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Artigo

Paulo Afonso Linhares é jurista e diretor da Rádio Difusora AM
POR PAULO AFONSO LINHARES
O Brasil sangra. No epicentro de uma das maiores crises de sua história, a um só tempo ético-política e econômica, a sociedade brasileira se ressente da ausência de um projeto consistente de nação que seja capaz de estabelecer as balizas jurídico-políticas e materiais do seu desenvolvimento humano sustentável.
Claro, projetos desse jaez, no mundo civilizado, são necessariamente obras de partidos políticos, jamais de simples indivíduos. De rigor, aliás, o confronto político entre partidos, em linhas mais gerais, deveria ter sempre como pano de fundo a confrontação de projetos de nação, todavia, sem nunca resvalar para o enfraquecimento do país e em detrimento dos grandes interesses nacionais.
Cada vez mais se evidencia, nos dias atuais, a sobrelevação de interesses políticos e econômicos de grupos ou de indivíduos determinados em detrimento das decisões coletivas livremente manifestadas através de eleições periódicas
Lastimável é que, neste grave momento da vida desta nação, tantos apostem “no quanto pior melhor” ou invistam na impatriótica missão de jogar por terra as instituições democráticas construídas a duras penas no seio da Constituição de 1988, sobretudo, em fazer tabula rasa do primado da soberania popular como fonte por excelência poder político. Cada vez mais se evidencia, nos dias atuais, a sobrelevação de interesses políticos e econômicos de grupos ou de indivíduos determinados em detrimento das decisões coletivas livremente manifestadas através de eleições periódicas. Assim, os resultados da eleição presidencial de 2014, mesmo depois de encerrado o processo eleitoral, poderão até ser revistos, com enorme agravamento do clima de insegurança jurídica.
A despeito dos efeitos negativos que pode acarretar a instabilidade política, inclusive os seus reflexos arrasadores na economia, o mandato da presidente Dilma, a depender das manifestações dos segmentos derrotados nas eleições de 2014, poderá ser fulminado através de impeachment ou, caso isto não aconteça, com sua renúncia decorrente da enorme pressão com que fustigam o governo a partir do Congresso Nacional ou pela voz quase uníssona dos grandes veículos de comunicação de massas que a responsabilizam por todas as mazelas nacionais, mesmo aquelas que se situam numa linha do tempo historicamente distante da cena política atual.
Legítima é a indignação de uns poucos com a submissão de tantos às ações deletérias dos barões da grande imprensa, dos detentores do capital financeiro e industrial e dos adversários políticos do governo Dilma acantonados nas duas casas do Congresso Nacional. O bombardeio intenso desses segmentos não arrefecerá enquanto não atingir o objetivo de imolação da democracia e o garroteamento da soberania popular. E poderá não restar pedra sobre pedra do Estado Democrático de Direito que a sociedade brasileira, com tantos sacrifícios, ousou edificar nestas quase três décadas.
Lastimável e repetitivo cenário destes tristes trópicos.

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