A cidade de São Paulo já dá sinais de necessidade de medidas mais drásticas de isolamento social, chamadas de lockdown (bloqueio generalizado da movimentação), para conter a pandemia do novo coronavírus, na avaliação de epidemiologistas, virologistas e infectologistas.
No entanto, eles afirmam que faltam dados mais concretos sobre a real dimensão da pandemia e questionam se o endurecimento deve ser estendido igualmente e ao mesmo tempo a todo o estado, já que há cidades com poucos ou nenhum caso da doença.
De modo geral, os especialistas apoiam o endurecimento de medidas para dissipar aglomerações, como o uso de força policial, cogitado pelo governador João Doria (PSDB).
“O lockdown acontece quando a capacidade de resposta hospitalar acaba. Infelizmente, é provável que, em São Paulo, estejamos nos dirigindo para isso”, diz o médico Ivan França Júnior, médico e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Saber a hora de instalar um bloqueio mais rígido ou de relaxar as medidas depende de dados sobre a dinâmica da doença na região. “Mas provavelmente já existem muito mais casos e mortes que o governo não está conseguindo pegar. Não dá para acreditar nos dados. Estamos navegando no escuro”, afirma França Júnior.
Para o epidemiologista da USP Paulo Lotufo, as curvas conhecidas de infecção e de mortos estão subindo e, ao mesmo tempo, o número de pessoas circulando na cidade, aumentando. Isso, por si, já tornaria defensável o endurecimento do isolamento.
“A gente deveria ter bloqueado a Grande São Paulo há muito mais tempo. São Paulo é um foco. Essa história de o aeroporto estar funcionando é absurda”, afirma.
Para o virologista Maurício Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), podem ser necessárias medidas mais rigorosas para se alcançar a taxa de isolamento de 70%.
“Se a gente não baixar a curva de casos, as consequências podem ser terríveis. Veja Nova York abrindo sepulturas em massa. O que leva as pessoas a acharem que não teremos nada parecido?”
Na opinião de Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), em regiões que demonstram aumento descontrolado no número de casos e sobrecarga no sistema de saúde, medidas mais duras de bloqueio já deveriam estar em andamento.
“Os dados mostram que o ideal é que pelo menos 70% das pessoas fiquem sem circular para termos um menor número de casos graves e permitir que o sistema de saúde se organize pra receber os pacientes”, afirma.
Folhapress
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