da Ponte Jornalismo, sobre transsexualidade. Porém a discussão também foi suspensa.

“Tínhamos agendado a execução de um projeto que previa entrevistas com profissionais da comunicação do Brasil pelo nosso endereço no Instagram. Um dos eixos da primeira entrevista era o tema "transexualidade". Iríamos entrevistar um repórter trans homem. Suspendemos em solidariedade ao ocorrido. E também temíamos sofrer novos ataques por, novamente, tangenciar um tema que carrega discussões mais amplas”, explica a professora Lívia Cirne, chefe do Decom.

Lívia afirma que o departamento procurou acolher os estudantes vítimas de racismo, e que vai levar o caso adiante. “O departamento se solidariza em absoluto. A primeira coisa foi acolher, mesmo, e ter empatia. Não só a chefia, mas os coordenadores ficaram perplexos com esse ataque, que foi violento”.

O Decom encaminhou ofício à direção do Centro de Ciências Humanas, Letras e Arte (CCHLA) - ao qual o departamento está vinculado - para que autorizem a investigação dos fatos, e acionará o Ministério Público.

“Se as pessoas forem alunos da Instituição, a direção terá que tomar providências em relação a isso, para coibir novas práticas dessa natureza e dar exemplo. Entendemos que ‘deixar pra lá’ é naturalizar essas reações criminosas e, consequentemente, dar espaço para que novos aconteçam e tomem, cada vez mais, proporções absurdas”, argumentou Lívia Cirne.

A professora disse ainda que teme que, após a autorização do ensino à distância, os universitários fiquem vulneráveis a esse tipo de investida criminosa. “Nesse contexto de ensino remoto, com o qual não temos vivências anteriores e aparece meio atropelado, qualquer curso pode ser vítima dessas violações. Porém, os que estão sediados nas Humanas, Artes e Ciências Sociais estão mais propícios a serem alvo, porque as discussões que pautam nossos estudos incomodam mais ondas conservadoras”.

Com relação aos debates, apesar do primeiro cancelamento, a chefe do Departamento de Comunicação diz que serão retomados. “O repórter, Caê Vasconcelos, que é da Ponte Jornalismo, também ficou estarrecido com o fato, entendeu perfeitamente. Ele se comoveu. Adiamos para a semana seguinte, com data ainda a ser definida, mas não vamos parar o projeto, porque a ignorância discriminatória não nos silenciará. E já estão programados debates sobre fake news, periferia, jornalismo independente, negritude, cultura drag, entre outros”, adianta.

G1/RN


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