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O julgamento do processo sobre corrupção na Fifa teve um dia repleto de planilhas no Tribunal Federal do Brooklyn nos Estados Unidos, nesta quinta-feira. Os advogados de defesa questionaram Eladio Rodrigues, testemunha e ex-funcionário da empresa argentina Torneos y Competencias (TyC), que assumiu na quarta-feira ter sido responsável pelo pagamento de propinas a diversos dirigentes. Durante o depoimento, um pagamento de US$ 1 milhão a um ex-funcionário da TV Globo, Marcelo Campos Pinto, apareceu numa das planilhas apresentadas.


A defesa do ex-presidente da CBF José Maria Marin tentou mais uma vez convencer os jurados do "Caso Fifa" que era Marco Polo Del Nero, e não ele, o destinatário de propinas pagas por empresas de marketing esportivo. Na véspera, o delator argentino Eladio Rodriguez havia afirmado ter pago propinas no valor de US$ 4,8 milhões para Marin e Del Nero, que em troca do dinheiro beneficiariam a empresa Torneos em contratos da Copa América, da Copa Libertadores e da Copa Sul-americana.
O advogado Jim Mitchell, que defende Marin, exibiu três documentos inéditos para tentar provar que era Del Nero – sucessor de Marin e atual presidente da CBF – quem recebeu o dinheiro. Um desses documentos era um e-mail enviado por Eladio Rodríguez a ele próprio no dia 6 de junho de 2013, com uma lista de tarefas a cumprir. Entre os 17 compromissos listados, um deles diz:
– Telefonar para Marco Polo para transferência.
O advogado Jim Mitchel interrogou Eladio Rodriguez:
– Marco Polo era um dos brasileiros a quem você disse que pagou propina?
– Sim.
– Você fez uma anotação de que deveria telefonar para José Maria Marin?
– Não.
– Só anotou ligar para Del Nero?
– Sim.
Em seguida, o advogado de Marin exibiu duas planilhas da Torneos. Uma delas tinha a seguinte anotação:
– Brasilero (MP) - US$ 900.000,00 – Pagado Transf.
A outra era mais detalhada. O título dizia "Copa América 2015 (pagar 2015)" e logo abaixo a anotação:
– Pagar a Brasilero (MP) - US$ 2.000.000,00 - Pagado 1mm
Jim Mitchell voltou a interrogar o ex-funcionário da Torneos.
– O que significa o termo "Brasilero"?
– Era o termo que usávamos para presidentes da CBF.
– Mas está no singular, não?
– Sim.
– Você manteve registros de pagamentos para José Maria Marin?

– Para mim eram um só, estavam sempre juntos.
Desde o início do julgamento, que está na quarta semana, a estratégia da defesa de José Maria Marin foi apresentá-lo como alguém inocente, sem poder de decisão no futebol brasileiro – e transferir a responsabilidade para Marco Polo Del Nero.
Apesar do esforço da defesa de Marin, há uma outra anotação na planilha de pagamentos da Full Play que cita "Brasileiros" no plural", ligada ao valor de US$ 3 milhões.
Em outro momento, a defesa buscou um item de 9 de dezembro de 2013 e perguntou sobre a sigla M-C-P. Inicialmente, Eladio disse que MCP era o atual presidente da CBF. A seguir, quando a promotoria voltou a interrogá-lo, ele retificou essa resposta.
O promotor exibiu documentos - entre eles um pagamento feito pela TV Globo no valor de US$ 10 milhões à T & T referentes a um contrato de transmissão. Logo abaixo apareceu outra anotação em espanhol - indicando transferência de US$ 1 milhão da mesma T & T para um ex-funcionário da Rede Globo - Marcelo Campos Pinto. A anotação dizia: "Contrato com vehiculo Marcelo Campos Pinto - 1.000.000".
No depoimento de quarta, Eladio Rodrigues havia respondido também sobre transações financeiras do ano de 2013 - registradas em documentos que ele mesmo passou à promotoria. Esses documentos mostraram recebimentos e pagamentos da empresa Torneos y Traffic Holandesa, subsidiária da T & T das Ilhas Cayman, que por sua vez originalmente era uma sociedade entre a brasileira Traffic e a argentina Torneos y Competencias.
Na semana passada, em seu depoimento, Alejandro Burzaco, que foi o principal executivo da Torneos de 2011 a 2015, usou o termo "vehiculo" para se referir a empresas off-shore. E disse mais: que a T y T holandesa tinha sido criada para pagar propinas a dirigentes.

Na sequência, o promotor Nitze perguntou a Eladio:
- Quem é Marcelo Campos Pinto?
- Não sei.
- De quanto foi o pagamento?
- Um milhão de dólares.
Marcelo Campos Pinto foi o executivo da Globo responsável por contrato de transmissões de jogos de futebol até novembro de 2015 - quando deixou a empresa.
O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, enviou a seguinte nota ao GloboEsporte.com:
Com referência à citação feita pelo delator premiado JOSÉ ELADIO RODRIGUEZ na Corte de Justiça do Brooklin, New York, EUA, o presidente da CBF, MARCO POLO DEL NERO, reitera que o depoimento do Sr. José Eladio Rodriguez se mostra contraditório, confuso e inverossímil, eis que afirma sequer saber quem era o presidente da CBF à época dos fatos ou identificar o significado de supostas iniciais lançadas em uma determinada planilha. Reitera definitivamente que não assinou nenhum contrato objeto das investigações seja pela CBF, entidade da qual não era o presidente à época, seja pela Conmebol, onde nunca exerceu nenhum cargo. Por fim, reafirma que nunca participou, direta ou indiretamente, de qualquer irregularidade ao longo de todas atividades de representação que exerce ou tenha exercido.
O Grupo Globo divulgou a seguinte nota:
Sobre a afirmação de uma testemunha no julgamento que acontece em Nova Iorque de que o ex-diretor do Grupo Globo, Marcelo de Campos Pinto, recebeu em 2013 pagamento de uma empresa do Grupo Torneos y Competencias, que atua na área de marketing esportivo, o Grupo Globo esclarece que nunca teve conhecimento de tal pagamento. Caso tal pagamento tenha ocorrido, foi, evidentemente, contrário aos interesses da empresa. O Grupo Globo reafirma que não tolera nem paga propina.


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