Cacim

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Morando na corte, em Brasília, ou contemplando o verde que chega com as escassas primeiras chuvas do ano, em Natal, Mossoró, ou Caicó, todos (ou cada um), ao analisar o quadro econômico nacional, verão que sombras pairam sobre vertentes na macroeconomia da nação, ou pelo menos muitas mazelas, que os economistas grifam como volatilidade.

Na última quinta-feira (20), o salivoso Ministro  Guido Mantega estaria embarcando para a Austrália, para participar da reunião do G-20.Tinha como intenção seguir a estratégia de Dilma Rousseff em Davos e usar o encontro das vinte maiores economias do mundo para recuperar a credibilidade fiscal perdida em meio ao forte aumento dos gastos públicos no Brasil.

A idéia seria apresentar um País com “contas ajustadas” e o diferencial dos demais emergentes, em meio ao forte “sell-off” deste grupo de nações com o cenário mais atrativo para os países desenvolvidos e o começo da retirada dos estímulos pelo Federal Reserve americano, que deve diminuir o fluxo de dinheiro barato ao País.

Contudo, a conturbada situação da economia brasileira fez o ministro rever os seus planos. O falante Mantega cancelou a sua ida a Sidney na última terça-feira.

O motivo: justamente a urgência na definição do superávit primário de 2014, as dificuldades da nossa capacidade energética, como que rondando, embora o Ministério de Minas e Energia negue a iminência de um novo apagão (você se lembra do de 2001, com FHC, caro leitor?) e os desajustes fiscais e estruturais, sempre postergados, e nunca resolvidos pelo atual governo.

Os ministérios enfrentam um impasse para a definição da meta fiscal do governo para 2014. Todo o impasse reflete o apoio presidencial de alguns ministérios que defendem um superávit fiscal primário menor em 2014: a Casa Civil e o ministério do Planejamento defendem um resultado entre 1,9% (o que foi visto em 2013) e 1,8% do PIB (Produto Interno Bruto), com o governo central assumindo a maior parte deste esforço fiscal e cobrindo rombos deixados por estados e municípios.

No outro lado da balança, o ministério da Fazenda quer um superávit primário acima de 2%do PIB, por acreditar que este número daria credibilidade à política fiscal. Conforme um assessor destacou ao jornal Folha de S. Paulo, o governo já anunciou anteriormente metas elevadas.

Contudo, elas não foram levadas a sério pelo mercado. Neste cenário, a viagem cancelada de Mantega representa muitas coisas, mas há algo que se deve destacar: o ambiente de disputa sobre a meta do superávit primário representa um cenário econômico brasileiro bastante pedregoso, o que seria bem diferente do que o provável cenário que o ministro da fazenda costuma apontar em seus discursos.

Nesta semana, o ministro já destacou que o Brasil não está entre as economias emergentes mais vulneráveis, respondendo à avaliação do Federal Reserve em que trouxe o País como um dos mais sensíveis a redução de estímulos nos EUA. Em defesa, Mantega afirmou que o Brasil é um dos países que tem mais reservas internacionais e que o País está bem posicionado em momentos de crise e que não é justa a classificação como um dos “Cinco Frágeis”.

E seguiu a sua análise destacando que, apesar do déficit em transações correntes ter avançado para 3,6% do PIB (Produto Interno Bruto), o Brasil possui resultado negativo menor do que outros países e com tendência de queda no futuro.

Provavelmente, o discurso de Mantega em Sidney, na Austrália, seguiria este mesmo tom brando e otimista, assim como o da Presidente Dilma no final de janeiro, em Davos, no Fórum Econômico Mundial, em que a brasileira buscou atrair os investidores estrangeiros e destacar as qualidades nacionais, avaliando o bom cenário para investir e o forte potencial de consumo da nação, além do compromisso com a responsabilidade fiscal do governo brasileiro. Contudo, a contar pela reação dos próprios interessados, o discurso da Presidente Dilma não parece ter surtido muito efeito.

Os investidores continuam saindo do Brasil e, mesmo dentre os emergentes, não é mais a preferência, com os “gringos” se voltando para outros mercados, como é o caso do México.

O jornal britânico Financial Times, por exemplo, destacou o “Brasil como o “grande perdedor” em Davos, com o mercado ainda bastante cético, principalmente levando em conta a falta de investimentos estruturais e o fato de que a aceleração dos últimos anos ter vindo do consumo, o que não é visto como positivo para o País.

O discurso de dona Dilma parece ter sido em “vão”. Desta forma, talvez o cancelamento da viagem do ministro Guido Mantega conte como um ponto positivo para o governo. Em meio ao cenário econômico bastante conturbado no Brasil, atuar para atingir as metas fiscais pode ser mais efetivo e recebido de forma mais positiva pelo mercado do que proferir discursos soltos sobre simples intenções do governo, sem que as falas de autoridades virem realidade.

O governo finalmente anunciou, no mesmo dia 20-quinta-feira – um corte de R$ 44 bilhões no Orçamento Geral da União deste ano, incluindo R$ 7 bilhões do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a cuja finalidade de  aceleração vem ficando no nome, já que portos, aeroportos, novas estradas, enfim infra-instrutora, andam tão devagar, quanto a transposição do rio São Francisco .

Serão R$ 13,5 bilhões de despesas obrigatórias e R$ 30,5 bilhões de despesas não obrigatórias. Em 2013, o corte total foi de R$ 38 bilhões; em 2012, de R$ 55 bilhões. Mas, por enquanto, agir pode ser melhor do que falar, principalmente quando se trata do ministro Mantega, que já apontou muitas vezes para um cenário positivo para a economia, muito diferente do que realmente se consumou.

Há bastante tempo que os melhores entendedores internacionais da Brazilian economy (expressão que armazenei na memória, por tão ouvida   do   saudoso comentarista Paulo Francis) listam Guido Mantega como o homem errado para, sentado no Ministério da Fazenda,   transpor a crise de credibilidade internacional, com drástica significação para o Brasil. E  dos seus 201 Milhões de habitantes, que se preparam para viver ainda este ano, vejam só, carnaval, copa do mundo e eleições gerais.

É muito samba, suor e ….promessas. Você leitor, está disposto a ir à Avenida? Noel Rosa apelaria, “com que roupa?”.

(*) Elviro Rebouças é economista e empresário

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