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*ELVIRO REBOUÇAS
ECONOMISTA E EMPRESÁRIO

A seca que castiga o Sudeste e o Nordeste já prejudica a vida de 48,9 milhões de pessoas e leva as três maiores regiões metropolitanas do país a conviver com o risco iminente de racionamento, Estudei esta semana o problema, sob dados oficiais da ANA – Agência Nacional de Água. Há 936 municípios em estado de emergência devido à estiagem, que também pode afetar a produção industrial e a geração de energia. Quase um quarto da população brasileira já está sofrendo os efeitos da seca neste início de ano em todo o país. Levantamento feito pelo jornal carioca, com base em informações de comitês de bacias hidrográficas e governos estaduais mostra que ao menos 48,8 milhões de pessoas vivem em regiões em que os níveis dos reservatórios estão abaixo do normal e a quantidade de chuvas é menor que a média histórica. A falta d´água já tem causado, em estados do Sudeste e do Nordeste do país, racionamento de áreas urbanas, redução na irrigação de propriedades rurais e cancelamento na navegação. Caso se prolongue, a estiagem ameaça a geração de energia nas hidrelétricas e a produção industrial, segundo especialistas. Ao longo de 2014, a seca levou 1.265 municípios de 13 estados do Nordeste e do Sudeste a decretarem situação de emergência, de acordo com o Ministério da Integração Nacional – hoje, 936 cidades estão nessa situação. O procedimento, geralmente adotado por cidades pequenas e médias, autoriza os gestores públicos a pedir recursos federais para ações de socorro e serviços emergenciais. O número de municípios que sofrem impactos causados pela seca, porém, pode ser maior, já que nem todos recorrem ao expediente. No estado de São Paulo, onde ao menos 64 cidades estão sofrendo problemas relacionados à estiagem, só três tiveram o pedido de situação de emergência reconhecido pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.

RN – NOSSA  SITUAÇÃO É PREOCUPANTE – Com relação à condição hídrica do Rio Grande do Norte, pelos dados oficiais da Emparn, prevalece uma alta deficiência no armazenamento de água nos principais reservatórios do nosso semiárido, com algumas regiões em situação próximo ao colapso total no abastecimento, caso das Microrregiões do Seridó Ocidental e Oriental, Borborema Potiguar e Alto Oeste. Na mesorregião do Seridó (Caicó, Currais Novos, Acarí, Parelhas) a situação é dramática, já faltando água para a população beber. O quadro é preocupante também no Oeste potiguar, sendo Pau dos Ferros, São Francisco do Oeste, Luiz Gomes, Tenente Ananias e Antonio Martins os municípios ameaçados. Já os maiores reservatórios do Estado (Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz e Umari) apresentam uma situação volumétrica que varia de 30 a 33% dos seus volumes máximos, agora em janeiro. Não havendo inverno este ano, com a elevada evaporação, mesmo com a utilização controlada do precioso líquido, significa dizer que há uma zona de relativo conforto. Em recente reunião realizada em Fortaleza, sob os auspícios da FUNCEME, foram apresentados os parâmetros atmosféricos que influenciam diretamente na ocorrência de chuvas na região, com destaque a condição de temperatura das águas superficiais dos oceanos Atlântico e Pacífico. Essa variável, pelo lado do Oceano Atlântico apresentou durante o mês de dezembro passado uma condição ainda desfavorável, uma vez que na bacia tropical sul as águas superficiais apresentaram anomalias negativas, isto é, águas mais frias do que o normal, enquanto que na bacia tropical norte deste oceano as águas estiveram um pouco mais aquecidas do que o normal, comportamento esse desfavorável para o deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (Principal Sistema Meteorológico causador das chuvas no Nordeste Brasileiro no período de fevereiro a maio), para posições mais próximas do Nordeste. Outro comportamento não favorável a ocorrência de chuvas de modo satisfatório na região Nordeste para os próximos meses foi a condição térmica apresentada pelas águas superficiais do Oceano Pacífico que, mesmo apresentado uma redução na anomalia ainda estiveram mais quentes do que o normal .

BRASIL É O PAÍS MAIS PERDULÁRIO EM ÁGUA- Além de chuvas necessitamos de bom senso e respeito. Perdemos no Brasil cerca de 37% da água tratada, segundo relatório feito com base em dados de 2013 publicado pelo  Sistema Nacional de Informações do Ministério das Cidades. O desperdício é causado por vazamentos nos canos de distribuição, defeitos na rede, fraudes e ligações clandestinas. A narrativa  também mostrou que o brasileiro gasta, em média, 166,3 litros de água por dia, acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde: 110 litros. Os estados que mais desperdiçam água potável são os da Região Norte: Amapá, com 76,5%, e Roraima, 59,7%. Estados do Nordeste, que são afetados pela seca, também aparecem na lista: Sergipe perde 59,3% e no nosso sofrido e tórrido Rio Grande do Norte, 55,3%. As menores perdas em 2013 foram registradas em Goiás (28,8%) e no Distrito Federal (27,3%). Em São Paulo, a Sabesp informou que seu índice de perda foi de 31,2% em 2013, menos que os 34,3% que aparecem no relatório do Ministério das Cidades. Segundo a companhia de saneamento paulista, a perda com vazamentos em 2014 foi de 19,5% do volume produzido. Na Inglaterra, a média é menos de 20% de perda nos canos. No Japão, a taxa é de apenas 3%. O Ano de 2015 começou ruim para o Brasil, mas, infelizmente, ele deve piorar ainda. Para enfrentar a crise, os governos devem mostrar a gravidade da situação com a maior transparência possível para a população, além de investir na redução de consumo e do desperdício e em campanhas educativas. A primeira coisa que a gente pensa quando fala de crise hídrica é o consumo humano. Mas a falta d´água não afeta só o abastecimento, mas também a economia, a produção de energia, a produção de alimentos, as indústrias que utilizam a água como insumo. Até a saúde humana é afetada numa situação como essa. A quantidade da água se altera consideravelmente em níveis mais baixos.
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CEARÁ: MESMO COM O CASTANHÃO, SECA ATINGE 5,5 MILHÕES – No Ceará, com reservatórios de porte, onde a construção do açude Castanhão pontificou como o de maior capacidade de armazenamento com de 6,700 bilhões de  m³, o que o coloca como o maior açude para múltiplos usos da América Latina. Sozinho, ele tem 37% de toda a capacidade de armazenamento dos 8.000 reservatórios cearenses. A seca afeta 5,5 milhões de vizinhos nossos, 176 das 184 cidades do estado decretaram emergência. Os estados do Nordeste já  convivem seguidamente com os efeitos da crise desde 2012. O comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, estima que 19 milhões de pessoas estejam sendo afetadas na região abastecidas pelo rio em Pernambuco, Bahia, Sergipe, Alagoas e norte de Minas Gerais. O reservatório de Três Marias terminou a semana com 10,23% da sua capacidade, o que levou o comitê a questionar as regras para geração de energia na barragem. Além disso, a navegação e a pesca em muitos pontos do Velho Chico foram comprometidas. No Sudeste, a gravidade da situação ficou mais em evidência neste mês, já que o início do verão não trouxe as chuvas necessárias para recuperar os reservatórios. Como resultado, as três maiores regiões metropolitanas do país convivem com a possibilidade iminente de desabastecimento. Embora o governo do Rio negue o risco de racionamento, o volume morto do reservatório Paraibuna, o maior da bacia do Paraíba do Sul, que abastece a Região Metropolitana, está sendo utilizado pela primeira vez desde sua criação, nos anos 1970. O sistema Paraopeba, que abastece a grande Belo Horizonte, pode secar em três meses, segundo a Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais, afetando cerca de 2,5 milhões de pessoas. Na divisa com o Espírito Santo, o problema é no Rio Doce. Em Governador Valadares a vazão do rio está dez vezes mais baixa do que o esperado para esta época do ano – Caiu dos habituais 1.090 metros cúbicos por segundo para 110.  Fica o dito popular: “Na seca conhecem-se as boas fontes e na dificuldade os bons amigos”.

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