Cacim

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Nada chama mais a atenção do mundo no momento, acerca do Brasil em profunda crise econômica, do que a falta de credibilidade dos seus líderes e governantes. É bem verdade que, no passado, vivenciamos agudeza em relação à nossa economia, mas tínhamos horizontes delineados, políticas e homens públicos respeitáveis, e conseguimos superar barreiras que se apresentavam como intransponíveis. A atual deterioração moral e ética da classe política do país, raríssimas exceções, permita meu caro leitor, causa náuseas não só a nós brasileiros de qualquer nível, mas vem escandalizando todos os continentes do planeta, tal o grau de indecência, ilegalidade e desonestidade como tem sido tratado o erário nacional, as suas autarquias, as companhias estatais, o governo de uma maneira geral, descendo tal desconfiança aos governos estaduais e municipais. É uma época difícil, onde o povo já não acredita mais nos governantes e nos seus próprios representantes nas casas legislativas. Pesquisa publicada essa semana que termina, sob o patrocínio da Confederação Nacional dos Transportes – CNT, procedida pela MDA, aferiu que 81% da população nacional estão descrentes dos atuais políticos. E pensar que até pouco tempo atrás Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva, (criatura e criador), Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Michel Temer, dentre outros, eram referência nacional, significa que, como diria o mago John Lennon, “O Sonho Acabou”. Estamos sem líderes. Os que estão postos no taboleiro, quase todos envoltos em escândalos vergonhosos e averiguações que andam a passo de tartaruga já cairam na descrença popular. Não obstante, a título de simplificação, dividiremos aqui a imagem de um Estado em duas faces. A face interna, de como o país se percebe, e a face externa, de como o país é percebido. Se nas relações entre os Estados impera a priori a desconfiança, importa ao Estado o quanto de esforço ele fará para que a sua imagem perante a audiência externa seja positiva, amistosa e segura. Essa visão não se limita a questões militares, somam-se a isso questões econômicas e diplomáticas. No caso brasileiro, a imagem pós-escândalos da Petrobrás pode ser definida, grosso modo, de duas formas: em primeiro lugar, a desconfiança em torno dos negócios espúrios através do alto índice de corrupção e do espalhamento do escândalo para o alto escalão governamental. Ou certa institucionalização de expedientes corruptíveis no seio da democracia. A segunda, a confiança no país que escancara seus problemas, aponta os focos de corrupção, pune os culpados e ao mesmo tempo fortalece as suas instituições democráticas. Essa imagem dúbia repercute nos editorais de jornais estrangeiros, em think tanks que debatem sobre o atual momento dos países emergentes e na academia de forma geral. No Brasil, o termômetro diz muito mais sobre a polarização que toma conta da política nacional desde meados da década de 1990 do que às possibilidades para o futuro. Portanto, os embates internos corroboram para repercutir a imagem brasileira no exterior, ora positiva (de combate às mazelas), ora negativa (de corrupção intrínseca). O jogo de soma zero só é desfeito se o analista se atentar ao que ocorre no além-fronteiras. Lá é possível obter mais ferramentas para a análise do atual momento. Só nos últimos meses cresceu, sobremaneira, a quantidade de casos de corrupção do governo nacional, políticos, federações esportivas, entre outras. A enxurrada de casos - sem novidades - indica desgaste em três frentes. O primeiro desgaste está na relação de distanciamento entre o político e o cidadão - desgaste da democracia representativa em boa parte dos países ocidentais. O segundo, a impossibilidade de extirpar o fator corrupção, intrínseco aos seres humanos; a quebra do mito moral de que a corrupção é particular aos países da periferia. Por último, a corrosão de uma fase particular do capitalismo e a procura por novos mercados, novas fontes de rendimento, novas formas de o Estado assegurar o lucro do capital. Na quinta-feira, dia 29 de outubro, em reunião do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), em Brasília-DF., o ex-presidente Lula foi direto: “ Nós prometemos ao povo em campanha de 2014 uma coisa, e estamos fazendo outra no governo”. Com tal rasgo de autocrítica, mesmo objetivando “alfinetar” sua criatura, Lula deu luz a flacidez das ideias e dos ideais dos nossos políticos. Os programas prometidos nada valem. Os imortais Mário Lago e Custódio Mesquita compuseram, em 1937, e Orlando Silva, o cantor das multidões, encantou o Brasil com o “Nada além, Nada além de uma ilusão” Será que os nossos homens públicos estão vivendo de quimera? É doloroso, mas infelizmente é a verdade!

*Elviro Rebouças
Economista e Empresário

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