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Guilherme Wanderley relatou o dia do ataque ao MPRN  (Foto: Reprodução/Tribuna do Norte)

Em 30 linhas o servidor público Guilherme Wanderley Lopes da Silva conta o que aconteceu no dia 24 de março deste ano, quando tentou executar o plano de matar dois procuradores e um promotor de Justiça dentro da sede do Ministério Público do Rio Grande do Norte. “Na hora do crime, não tive coragem de matar nenhum dos três”, relata. Em uma nova carta, escrita a punho de dentro de uma das celas do CDP da Ribeira, em Natal, onde está custodiado desde que se apresentou à polícia, ele detalha como tentou realizar o triplo homicídio, diz que está "muito arrependido" e pede desculpas. A carta, com data desta quinta (30), foi publicada na manhã desta sexta (31) no jornal Tribuna do Norte.


G1 procurou a defesa de Guilherme. O advogado Jonas Antunes disse que tomou conhecimento da carta pela imprensa, mas preferiu não comentar o conteúdo dela.

“Acordo todas as noites e manhãs rezando para não ter feito isso. Aí vejo que cometi. Foi uma cegueira bem mais forte do que eu. No final, quem foi atingido mesmo, fui eu. Pensei estar seguindo a bíblia, tinha certeza que estava, mas, na verdade, descobri que não estava. Agora terei muito, muito tempo para pensar no meu ato”, escreve o atirador em trecho da carta.


O crime
Guilherme Wanderley, de 44 anos, trabalhava no MP há 20 anos. Por volta das 11h da sexta-feira (24), ele invadiu uma reunião onde estava o procurador-geral de Justiça do RN, Rinaldo Reis. Ele chegou a atirar contra Rinaldo, mas errou. No entanto, conseguiu acertar o  promotor público Wendell Beetoven nas costas e dois tiros no procurador-geral adjunto, Jovino Sobrinho. Ele estava sendo procurado pela polícia e se apresentou no final da manhã do sábado (25). Depois disso, ficou preso por força de um mandado de prisão preventiva e foi levado para o Centro de Detenção Provisória da Ribeira.
No dia do crime, o servidor também fez uso de uma carta. Ela a deixou sobre a mesa da sala da reunião. O tom das duas cartas é diferente. Sobre o motivo para matar os três, o funcionário do MP criou um tópico específico no qual escreveu: “Ora, o motivo é intuitivo: legítima defesa sui generis própria e alheia. Alguém precisava fazer algo efetivo e dar uma resposta a esse genuíno crime organizado. Resposta do tipo: 'para algumas ações, haverá sim reação'. Ou: 'quem planta... colhe'. A verdade não pode ser calada, nós estamos numa guerra que, infelizmente, é imperceptível por muitos dada a gigantesca cegueira do nosso povo ignorante, desorganizado e, por isso mesmo, culpados. A caneta tem o poder de ferir e matar. Meu lema há muito tempo é: trate os outros como gostaria de ser tratado e procurando dar a cada um o que é seu. Tão fácil de seguir, mas, infelizmente, tão desprezado".
Na nova carta, o atirador fala que cometeu crimes, mas que não pode, nem quer, negar. “Estou muito arrependido”, traz trecho do relato. Assim como na carta deixada no dia do crime, Guilherme fala sobre a insatisfação política e administrativa para o ataque. “Peço desculpas a todos os membros e servidores do Ministério Público, pois mesmo com toda a minha insatisfação com a gestão da instituição, o caminho, o remédio, não podia ser esse”.
O servidor, que fugiu após o crime, relata, no final da carta, que não ofereceu risco para os policiais e nem para os seguranças do Ministério Público. “Não correram qualquer risco, comigo, eu nunca atiraria neles. Agradeço a eles por não terem retirado a minha vida. Porque chance tiveram".
O atirador está preso no CDP da Ribeira, onde ficará por tempo indeterminado, segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Claiton Pinho. O delegado Renê Lopes, da 5ª DP, que conduziu o interrogatório, disse que o servidor passou a maior parte do tempo calado. "Ele nos respondeu apenas três questionamentos. Negou quando questionamos se mais alguém participou da ação, negou que já tenha sido internado anteriormente por problemas psiquiátricos ou psicológicos e negou também que o atentado tenha tido relação com um processo que seu genitor respondeu".
“Terrorismo se combate com fogo”
Em carta escrita antes de praticar o crime, ele destacou que: 'terrorismo se combate com fogo'. E ainda 'alguém precisava fazer algo efetivo e dar uma resposta a esse genuíno crime organizado'. Ainda no documento, ele completa: "São mais de 3 anos esperando (desde abril de 2013). Angústia porque não sou dono da verdade e, por isso mesmo, ainda tenho um pouquinho de dúvidas acerca dessa minha conduta. Cerca de 5% a 10% de dúvidas. Mas, satisfação porque pedi resposta a Deus e, pelo que percebi, ele me mostrou esse caminho. Tenho cerca de 90% de certeza de que assim devo proceder. Os sinais foram vários, claros e eu prometi a Deus e a Jesus Cristo que estaria pronto para essa tarefa. Ora, se prometi uma coisa a Eles... como posso voltar atrás? Nunca! Sou um servo de Deus e de Jesus Cristo".
Trecho da carta deixada pelo servidor Guilherme Wanderley Lopes da Silva  (Foto: Reprodução/Carta divulgada pelo MPRN)
Guilherme escreveu ainda que seu plano de matar os procuradores e o promotor vem desde o ano de 2013. "Eu estou preparado desde 2013, na espreita de sua principal jogada maldosa: exonerar os assessores ou ataque à suas finanças. Aí sim, eu teria carta branca para fazer o que tinha e tem que ser feito. Sigo o critério objetivo dele. O que é ruim para o todo deve ser descartado. Ele inspira tremenda má influência e isso já temos de dobra. Tinha que esperar até o último momento, até minhas finanças se esgotarem, porque a tarefa não é nada fácil, apesar de necessária".
Ao final do documento que foi deixado na sala do procurador-geral de Justiça, o servidor autor do atentado ainda colocou uma carta de renúncia e exoneração para que o procurador-geral Rinal Reis assinasse, assim como o procurador-geral adjunto Jovino Sobrinho e o promotor Wendell Beetoven.

Ministério Público do RN divulga carta do atirador Guilherme Lopes (Foto: Divulgação/MPRN)


*G1 RN





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