O deputado João Maia, líder do Partido Republicano (PR) no Rio Grande do Norte, está convicto de que a legenda fez a melhor escolha para as eleições de Mossoró e Natal. Prevê o sucesso nas urnas da candidata democrata Cláudia Regina e a boa performance do peemedebista Hermano Morais. O apoio do PR, em seu entendimento, fortalecerá essas postulações, e reforçará a base política da governadora Rosalba Ciarlini. A entrevista de João Maia, onde fala de forma franca e aberta sobre alianças para as eleições municipais de 2012 e o desembarque do seu partido no Governo do Estado, abre a série “Cafezinho com César Santos”. Confira.
O PR não apoiou a candidatura vitoriosa da governadora Rosalba Ciarlini, mas agora faz parte do seu governo. O que fez o partido mudar de posição?
Nós temos uma concepção de que na democracia você tem uma política, onde alguém ganha e outro perde. Pra mim, quando termina uma eleição a vida volta a ser o que ela deve ser. Eu fiz campanha para o candidato Iberê Ferreira (governador candidato à reeleição), de forma clara e aberta. Quando terminou a eleição, passou a existir um governo democraticamente eleito; e os interesses do povo do Rio Grande do Norte. Eu como político, com mandato ou não, nunca me negaria a ajudar o povo do meu Estado. Sempre digo: é muito bonito fazer oposição e o povo é quem paga a conta. Não sou contra a oposição, não é isso. Acho deve existir oposição, a imprensa livre, o povo pensando. Mas, se você se nega a ajudar o governo, a conta vai ser depositada naquele que mais precisa do governo que é o povo. Então, eu tenho uma preocupação muito forte com o que está acontecendo no Rio Grande do Norte, e acho que podemos fazer alguma coisa para ajudar e nós não temos como fazer isso se não ajudar o governo. Essa é a razão principal de nossa decisão. Essa é a minha posição e a posição do Partido Republicano.
De que o forma o PR pensa em ajudar o governo a resolver os problemas que afetam o povo potiguar?
Eu vou comentar a questão do conselho político (criado pela governadora Rosalba Ciarlini) porque ele foi muito mal entendido. Em penso que a governadora teve a felicidade de formar o conselho porque vai reunir políticos que podem ajudar o governo e o RN. O conselho tem dois ex-governadores (senador José Agripino e o ministro Garibaldi Filho), tem Henrique Alves que é líder do bancada do PMDB na Câmara, com larga experiência política e influência em Brasília. Esses quatro e mais o presidente da Assembléia Legislativa Ricardo Motta, não tem outro interesse senão servir o Rio Grande do Norte. Veja bem: nem Agripino é candidato na próxima eleição (de 2014), nem Garibaldi é candidato e, com toda humildade, eu e Henrique não precisamos de governo para pelo menos renovar os nossos mandatos. Já demos prova disso substancialmente. Então, como é que funciona isso? Eu acho que o governo herdou problemas financeiros e tem problemas de gestão, então, a nossa principal função é de falar para o governo como é que nós percebemos as falhas que existem e como é que essas falhas podem ser consertadas. O governo precisa de ter gestão, precisa de recursos financeiros e precisa de apoio para que as coisas aconteçam. Então, essa é a nossa função. Eu diria que essa é a nossa parte nobre dentro do governo.
Muitos afirmam que os partidos precisam de espaços (cargos) para atender os correligionários. O PR fez parte do governo passado e agora deve ocupar alguma secretaria. Essa prática não teria motivado a decisão?
Não fazemos política por espaços e cargos. Nunca pensamos de uma conta de retorno eleitoral ou pessoal. O negócio é o seguinte: nós temos um mandato conferido pelo povo do Rio Grande do Norte. Nós temos uma governadora democraticamente e legitimamente eleita e acho que nós precisamos sair dessa posição de certa comodidade e colocar a mão da massa, procurando ajudar o governo e o nosso povo. Essa é a minha posição e a posição do meu partido. Fizemos isso de forma clara a honesta. Nossa posição é única: servir ao povo do Rio Grande do Norte, e iremos servir ajudando o governo a sair da situação que se encontra hoje.
Mas, o PR vai ter uma participação direta na equipe de auxiliares da governadora Rosalba?
Eu conversei com a governadora e ela estava preocupada com a questão da Secretaria da Cidadania. Esse é um exemplo muito bom para se apresentar, porque a Sejuc tem a questão do sistema penitenciário, que se não for bem administrado afeta diretamente a segurança pública; e tem do outro lado a questão da Central do Cidadão, o lado bom que atende à população. Quando Fábio Holanda saiu da secretaria, a governadora me pediu para encontrar outro nome. Eu, consultando muitas pessoas, sugeri o nome de José Augusto Peres. Para você ter uma ideia, eu nunca havia o encontrado na minha vida, mas sabia de sua história, de sua independência e de sua competência; e a primeira vez que eu o vi foi na minha casa em Brasília. Na oportunidade, relatei para ele a importância de resolver essa questão da Sejuc para o povo do nosso Estado. Disse que minha sugestão não tinha ligação com a política, mas na competência reconhecida nele. Sugeri a governadora, por exemplo, que o nome para a Saúde ela pedisse ao Ministério da Saúde, porque essa é uma área que precisa ser resolvida por pessoas capacitadas. Então, essa minha posição não é de quem está atrás de um arranjo eleitoral. Vamos dá sustenção política ao governo, mas sem o interesse de ocupar espaços ou cargos.
Deputado, não há como negar que essa união é política-administrativa. Não há como separar uma coisa da outra. Então, como o PR e DEM vão caminhar nas eleições deste ano?
Já temos uma reunião definida e oficializada em Mossoró, primeiramente. Se fazemos parte do conselho político do governo, não compreendo como ficaríamos contra o partido do governadora em sua cidade. Isso é uma coisa que temos a plena consciência, muito embora a gente tenha uma visão muita clara de que a política é uma coisa local. Temos conversado com os líderes do PMDB e do DEM para definir o quadro respeitando as questões locais, ou seja, onde for possível caminhar junto a gente caminha; e onde não for possível, iremos fazer um pacto de convivência respeitosa.
São muitas as cidades que as divergências locais não permitem a convergência da união estadual. Como o sr. está tratando essas dificuldades?
É muito interessante esse processo. Temos andado todo o Rio Grande do Norte, observando onde é possível fazer o entendimento, mas respeitando onde essa união não é possível. A gente conduz isso com um cuidado muito grande de dizer o seguinte: essa aliança em cidade tal não é possível porque localmente as pessoas não querem esse entendimento. Então, vamos respeitar a questão local.
Mas, o caso de Mossoró, onde o PR fez oposição durante três anos ao governo do DEM, como foi possível o entendimento?
Nós fizemos uma oposição construtiva e competente através de quem tinha um mandato que é o vereador Genivan Vale. Oposição sóbria e competente, mas respeitosa. E vou dizer uma coisa que você, César Santos, será a primeira pessoa a saber: eu chamei o PR de Mossoró (Marcelo Rosado, Renato Fernandes, Ceissa Praxedes, Alberto Néo e Genivan) e conversamos longamente sobre a situação. Apresentei minha posição dizendo que eu não só acreditava que a candidatura de Cláudia Regina (DEM) agregava muito, por sua capacidade e competência, mas que eu tinha uma posição estadual de respeito a posição da governadora em Mossoró. Tinha divergência, mas se fosse disputado no voto a posição de ir com Cláudia Regina seria vencedora. Porém, achei que essa disputa interna não seria legal, eu tenho muito respeito pelos que fazem o PR de Mossoró. Então, pedi a decisão para mim, porque eu tenho o lombo para apanhar no que for preciso e poupo os amigos de Mossoró. Então, o apoio a Cláudia não foi uma imposição, eu só não quis elevar uma decisão por voto para não expor uma divisão dentro do partido.
Esse negócio de troca, como as pessoas dizem, não funciona. A política é local, como já havia dito. Nós tomamos uma decisão em Natal e nesta segunda-feira anunciaremos apoio ao PMDB. Vamos fazer uma reunião com os filiados, o PMDB pedirá o apoio e o PR aprovará. Cumpriremos toda liturgia, como deve ser. E o PMDB fará a mesma coisa em São Gonçalo. Portanto, não trocamos Natal por São Gonçalo ou qualquer coisa parecida. A situação de Natal, por exemplo, desagrada o DEM porque o senador José Agripino gostaria do nosso apoio à candidatura de Rogério Marinho (PSDB). Mas dentro do nosso partido as pessoas se identificam mais com o perfil do candidato Hermano Morais. Então, esse processo está acontecendo no Rio Grande do Norte inteiro.
O PR vai oferecer o vice da chapa de Hermano Morais?
Nós nem discutimos isso. A verdade é que nós decidimos o apoio e o vice será definido dentro daquelas forças que o PMDB vai agregar. A mesma coisa vale para Caicó, por exemplo. A maioria das pessoas acha que o vice do candidato Roberto Germano (PMDB) deveria ser do PR, mas eu disse: vamos fazer o programa de governo, vamos vê o que a gente pode agregar, daí, vamos pleitear a vaga de vice. Mas nós não vamos impor nomes diante das outras forças que compõem o grupo. Eu sempre digo: nós somos aliados para ajudar a ganhar, porque aliado para ajudar a perder é uma desgraça.
PMDB e PR vão ficar num palanque, DEM e PSDB noutro; isso cria dificuldade no conselho político de Rosalba ou sugere a convergência num eventual segundo turno em Natal?
É bem possível a união no segundo turno. Agora, eu vou dizer que a minha posição e a posição do senador José Agripino era de que a gente deveria se unir no primeiro turno. O deputado Henrique dizia: a gente tem mais de 20 anos que não temos candidato à Prefeitura de Natal. Por essa razão, que é legítima, não concordou com a posição minha e de Agripino. Então, esse processo se desenvolve de forma bem clara e transparente, não afetando a questão do governo.
Quais são as situações mais delicadas?
Nós temos divergências em Assu, que é muito difícil pra gente. O nosso deputado George Soares decidiu ser candidato contra o prefeito Ivan Júnior (PP), que tem a simpatia da governadora Rosalba Ciarlini. Temos problemas em Canguaretama. Em Apodi, vai ser difícil um entendimento com o PMDB. Temos pesquisas mostrando que o ex-prefeito José Pinheiro é muito forte para vencer as eleições, então, não podemos chegar pra ele e pedir que faça aliança com a prefeita Gorete (Pinto) do PMDB. É Pinheiro que tem que decidir isso. Não podemos tirar um candidato do partido, principalmente quando se trata de um político com uma história respeitável como é o caso de Pinheiro. Essa política nós não fazemos. Já disse isso ao deputado Henrique e ao senador José Agripino. Então, o que procuramos é um ponto de entendimento, fazendo uma política saudável.
Deputado, é inquestionável a fragilidade do governo natalense. Muitos observam sob o ponto de vista de incompetência administrativa, mas o sr. não acha que o maior pecado da prefeita Micarla de Souza foi não ter tido a capacidade de governar com as forças aliadas?
Olha como Micarla venceu as eleições: o PR apoiou, o DEM apoiou, o PMN apoiou, o atual vice-governador (Robinson Faria) também apoiou e o deputado Rogério Marinho, que havia saído do PSB. Nós fizemos um esforço gigantesco contra talvez a maior aliança política que já foi construída em torno de qualquer candidatura, porque a candidata Fátima Bezerra tinha o apoio do presidente Lula, da governadora Wilma, do prefeito Carlos Eduardo, do senador Garibaldi e o deputado Henrique. Era uma aliança tecnicamente imbatível, mas nós conseguimos ganhar as eleições. Aliás, ela conseguiu porque quem ganha eleição é o candidato. Depois daí, Micarla foi se isolando, perdendo o foco, perdendo o rumo. Não é que ela não teve apoio, nós tínhamos a vontade imensa que o seu governo desse certo. O fato é que Micarla se transformou num fenômeno político de referência nacional, de como vai se destruindo politicamente, administrativamente e popularmente. Agora, do ponto de vista pessoal eu gosto de Micarla, acho ela uma pessoa boa. Mas é uma administradora meio perdida e conseguiu construir uma imagem que é pior do que a realidade. Geralmente o governante consegue construir uma imagem melhor do que a da realidade, ela fez o contrário.
Fonte: www.defato.com
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