Por Klívio Loreno Raulino Tomaz
Quase
todo dia no meu trabalho tenho que repassar a alguém o destino de seu
cão quanto ao sacrifício ou não, baseado no diagnóstico da Leishmaniose
visceral, mais conhecida como Calazar. Esse parecer dever ser tomado
considerando, primariamente, um bom exame clínico, exames sorológicos e
parasitológicos do animal. Existem também outras possibilidades
diagnósticas mais aprofundadas.
O
fato é que os animais que fazem parte dos inquéritos públicos apenas
passam por exames de sorologia que em nada garantem que sejam portadores
da enfermidade. Aí mora um grande problema.
É
frequente a procura por exames de leishmaniose no hospital veterinário
da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) de animais que já
trazem um histórico de exames que se apresentaram como reagentes em
inquéritos públicos procedidos pela prefeitura de Mossoró. Essa
problemática deve ser patente em outros municípios.
Esses
exames não são provas cabais que o paciente apresenta a enfermidade.
São procedidas coletas simples, por pessoas sem habilitação para
examinar o cão, para unir os dados clínicos com a sorologia para se
tentar chegar ao diagnóstico definitivo.
O
retorno dos resultados desses exames é demorado, e com poucas
explicações, nos casos ditos positivos, é exposta a necessidade de
sacrifício do animal. Isso mexe com muitas famílias.
Por
vezes testemunhei exames sorológicos confrontantes de diversos
pacientes. Tanto entre exames públicos e privados, como privados entre
privados, e até confronto entre exames do mesmo laboratório. Fica claro
que podem ocorrer erros desde o envio da coleta até a manipulação nos
laboratórios.
Outra
possibilidade, bem discutida, são as possíveis reações cruzadas com
outras patologias que podem dar um cão como positivo para calazar
enquanto tem outra doença. Isso merece atenção, e por isso, todo animal
que atendo com primeira sorologia reagente, sem nenhum sintoma, procedo a
um exame parasitológico. Este último é direto, de rápido resultado, e
de fácil execução. É bom deixar claro que nem todos os infectados
apresentam sintomas. Isso justifica mais ainda uma maior investigação.
Levanto
essa questão do diagnóstico para enfatizar que o trabalho em massa de
inquéritos sorológicos que o poder público faz para decidir a vida de
inúmeros cães é passível de erros e necessita de mais critérios para
sacrifício. Muitos animais podem morrer sem a menor necessidade.
O
sacrifício nessas condições não garante que está morrendo um cão
verdadeiramente infectado. Esse trabalho apenas justifica uma triagem
para exames mais aprofundados nos casos assintomáticos.
O
poder público tem que estar munido para certificar ao cidadão que seu
animal é realmente portador dessa doença. Caso o problema seja recursos
humanos, contrate. Caso seja a falta de estrutura, estruture. O que não
pode é ocorrerem sacrifícios sem embasamento clínico completo.
Você
que cria seu cão, fique alerta. Faça exames regulares de leishmaniose.
Caso seja confirmado que seu cão não está infectado, vacine. Utilize
coleiras repelentes. Use também o spray repelente. Isso cabe a você,
proprietário.
Espero
que os sacrifícios sejam eficazes em diminuir a incidência de calazar.
Que pena que não noto isso em consultório. Será que realmente funciona?
Klívio Loreno Raulino Tomaz é médico veterinário (Hospital Veterinário da Ufersa)
*Extraído do Blog do Carlos Santos
O Brasil mata e o mundo trata.
ResponderExcluirO Brasil não trabalha prevenção e foca nas mortes como medida primeira de controle, sendo o correto o controle do vetor.
Trabalhos científicos comprovam que são frágeis as evidências que matar controla a expansão da doença.
Então não consigo entender por que o Brasil insiste em uma política pública ineficaz e ultrapassada....
abs
Vivi Vieri
Postar um comentário